Ao longo da gravidez, fui ouvindo uma familiar contar sempre a mesma história: conhecia uma senhora que se via perfeitamente não ter sido feita para ser mãe porque numa ida ao hospital, já no final da sua gravidez, tinha dito aos médicos "Se tiverem de escolher entre mim e o bebé, salvem-me a mim!". Pessoa egoísta, incapaz de pôr o filho em primeiro lugar, bem se via que não tinha nascido para aquilo. E eu remetia-me ao silêncio e comentava depois com o Jack que nem me parecia assim tão estranho. Embora adorasse estar grávida e odiasse pensar que algo de mal poderia acontecer à Pequena Melancia, a verdade é que se tivesse de escolher entre a vida de uma de nós, queria ser eu a sobreviver. Passaria por uma dor imensa por perder um bebé mas teria o Jack e juntos poderíamos ter mais filhos. Por isso, não dizia nada quando ouvia falar novamente da egoísta senhora e achava que quando desse à luz o sentimento mudaria.
Mas não mudou. A Mini-Tété nasceu e eu apaixonei-me por ela. Mas continuei a sentir que se tivesse de escolher, preferia ser eu a viver. Viveria uma dor horrível, tinha perfeita noção disso, mas ainda assim era o que eu sentia. Até que a semana passada, em conversas com a bebé mais bonita do mundo lhe disse "Daria a minha vida por ti", e parei espantada com aquilo que tinha dito. E percebi então que sim, que neste momento, se me dessem a escolher, eu preferia que salvassem este pequenino leitão de quase 4 meses.
Eu nunca fui aquele tipo de mulher que acha que quando os filhos nascem se sente logo o maior amor do mundo. Acredito muito mais que o amor cresce e que da mesma forma que agora amo mais o Jack do que há 10 anos ou que o ano passado, sei e sinto que a cada mês que passa gosto cada vez mais desta minha bebé e que ela ocupa um lugar cada vez mais importante na minha vida e no meu coração. E acho que ouvir e ler coisas que contrariem isto (embora aceite perfeitamente que haja quem sinta este amor muito mais cedo) serve apenas para aumentar o sentimento de culpa de grávidas e recém-mamãs que não sentem logo que foram atropeladas por um camião cheio de amor.
(Por acaso, medicamente a vida da mãe vem em primeiro lugar - pelos motivos que referiste.)
ResponderEliminarEu sei disso, mas a questão é que parece mal uma grávida não querer que o seu bebé seja o sobrevivente, mesmo que medicamente essa escolha não fosse uma opção a considerar. :)
ResponderEliminarExiste um estigma muito grande em relação às mulheres e à maternidade. A grande crença é que as mulheres devem ser mães e ai daquela que disser que não quer ser mãe; ainda há dias uma colega da minha idade olhou-me de lado quando eu disse que não fazia questão de ser mãe. Eu respondi-lhe que nem todas as mulheres nascem para ser mães e é verdade: porquê forçar uma mulher a ser mãe, especialmente pelos padrões da sociedade, se ela não tiver capacidades emocionais, psíquicas, ou financeiras para o ser? Eu sou uma pessoa com muito pouca paciência; adoro os meus sobrinhos, mas não aturo birras, ou tenho paciência para educar bem uma criança. Eu não quero ser aquele tipo de mãe que está sempre a gritar com a criança, mesmo sem o querer, que está sempre irritada por a criança não estar a fazer o que a mãe quer que faça. Até eu sentir que posso ser uma mãe minimamente boa, a maternidade não me passa pela cabeça. Até pode ser que daqui a uns anos mude de ideias, acontece a todo o momento, mas por agora mantenho o meu argumento: nem todas as mulheres nasceram para ser mães, nem devem os seus filhos sofrer por isso, e não devem ser criticadas.
ResponderEliminarExiste um grande estigma em relação a tudo o que seja mulher e maternidade: primeiro é suposto que queiras ser mãe, depois é suposto que o queiras ser na idade certa e livra-te de engravidar muito cedo ou muito tarde, depois tens de sentir enjoos, e tens de te sentir pesada, e tens de dormir mal, e tens de vomitar e mais uma série de coisas porque senão nem parece que estás grávida, mas livra-te de te queixares de alguma coisa porque a gravidez é um estado de graça cor-de-rosa, depois tens de amamentar mas não pode ser até muito tarde, e mãe que é mãe acorda de duas em duas horas mas ai de ti que te queixes que estás cansada, e blá blá bá....O melhor é cada um fazer o que quer e não dar justificações a ninguém. :)
ResponderEliminarCaramba, obrigada, identifiquei-me!
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