18.5.18

Pedir autorização para mudar a fralda?

Quando a Mini-Tété tinha semanas de vida, os meus pais tiveram um ataque de riso quando me ouviram fazer perguntas à pequenina, explicar que ia aquecer o leite e outras conversas parecidas. Na altura ouvi "Até parece que estás à espera que ela te responda!". Ri-me, expliquei que obviamente sabia que a Mini-Tété não me ia responder (não estava assim tão tolinha) mas que me fazia sentido dizer e perguntar as coisas porque um dia ela haveria de perceber e também porque assim ia aprendendo a entoação das coisas que eram ditas, para mais tarde entender melhor o que eram perguntas, o que eram explicações, o que eram afirmações, e já agora aprender como se comunica....Além do mais tinha lido que descrever o que se estava a fazer e conversar com o bebé era a melhor maneira do bebé aprender as palavras, por isso, ainda mais sentido fazia começar logo desde cedo.

Coincidência ou não, já se sabe que a Mini-Tété começou a falar muito cedo. E não é apenas falar,  pois como ainda no outro dia ouvi, a verdade é que com 2 anos, ela explica-se, tem raciocínios e consegue verbalizá-los. Eu acho que o mérito é quase todo dela mas deixem-me acreditar que há ali uma pequena percentagem que se deve às horas de conversa (vá, monólogos), explicações e afins que eu tive com ela.

E estou a escrever isto porque tenho andado a ler diferentes blogues a comentar as palavras de uma especialista em educação sexual que afirmou que se deve pedir autorização a um bebé para lhe mudar a fralda, de forma a começar a ensinar noções de privacidade e intimidade. E como andei a espalhar a minha opinião por diferentes caixas de comentários, achei que mais valia escrever aqui, no meu próprio blogue, aquilo que penso sobre o assunto.

A ideia de perguntar a um recém-nascido "Deixas-me mudar-te a fralda, por favor?" parece, no mínimo, roçar o ridículo. Mas informar à medida que se vai crescendo, com um "Agora vamos mudar a fralda para ficares mais fresquinho" é meio-caminho andado para não virem a existir birras para mudar a fralda, porque o bebé (que ganha capacidade de compreensão mais cedo do que aquilo que mostra) vai perceber para onde vai e o que vai acontecer. 
A um bebé de um ou dois anos, é perfeitamente possível informar ou perguntar antes de se ir mudar a fralda. É lógico que se a criança disser que "não" não vamos pensar "Oh, está bem, se não queres, não mudamos", mas sim aproveitar o momento para explicar o porquê de ser necessário mudar a fralda, de forma a que compreenda e colabore, e para a próxima a probabilidade de ela contestar é menor. Não é estar à mercê do bebé e da sua resposta porque no fundo a fralda é mudada quando os adultos querem.
E quem diz fralda, diz tudo o resto.  Ainda há muito o hábito de passar o dia a despejar ordens a uma criança (vai vestir o pijama!, vai lavar os dentes!, vamos mudar a fralda!, come a sopa toda!, arruma os brinquedos!) quando se nos fizessem a mesma coisa estaríamos a enervar-nos ao fim de umas horas. Da mesma forma que se desliga a televisão abruptamente e se manda para a mesa (como se aceitássemos que alguém nos fizesse o mesmo...) ou se manda abruptamente de parar de brincar e ir calçar os sapatos, o que geralmente leva a birras que seriam desnecessárias se se agisse de outra forma.
Sou uma absoluta defensora da comunicação desde cedo, desde recém-nascidos, com perguntas e explicações, para que o bebé compreenda que há razões para se fazerem as coisas, para que perceba como se comunica, para que sinta que há respeito, para diminuir as probabilidades de birras, por isso, não faço ideia se pedir autorização para mudar a fralda ensina o que é a privacidade e intimidade, mas acredito que perguntar e informar que se vai fazê-lo, ajuda a obter a colaboração do bebé e ensina a comunicar.

6 comentários:

  1. Eu também sou da opinião que comunicar com o bebé desde cedo ajuda e incentiva a que venham a falar mais cedo e melhor. Acho que há sim o nosso dedo nisso :) assim como falar "normal" para o bebé em vez de infantilizar também ajuda a que fale mais explicado pois aprende as palavras como elas são na realidade. Por acaso nunca fui muito de "bebezar" o que dizia ao meu bebé.
    Em relação a pedir autorização para mudar a fralda ao bebé também acho demais. Faço exatamente como dizes, vou dizendo o que vai acontecer e o porquê de termos de mudar a fralda e aos poucos ele vai percebendo.

