21.10.18

Beijinhos, avós e violência

Este é daqueles assuntos em que consigo perfeitamente perceber quem não concorda com obrigar as crianças a cumprimentar os avós ou seja quem for quem um beijo, mas que na prática faço o oposto. Não li em lado nenhum como se deve fazer, qual a postura correcta a adoptar, por isso é efectivamente um daqueles temas em que cá em casa seguimos o nosso instinto e aquilo que nos parece correcto.
Eu fui educada a cumprimentar todas as pessoas que os meus pais conheciam com um beijinho. Fossem os avós, fossem os tios, fossem os amigos de longa data ou simplesmente aquela colega de trabalho que via apenas uma vez por ano. Nem me era dada outra hipótese e às vezes era realmente a última coisa que me apetecia fazer, sobretudo quando eram imensas tias, quase que em fila indiana para receber um beijinho. Agora, à luz dos olhos de adulta, percebo que para aquelas tias-bisavós que eu pouco via, este beijinho da sobrinha-bisneta era importante e por consequência era importante para a minha mãe, cujas tias-avós eram um forte pilar na vida dela e que ela gostava de ver felizes. Consigo até colocar-me no lugar delas, com uma sobrinha-neta que ajudaram a criar e que agora lhes apresenta os filhos, uma nova geração, que querem conhecer, beijar e abraçar. 
Não acho de todo que isto me tenha criado uma ideia distorcida dos limites do meu corpo ou mais vulnerável a qualquer contacto menos próprio. Um beijinho é um beijinho, ponto. Tudo o que se passasse daí, que nunca aconteceu, era obviamente errado.

Não ajuda também conhecermos de perto um caso em que os netos, entrando na casa de avós que vêem com relativa frequência e em cuja casa chegaram a pernoitar sem os pais, passem por eles sem um beijo lhes dar. Não chocará toda a gente, mas a mim choca-me. Choca-me a falta de sensibilidade, de educação e o ar magoado que os avós tentam disfarçar por ficarem de cara esticada à espera de um beijinho que não chegou. Ou o caso em que o pai chegado a casa depois de um dia de trabalho não merece sequer um olhar de boas-vindas dos filhos que permanecem nos sofás agarrados aos telemóveis. A Mini-Tété sabe que quando o pai chega a casa, pára o que está a fazer e vai dar-lhe um beijinho. Acho que é o mínimo que ele merece. Eu também o faço e gosto que mo façam a mim. Odiaria chegar a casa e ter a minha filha a continuar a ver desenhos animados e o meu marido a ler um livro, sem nenhum dar sinal que deu pela minha entrada.

Por arrasto, e porque são pessoas importantes para nós, os avós, bisavós e tios merecem um beijinho quando nos encontramos e despedimos. Por skype, a Mini-Tété sabe que não é obrigada a aparecer e a participar na conversa, pode continuar na brincadeira, mas deve vir mandar um beijinho de despedida quando a conversa termina. Acho uma questão de educação, mesmo que muitos não concordem. No fundo, vejo isto como uma maneira de educar a mostrar o carinho e respeito que temos por aquelas pessoas.

Li por várias vezes que as crianças beijam e abraçam espontaneamente as pessoas com quem se sentem confortáveis. Provavelmente é o que fará a maioria mas a Mini-Tété não é nada virada para demonstrações físicas de amor. Beijinhos e abraços aos pais só dá em duas situações: se pedirmos ou numa tentativa de nos acalmar se estivermos a ralhar com ela. E se é assim com os pais, com os outros muito menos é. Por isso, se estivermos à espera que cumprimente com um beijinho por livre e espontânea vontade acho que temos um longo caminho pela frente, pelo que mais vale ir educando e pedindo que dê. E há que reconhecer que a Mini-Tété não se faz rogada quando pedimos que dê um beijinho a um familiar ou amigo, o que ajudará também nesta postura.

