22.10.14

Visões diferentes

Há uns meses o meu pai falava-me da sensação de "mortalidade" com que andava. Não o entendi, mas achei que o Jack o perceberia melhor pois também nele a sensação de "mortalidade" se instala. Sei disto por conversas que temos os dois, quando fazemos planos para o futuro, e em que a nossa visão é tão diferente. O Jack tem 31 anos, para ele JÁ tem 31 anos e ainda não alcançou na vida tudo o que quer, nem tem tudo o que deseja. Sente o tempo a escapar-se entre os dedos, acha que se não tiver já certas coisas então já não vai a tempo de as aproveitar, que a vida é agora, hoje, neste momento, que o amanhã já é tarde, e que daqui a dez anos já será tarde para muita coisa. Eu tenho 30 anos, para mim AINDA só tenho 30 anos, ainda tenho tantos anos pela frente, ainda nem a meio da minha vida vou (sou uma optimista!), não há pressa para ter certas coisas, para viver certas coisas, confiante que estou que se as viver agora, o que viverei daqui a dez anos? Não vivo um dia de cada vez a achar que é o último (pois se ainda me esperam tantos dias), faço planos a longo prazo, não tenho pressa de viver da mesma forma que nunca tive. Saboreio a vida, confiante que a saborearei ainda durante muito tempo.

Mas tenho medo mais medo da morte que ele. Tenho medo que ele me seja roubado demasiado cedo, tenho medo que os meus avós partam sem eu estar preparada, tenho medo que os meus pais desapareçam quando ainda preciso tanto deles. Tenho medo que algo me aconteça e eu não esteja aqui para apoiar aqueles que mais amo e de lhes causar um sofrimento enorme que eles não merecem. Tenho medo de ter um filho e não o poder ver crescer (e se já penso assim, então quando tiver um vou viver em constante terror), Tenho medo um medo da morte imenso porque ainda tenho tanto para viver com aqueles de quem gosto. Porque ainda só tenho 30 anos.

2 comentários:

  1. Que "engraçado ": sou uma mistura de Tété e de Jack. A sensação de mortalidade é super forte em mim, embora não viva todos os dias como o último. Tenho uma urgência de fazer as coisas porque o medo da morte está muito presente, não só dos que mais amo, mas como da minha também.
    Felizmente não sou, e acredito que também não sejas, obcecada com a morte, isto é, pensar constantemente nisso. Há muitas pessoas que assim são e isso não é vida

    ResponderEliminar
  2. Eu não tenho urgência em viver nada. Não sinto essa necessidade de ter as coisas já, agora, porque daqui a um ano pode já ser tarde demais.

    Mas todos (sim, todos!) os dias de manhã, quando o Jack sai de casa para trabalhar, eu penso "Meu Deus, faz com que ele regresse inteiro e bem a casa mais tarde". O medo que ele tenha um acidente, que caia, que se magoe assola-me todos os dias. Da mesma forma quando sei que os meus pais vão fazer uma viagem de carro. Ou o meu irmão.
    Não vivo obcecada com isto e se ligo ao Jack e ele não me atende não penso logo que aconteceu alguma coisa. Mas também sei que eu própria não me ponho em risco com medo que algo me aconteça e que faça sofrer os outros. Por exemplo, estou pronta a pagar uma pequena fortuna para ir a Portugal no Natal de avião em vez de ir de carro como o Jack gostaria, pois sei que é mais seguro.

    É estranho: ele tem uma noção maior de mortalidade, eu tenho uma noção maior da morte. :)

    ResponderEliminar

Digam-me coisas. :)