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  2. Sim, abebezar as palavras também não ajuda. Aqui sempre foram ditas as palavras como elas são (carro em vez de pópó, por exemplo), mas como naturalmente uso muitos "inhos" (pratinho, cafézinho, bocadinho, sopinha, etc) com a Mini-Tété tive de ter o cuidado de não o fazer tanto (mas ela aprendeu umas quantas palavras assim, admito. :D).
    Mas é verdade que usar as palavras correctas ajuda muito. No outro dia na farmácia, a Mini-Tété perguntou à frente da farmacêutica, onde é que estava "o medicamento". A farmacêutica até abriu a boca, ahah. :D

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  3. O que ouvi as minhas professoras de pediatra a dizerem (não para mudar fraldas, mas para coisas como palpar a barriga, auscultar, etc.), e que para mim faz sentido, não era a de "pedir autorização" - porque se a criança disser que não vamos acabar por ter de o fazer à mesma, mas sim de comunicar o que vamos fazer (e claro que explicar, se possível, é bom :) )

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    1. No fundo, muito do que falamos aqui se poderia traduzir por "respeitar a criança como se fosse um adulto". Eu pelo menos gosto de estar no médico e que me seja dito o que vão antes de me tocarem. No dentista então peço sempre antes para não fazerem nada sem me dizer, acho invasivo estar ali de boca aberta com o dentista a pôr e a tirar coisas, brocas a funcionar e a pôr água de repente, sem prevenir antes. :)

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    2. Sim. a questão que eu (e as profs :P) estávamos a dizer é que não vale a pena - aliás, nem faz sentido! - pedir autorização se no fim de contas vais fazer aquilo e pronto. Porque se eu te perguntar se te posso ver os ouvidos (numa consulta em que isso faça sentido, claro), tu provavelmente dirás que sim; e se disseres que não, estás no teu direito de autonomia (mesmo que, nalgumas situações, daí possam vir consequências negativas para ti...)e o médico terá que respeitar a tua escolha. Mas se se fizer a mesma pergunta à Mini-Teté, em circunstâncias semelhantes, se lhe pedir autorização, ela possivelmente dirá que não - porque não sabe que é importante, porque está cansada, porque dói e tem medo, porque não conhece a pessoa, porque não lhe apetece ou só porque está na fase do "não!" - e, porque é o melhor para ela, vai-se acabar por ver os ouvidos de qualquer forma, aceite ela a explicação ou não. Pode-se, e deve-se, explicar à criança (na medida do possível) o que se lhe vai fazer, tentar que ela perceba e colabore, mas não vale a pena pedir autorização se vamos fazer a coisa à mesma caso ela recuse. Porque a criança deve ser respeitada mas, ao contrário de um adulto, não tem autonomia (porque não tem capacidade!) para decidir sobre a sua própria saúde. Podia-se dizer que essa autonomia seria dos pais (e aí pedir-se autorização a eles), mas na verdade nem o é totalmente - por exemplo, em situações extremas, importantes e urgentes, como por exemplo uma criança que precisa de uma transfusão de sangue e os pais, por motivos religiosos, recusam, a equipa médica pode contactar o tribunal e este decretar que a guarda temporária da criança deixa de ser dos pais, pelo superior interesse da criança.
      Enfim, desviei-me um bocadinho :P, mas no fundo acho que o princípio é mais ou menos o mesmo: faz todo o sentido explicar o que se vai mudar as fraldas e o porquê de se fazer isso, mas pedir autorização se se vai acabar por fazer e pronto não tem grande sentido. Na minha opinião, claro :)

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    3. Sim, percebo o que queres dizer. E sim, a Mini-Tété diria que não porque agora é a resposta 99% das perguntas que lhe faço e porque não gosta de médicos. :P
      Eu não sei o que a senhora defende exactamente porque não vi o vídeo, comento apenas a partir daquilo que li noutros blogues mas o objectivo dela é, logo à partida, diferente daquele que eu refiro. Ela pretende ensinar desde cedo as noções de intimidade e privacidade, e eu não tenho a certeza que isso funcione assim tão bem. Por aqui a conversa tem sido mais directa "Mini-Tété, não se mexe no pipi/pilinha dos outros meninos e não deixas que mexam no teu. Só a mãe/pai/etc é que podem mexer para limpar".:P

      Mas com isto queria dizer que no fundo não sei exactamente o que ela defende. Se a ideia dela é de facto obter a autorização da criança, então roça realmente o ridículo. Isso é como quando vês crianças a chafurdar em chocolate com meses de vida e ouvir os pais a dizer "Ele pediu" ou não lhe porem o cinto de segurança "porque ele não quer". Como se a criança soubesse o que é melhor ou pior para ela e fosse capaz de tomar decisões deste tipo.
      Eu quando refiro perguntar é mais numa de "Agora vamos mudar a fralda, sim?". Não estou propriamente aberta a negociações porque a fralda vai ser mudada, mas dou espaço para que ela me diga que não, que quer ficar a brincar de forma a que eu lhe explique o porquê de termos mesmo de ir mudar a fralda para que ela perceba.
      Em ambiente médico, faz sentido que haja apenas informação para não estar a haver grandes conversas existenciais antes de cada procedimento. Como disse, no dentista quero que ele me informe "Agora vou usar a broca!", "Agora vou pôr água", "Agora vai ouvir barulho..." e não que esteja ali "Posso usar a broca, por favor?", "Dá-me licença que ponha água...?". :D
      Por isso sim, percebo o que queres dizer mas acho que a postura de um médico e de uma mãe pode não ser exactamente a mesma. :)

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