No fundo, acho que depende da criança, da ligação aos avós, amigos e outros familiares (insisto com a Mini-Tété para dar um beijinho aos avós mas não o farei se ela recusar beijar aquela tia que nunca viu na vida), da nossa própria ligação a essas pessoas (há pessoas que cumprimento com um beijinho mas nem peço à Mini-Tété que o faça, e há pessoas que evito beijar e que me irritam solenemente se tentam fazê-lo à Mini-Tété), das circunstâncias e da própria maneira como fomos educados. Agora, parece-me um claro exagero dizer que obrigar uma criança a beijar os avós é violência. Diria mesmo que é não ter noção nenhuma do que é realmente violentar uma criança.







8 comentários:

  1. Bom, isto dá pano para mangas. Acho que o teu post é uma opinião bem estruturada e era assim que toda a gente se devia manifestar, mas preferem todos partir para o discurso do ódio e ir desencantar tudo sobre a vida privada de quem opinou. Eu, pessoalmente, acho que a boa educação e o respeito não passam por beijos. Eu detesto cumprimentar pessoas com beijos (os meus avós inclusivamente e nunca tive problema algum com eles), por isso não exijo que o meu filho o faça. Não vejo mal absolutamente nenhum em incentivarmos os miúdos a dar um beijinho, não é disso que se trata, as pessoas têm estado a ser extremistas... o que acho mal é obrigar a criança a fazê-lo. E se há um adulto que fica ofendido/magoado por não levar um beijo na cara (ainda que seja um avô ou avó), é um problema que é desse adulto. A criança não tem que ter esse contacto físico só para agradar, é o que eu penso. Acho, sim, que têm que ser bem educados e cumprimentar (verbalmente ou como se sentirem mais confortáveis) as pessoas, reconhecer a sua presença, não as ignorar ou desprezar, isso sim, é falta de educação. Acho que o professor foi um pouco ao extremo e daí ter causado tanta controvérsia... e acho que todos sabemos que não é por termos sido pressionados a beijar familiares que saímos traumatizados. Correcto. Mas... a mensagem que passa à criança é que, no fundo, a vontade dela em dizer que não a um contacto físico não conta para nada. É disso que se trata e é isso que entendo quando ele fala em "violência". Obviamente que ninguém está a molestar a criança nesse momento ao fazer isso. Não vamos agora ser extremistas e fazer de tudo isto um bicho de 7 cabeças... incentivamos e ensinamos aos nossos filhos que o beijinho é uma forma de cumprimento e/ou de demonstração de afecto. Não os obrigamos. Acho que é simples.

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    1. É de facto um tema complicado porque seja qual for a postura que os pais adoptem, estão a fazê-lo por considerarem que é o melhor a fazer pelos filhos, pelo que é acho praticamente impossível determinar o "certo" e o "errado". E depois porque há pessoas que não conseguem ver para além da sua própria visão e achando-se como certas, assumem que todos os outros estão errados. :)

      Eu acho mesmo que passa muito pela educação que tivemos. Para mim, enquanto adulta de 34 anos, é impensável passar pelos meus pais, avós ou tios e não os cumprimentar com dois beijinhos. Tal como é impensável que o Jack chegue a casa e faça seja o que for que não seja logo dar-me um beijo. E se eu penso assim é natural que eduque a Mini-Tété no mesmo sentido. :)

      E eu concordo contigo, há pessoas que detesto cumprimentar com 2 beijos (sobretudo no Inverno, quando estão doentes) e há pessoas a quem evito mesmo. Mas na maior parte dos casos, as "regras de boa-educação" não nos levam a cumprimentar na mesma? Mesmo não querendo nós? Ou seja, quando é que passamos de "ensinar a criança que não deve ter contacto físico só para agradar" para "tem de ser, senão pensam que somos mal-educadas"? Com que idade se ensina isto? Este é um dos pontos que não consigo compreender. :)

