27.8.12

Dinheiros


Sempre fui muito ciosa do meu dinheiro. Ciosa até demais, segundo os meus pais. Não faço contas todos os dias ao dinheiro que tenho, mas gosto de confirmar ao final do mês que estou com mais dinheiro do que no final do mês passado, pois isso significa que poupei algum (claro que nesta fase de desemprego tal não tem acontecido, para desespero do meu coração sensível). Sou contudo péssima em contas por pagar: nunca me lembro dos 50 cêntimos que emprestei ou até do euro que estou a dever. Pequenas dívidas não é comigo: se vos devo dinheiro, lembrem-me. Sou também apologista de que cada um sabe das suas contas e não tem de prestar contas a ninguém. Em casais prefiro contas separadas pois assim cada um poupa o quer ou consegue, gasta o que quer, sem ter o outro a opinar sobre o dinheiro gasto num colar ou num acessório para a máquina fotográfica. 
Aos 10 anos comecei a ter semanada e a regra dos meus pais sempre foi simples: podes gasta-la toda em chocolates ou no que te apetecer mas se depois não tiveres dinheiro para almoçar/lanchar ou para comprar as folhas de teste (lembram-se disto??) temos pena. Ou seja, desde que haja dinheiro para as responsabilidades, o que fazemos com o excedente cabe a cada um. E eu defendo mesmo esta ideia, ao ponto de ficar enervada quando me dizem que sou rica porque compro livros ou vou ao cinema. Oh, que caraças, pois compro e vou (e resmungo sempre quando vejo o preço), mas antes paguei a renda de casa, enchi a despensa, paguei as contas da casa, pus gasolina no carro e vi quanto me sobrava. E opto por não ir para a noite gastar dinheiro, não vou a festivais de Verão, não vou de férias para as Caraíbas, não vou aos sítios mais in do Algarve e não faço jantaradas em casa todas as semanas para 20 pessoas. Ou seja, cada um gasta o dinheiro como quer e nós não temos nada a ver com isso. Se uma amiga minha quiser gastar o ordenado em vernizes, eu posso achar uma tolice mas não é nada comigo.

Contudo (já estava a divagar), para mim as contas que as outras pessoas fazem ao dinheiro interessa-nos e temos a ver com elas quando nos pedem dinheiro emprestado. Não falo de 2 ou 3 euros. Falo de quantias maiores. Porque se empresto 50 euros, 100 euros, 200 euros (sim, eu sou muito ciosa do meu dinheiro mas não sou apegada a ele ao ponto de não o emprestar a um amigo que precisa) não gosto de ver essa pessoa a gastar o ordenado em saídas à noite, em artefactos para o carro, em roupas caras, em cervejas para os amigos enquanto me fica a dever o dinheiro. Aí lamento muito mas tenho muito a ver com o vosso dinheiro. Uma das coisas que mais gosto na minha relação é que sempre fomos bastante certos com as contas e nunca ficámos a dever nada um ao outro. E se o meu próprio namorado já abdicou de coisas que gosta para me devolver dinheiro emprestado, então lamento mas os amigos têm mais do que essa obrigação. Empresto, mas atenção: com o meu dinheiro ninguém brinca. Contas feitas, podem voltar a fazer o que quiserem do ordenado que já não me diz respeito. Simples, não? Quem concorda?

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