4.4.16

Não falar para não ouvir

Quando decidi não amamentar, decidi também que ninguém tinha nada a ver com isso e que me não me justificaria perante ninguém. Não queria conselhos, nem dicas, nem críticas nem perguntas de forma alguma, por isso, a razão foi apenas explicada aos mais próximos, ao círculo de pessoas que lidavam com a Mini-Tété mais frequentemente até porque havia a necessidade de lhes explicar o cuidado a ter na forma como se dava o biberão devido à pequenita não saber bem como o beber. Mas depois distraímo-nos e meses depois já dávamos por nós a explicar a situação a quem apenas víamos muito de vez em quando e raramente. E comecei a ouvir o que não queria. Acho que o que me fez atingir o limite foi terem tentado adicionar-me a um grupo de aconselhamento de amamentação, para que eu pudesse tirar as minhas dúvidas e insistirem que ainda seria possível regressar à amamentação fazendo um esforço. Mas eu nunca disse que queria fazer um esforço ou regressar à amamentação! E nesse dia disse ao Jack "Acabou-se! Não quero mais explicações sobre este assunto a ninguém!". A partir daí, quando alguém me via preparar o biberão ou simplesmente se lembrava de perguntar "Não amamenta?", a resposta era simples "Não". E o assunto morria ali, pelo menos para mim. Havia sempre quem insistisse "Ficou sem leite?", "Não", e pimbas, acabava-se o assunto. Reparei que a partir dos 3-4 meses a preparação de um biberão já não choca ninguém porque tenho a sensação que as pessoas depreendem que a mãe amamentou o bebé os primeiros 3 meses e que depois passou a biberão, o que parece que não é tão grave nem motivo de forca como alimentar a biberão desde o nascimento.

Estava portanto convencida que a fase das críticas alimentares alheias tinha terminado. Enganei-me. A Mini-Tété iniciou-se nas sopas e frutas há 15 dias e temos feito o esforço para que esta refeição sólida seja dada em casa, sem espectadores, de forma a não ouvirmos o queremos nem pedimos. Mas mesmo sem estarem presentes, as pessoas comentam. E comentam ainda mais quando caímos no erro estúpido de fornecer informação porque a) tendo informação, podem usá-la para criticar ainda mais coisas e b) assumem que se os pais dão informação é porque estão literalmente a pedir, a exigir até, a suplicar de joelhos que lhes sejam dados conselhos e críticas na maior dose possível.

O facto de estarmos em França moeu-nos um pouco a cabeça porque aqui a introdução aos sólidos é feita de forma diferente. Em Portugal começa-se por um puré de, por exemplo, batata, cenoura e cebola e depois vai-se acrescentando e substituindo legumes, com dias de intervalo para ver a reacção do bebé. Aqui inicia-se por um puré de apenas um legume (só cenoura, por exemplo), depois um puré de outro legume (só courgette, imaginemos) e apenas mais tarde iniciam as misturas de legumes. Nós optámos pela maneira portuguesa e eu esqueci-me completamente deste facto quando a semana passada dei por mim à conversa com uma francesa. Bom, fiquem a saber que toda a gente naquele estabelecimento me deve achar uma mãe terrível. Uma mãe que ousou dar à sua bebé purés com batata (sacrilégio!), cenoura (acho que esta passa), cebola (para a forca!), alho francês (devia ser queimada viva!), batata-doce (devia morrer a agonizar!) e mais uns quantos, enfim, toda uma série de venenos mascarados de legumes. Um horror de mãe que devia fazer apenas purés de um só legume, juntar (pouco) sal e especiarias (!!!) e um queijinho "A Vaca que ri" porque os bebés adoram o sabor que dá aos purés! Uma péssima mãe que se lembra de dar pêra e maçã cozidas quando devia dar apenas cruas! Melhor, devia dar daqueles boiões já feitos de super-mercado porque os bebés adoram aquilo (e pelos vistos sou mesmo má mãe quando disse que nem sequer temos desde boiões em casa)! E quando já toda eu estava vermelha e farta daquela conversa, fiquei a saber que não tenho salvação se não baptizar a Mini-Tété já este Verão. E saí dali furiosa, não com a francesa, mas comigo mesma porque se eu não tivesse dito o que damos a comer à Mini-Tété não teria ouvido tudo aquilo. Enquanto pais estamos sempre a aprender e eu tenho mesmo de aprender a estar calada. Ou então a mandar dois pares de berros para calar os outros.

3 comentários:

  1. Não tenho filhos, mas parece-me que da um puré de fruta, feito efetivamente de fruta é bem melhor do que um boião do supermercado. Mas isso sou eu.
    E qual é o problema do puré com os legumes? Valha-me deus a criança vai ficar mal se comer uma mistura de dois legumes? Menos um bocadinho. Há gente que realmente só ignorando.

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  2. Sílvia

    Não sou uma fanática que odeia os boiões (estou até a pensar comprar um para o dia de viagem a Portugal) mas acho que realmente qualquer pessoa com dois dedos de testa e bom senso sabe que esses boiões têm mais do simples fruta cozida em água e que esta alternativa feita em casa é bem mais saudável.
    Os purés...pois, consideram a batata, o alho francês, a cebola, etc, muito pesados para o bebé (mas queijo já se pode dar, vá-se lá entender), e que coitadinhos deve ser um legume de cada vez. Não tenho nada contra, é o método deles, mas não me venham com sermões como se os portugueses andassem há anos a torturar as crianças com a sua maneira de introduzir os alimentos. Enfim, mas aqui, parece qualquer coisa traumatiza as criancinhas. Até uma batata no puré. :P

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  3. Querida Tété,

    Pois é, muitas pessoas parecem não ter uma vida própria, tanto que adoram meter-se na vida dos outros.

    Tive que aprender tanto!!!!!

    Enquanto os filhos são bébés o grande tema é a alimentação adequada, mais tarde o grande tema é a educação....

    Acredite que essa etapa vai ser ainda mais difícil (e não me estou a referir à bébé....)

    Mas o mais importante é realmente cada um(a) sentir-se bem com aquilo que faz.

    E para resumir: acho muito bem o seu plano de alimentação da Minitété.

    E adicionar queijo, mas achar que 2 legumes ao mesmo tempo seja qualquer coisa de outro mundo - essa é mesmo boa!!!

    Beijinhos
    Nanda

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