No sábado, os meus pais chegavam a Paris para uma pequena visita. Geralmente, apanham o comboio até nossa casa pois nem sempre o Jack está disponível para os ir buscar e eu não me entendo nas estradas até ao aeroporto, mas nesse dia decidimos surpreendê-los e aparecer de surpresa no aeroporto Charles de Gaulle com a Mini-Tété. Chegámos uns minutos mais cedo, a contar ter ainda tempo de ver em que porta sairiam eles, mas mal saímos do elevador na zona das chegadas, demos com uma barreira de polícias a mandar-nos para a esquerda, e um técnico a começar a bloquear os elevadores. Admito que nem liguei muito e, indo para a esquerda, parei para ver num ecrã se já apareceria a informação que eu queria. Mas os polícias avançavam, pedindo-nos para continuar a andar. As lojas fechavam, toda a gente continuava a ser encaminhada pela polícia ao longo do corredor até finalmente chegarmos a uma zona de partidas. Percebi nessa altura que estava um ambiente estranho, um clima de grande tensão, muito mais do que alguma vez vi (e não foram poucas) quando se trata de bagagem abandonada. Olhei para o Jack e vi-o de sobrolho franzido, com a Mini-Tété ao colo, e percebi que ele também estava a reparar que algo estava diferente. À nossa volta, as pessoas perguntavam a funcionários como se encontrariam com quem estaria a sair dos aviões e era explicado que a zona das chegadas estava também bloqueada para os passageiros, pelo que não haveria maneira de ninguém sair. Na rua, a estrada estava bloqueada e não havia táxis para quem se queria ir embora. Pareceu-me ouvir dizer o piso inferior estava também fechado. Um ou outro funcionário explicava tratar-se de uma bagagem abandonada, o que não duvido, mas realmente nunca vi um aparato como este. E pela primeira vez num aeroporto senti medo, tinha ali a Mini-Tété e não queria que nada lhe acontecesse. Comentei com o Jack que se algo nos fizesse começar a fugir, correríamos os dois para a saída mais próxima de forma a não nos separarmos. Acho que fiquei ainda um bocadinho pior quando uma funcionária nos pediu para nos afastarmos um pouco mais por termos uma bebé. Fomos depois informados que os passageiros bloqueados nas chegadas seriam reencaminhados para aquela zona das partidas. O tempo foi passando e de repente tudo foi desbloqueado e pudemos ir até à porta por onde os meus pais sairiam minutos depois. Segundos antes, o meu pai recebia uma mensagem de Portugal "Ainda conseguiram aterrar em Orly??" e a minha mãe recebia um telefonema da minha avó que estava a ver as notícias sobre o atentado. Estava explicado o clima de tensão no aeroporto Charles de Gaulle depois do que se tinha passado nessa manhã em Orly. Mas, aqui entre nós, só acalmei o coração quando nos afastámos do aeroporto, com a Mini-Tété em segurança na sua cadeira, à conversa com os avós.
Não consigo imaginar o que seja :( sei que é uma realidade e todos os dias vemos isso nas notícias. Dá medo. E mesmo vivendo neste cantinho que parece esquecido do mundo dá medo. Dá mesmo.
ResponderEliminarO facto de Portugal parecer mesmo um cantinho esquecido dá outra sensação de segurança. Comento muitas vezes com o Jack que se sentir que não conseguimos viver aqui em segurança, faço as malas e regressamos a Portugal. Esta sensação de que realmente pode acontecer porque pode efectivamente pois já aconteceu dá medo.
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