30.1.18

Super Nanny


Vocês já sabem como é que eu sou, sempre a falar dos assuntos polémicos quando já metade do país se começa a esquecer deles. Gosto de ter tempo de pensar, gosto de ler as diversas opiniões, gosto de ir formando a minha opinião antes de a escrever, e como ainda por cima estive de férias, só agora escrevo aqui sobre o programa.

Depois de já ter rebentado o escândalo e curiosa por saber de que falavam, tentei ver o primeiro episódio. Não consegui. Ao fim de alguns minutos e já com os nervos em franja, desliguei a televisão. Custou-me imenso ver uma miúda, que não é um bebé que não sabe ainda o que é uma câmara, a chorar a implorar à mãe para que fossem para o quarto desta de forma a fugir das câmaras. Custou-me vê-la, já no quarto da mãe, a chorar por continuar a ser filmada. Custou-me ver uma estranha e uma câmara a assistir ao banho de uma miúda, que não é um bebé e que tem já com certeza alguma noção de privacidade e intimidade suficiente para se sentir incomodada com estas presenças. Caramba, se me filmassem quando eu não quisesse ou me filmassem no banho sem eu conseguir impedir, acho que mesmo eu me desfazeria em lágrimas e já tenho mais de 30 anos.

Não digo que ela não seja mal-educada, que não lhe faltem regras, que não ultrapasse uma série de limites dos quais nem se devia aproximar. Acho até que a mãe, ao procurar ajuda, assumiu também ela a sua cota parte da culpa, o que não deixa de ser de louvar pois há muitos pais de crianças mal-educadas que descartam qualquer responsabilidade sua e que se desculpam com o "feitio" da criança.
Não acho é que recorrer a este tipo de programas seja a única e última solução a que poderiam ter recorrido. Basta um passeio pela internet, uma pesquisa com as palavras-chave certas, para se encontrar toda uma série de dicas de educação. É verdade, são dicas generalizadas, não adequadas a 100% a casos específicos, mas também não acho que seja com uma ou duas visitas de uma psicóloga lá a casa, que são desenhadas regras mais específicas para cada caso. Aliás, segundo li (porque não cheguei a essa parte em nenhum dos programas), os métodos da Super Nanny foram semelhantes em ambas as famílias, o que significa que há efectivamente um conjunto de dicas "generalizadas" que pode funcionar na grande maioria dos casos.
Atenção que não condeno de todo a procura de soluções e consigo até ver a utilidade que um programa deste tipo poderia ter. A verdade é que não nascemos a saber ser pais, não há um grande livro de instruções e facilmente se cometem erros por desconhecimento. E há uma série de comportamentos a ter na educação de uma criança que a mim me podem parecer muito óbvios e intuitivos mas que à minha vizinha do lado podem nunca lhe ter passado pela cabeça e é preciso que alguém lhe diga ou que ela procure essa informação. Este tipo de programas pode ter dicas que fará alguns pais encolher os ombros achando que tudo o que foi dito é do mais básico possível mas que a outros pais dará ideias e fará pensar.
O problema passa contudo pela exposição das crianças, sobretudo quando estão a fazer algo tão condenável ao olhos de muitos. Não estão a cantar, não estão a representar, não estão a sorrir para as fotografias. Estão a fazer birras, estão a ser mal-educadas, estão a desrespeitar os pais. E não são só estes que estão a assistir, são milhares de pessoas. Eu e o meu irmão fizemos birras como qualquer criança do mundo mas conseguíamos ser perfeitos anjos perante os vizinhos, na escola, em casa de outros familiares...Foi-nos dado o direito de decidir onde expor as nossas frustrações, caprichos, zangas, desacordos. E é este mesmo direito que é tirado às crianças que aparecem neste género de programas, tornando-os algo a evitar (porque mais do que dicas preciosas, as crianças e a sua privacidade têm mais importância).
Eu compreendo que haja muitos pais que não sabem lidar com as birras, eu própria admito que tenho um medo enorme delas e de como lidar com elas, mas por isso mesmo já comprei livros, pesquiso na internet, procuro informação que me ajude e procuro aplicá-la. E se eu posso fazer isto, acho que qualquer pai que consiga recorrer à internet para se inscrever num programa, também consegue recorrer a ela para se informar.



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