      Outro ponto é este: como é que se obriga uma criança a dar um beijinho a quem quer que seja? Agarra-se a cara? Ou como é que se obriga uma criança a cumprimentar verbalmente? Insistindo, tanto num caso como no outro? Mas assim sendo, não estaremos, nos dois casos, a ir contra a vontade da criança? É engraçado porque a Mini-Tété distribui beijinhos a pedido sem grandes dificuldades mas cumprimentar verbalmente não é com ela. Claro que a educo nesse sentido, de cumprimentar a padeira quando compramos pão, de cumprimentar a senhora do supermercado que nos está a atender, mas nem sempre lhe sai. Ela não gosta de conversar com estranhos, fica incomodada, e portanto é algo que não forço no momento (explicando mais tarde que é educado cumprimentar). No fundo, se calhar acabo por fazer o mesmo que a Cynthia: não exigimos aquilo que deixa os nossos filhos desconfortáveis. Mas incentivamos e ensinamos. O que no fundo é o que eu faço mesmo com os beijinhos, porque lá está, não lhe posso agarrar a cara e obrigar a dar um beijinho.

      Outro ponto: não fazemos nós uma série de coisas que não queremos mas que tem de ser? Assim de repente lembro-me das idas ao médico, coisa que abomino porque odeio ser tocada por estranhos. A Mini-Tété também não é apreciadora e no entanto não tem outro remédio senão ir ao médico. Ou à escola, onde a educadora e a auxiliar lhe tocam, coisa que ela claramente detesta (e que elas respeitam ao máximo, mas às vezes tem mesmo de ser). Ou seja, claramente aceitamos passar por cima da vontade da criança nalgumas coisas, mas não noutras. E se para nós há uma diferença (o médico tem mesmo de ser por questões de saúde), será a criança capaz de fazer essa diferenciação?

      E por fim, acho que também depende da idade da criança. Aquilo que exigimos a nível de comportamento a uma criança de 1 ano não pode ser o mesmo que a uma criança de 3 anos, de 10 anos, de um adolescente. A Mini-Tété agora não diz "bom dia" e a coisa passa sem grandes problemas. Aos 10 anos espero que a postura dela seja outra e quando for adolescente é bom que cumprimente as pessoas com um "bom dia" como deve ser ou vai ter de me ouvir. Suponho que com os beijinhos seja a mesma coisa: ter uma criança de 3 anos que recusa dar 2 beijinhos é diferente de ter uma de 10 a fazê-lo ou até mesmo um adolescente, acho eu. :)

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  2. "Ou seja, quando é que passamos de "ensinar a criança que não deve ter contacto físico só para agradar" para "tem de ser, senão pensam que somos mal-educadas"? Com que idade se ensina isto?" Aqui acho que passa por percebermos a maturidade da criança... até porque, na minha opinião, nunca "tem de ser". Agora, se quisermos ensinar isso, essa visão de dar para não parecer mal educado, porque nós o fazemos, é uma questão de percebermos quando a criança já tem maturidade para entender algumas coisas. No fundo, é mesmo como dizes, a idade da criança influencia bastante a forma como ela apreende as coisas e também a forma como nos conseguimos fazer entender. E eles não são todos iguais, não há uma fórmula.

    "Mas assim sendo, não estaremos, nos dois casos, a ir contra a vontade da criança?" Aqui, acho que a questão não é tanto irmos contra a vontade da criança, acho que o bom senso diz-nos que não podemos fazer-lhes todas as vontades, não é? Mas falar às pessoas não implica o contacto físico do beijo. É só boa educação. Contudo, se a tua filha se sentir mais confortável com o beijinho, é deixá-la cumprimentar assim :) não vejo nada de errado nisso.

    Mas há que, sobretudo, estar atento às reacções dos miúdos e tentar perceber os motivos deles, sem desvalorizar. Não é preciso irmos a extremos, como tenho visto.

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    1. Sabes, no fundo eu percebo o ponto de vista de quem não insiste com os filhos para dar beijinhos. Porque connosco, fora os pais, avós, bisavós e tios (família mesmo próxima), nós temos também essa postura com os familiares que ela vê menos ou até com amigos. Se ela quiser dá, se não quiser não dá. Incentiva-se, claro, educa-se nesse sentido, claro, mas de facto respeita-se que ela não tem confiança e/ou à-vontade para dar beijinhos. :)

      Já o cumprimentar, não incentivo de todo quando não me dá jeito. :P Odeio ter pessoas estranhas que se cruzam connosco e começam a falar com a Mini-Tété. Nunca mas nunca lhe digo para responder. Mesmo à padeira, à senhora do supermercado, do banco, etc, é-lhe dito que pode responder porque está com a mamã/papá. Não deixam de ser estranhos e é bom que ela perceba que fora do circulo familiar, só responde na nossa presença. Pelo menos, com esta idade. Tenho um vizinho que cada vez que a vê, faz-lhe uma festa, tenta dar-lhe 2 beijinhos e fala com ela. Ora, eu não gosto dele, não me inspira confiança, não gosto de falar com ele, por isso fora os 2 dedos de conversa de educação que tenho com ele, nunca incentivei a Mini-Tété a falar com ele. Já com outro vizinho, não lhe peço para lhe dar 2 beijinhos porque nem eu dou, mas incentivo-a a dizer "bom dia" pois há alguma confiança (até já jantámos juntos algumas vezes). Lá está, acho que tanto nos 2 beijinhos como no cumprimentar há ali uns limites. :)

      E sim, concordo contigo, é importante conhecer a criança e perceber o porquê de ter alguma reacção. A Mini-Tété não gosta que lhe toquem, com menos de 1 ano sentava-se na borda dos meus joelhos para me tocar o menos possível quando estava ao colo, não é de abraços e beijos a toda a hora, e na escola, a educadora e a auxiliar abraçam as crianças ou pegam-lhes ao colo quando choram para as reconfortar. :) Já sabíamos disto, conhecemos uma educadora que nos tinha falado disto, quase que poderíamos ter adivinhado e prevenido que com a Mini-Tété não ia resultar. E não resultou, claro, fui chamada e tudo porque não sabiam como agir de outra forma, visto que queriam respeitar esta maneira de ser dela. Se a Mini-Tété não fosse assim e na escola tivesse este comportamento, os alarmes já teriam soado na minha cabeça. Assim, como eu própria disse na escola "se ela andasse a querer colo e mimos da educadora e da auxiliar, é que eu acharia que algo de estranho se estaria a passar".:P

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  3. A minha irma mais nova (23 anos) trabalha numa grande empresa, onde ha pouco tempo teve uma situação em que fez um trabalho excepcional. O chefe dela, no meio do escritório (eles trabalham em open office portanto imagem uma zona com cerca de 20 pessoas), agarrou-a pelos braços e espetou-lhe um beijo nas bochechas e disse um elogio qualquer ao trabalho que ela tinha feito. Ela ficou super desconfortavel, odiou aquilo, mas nao podia dizer nada. E porquê? Porque em Portugal é normal cumprimentar com beijinho, somos incentivados a faze-lo e se nao o fazemos somos mal educados. Eu nao quero que um filho meu seja obrigado a beijar um a aceitar um beijo dos avos, dos vizinhos, seja de quem for, para que um dia enquanto adulto nao seja obrigado a aceita-lo do chefe. A violencia aqui é um perpetuação de estereotipos, de formas de agir em sociedade que ao serem incutidas nas crianças, as levam do futuro a aceitar outras situações que essas sim sao uma verdadeira violencia.

    Outro exemplo que aconteceu comigo: sou Directora Financeira de uma multinacional e na semana passada recebi dois Managers de uma grande empresa de auditoria para uma reuniao. Quando chegaram cumprimentei-os com um aperto de mao, pois para mim era uma reunião formal. No final da reuniao, de 2h, la devem ter achado que ja eramos muito amigos e ao se despedir espetaram-me 2 beijinhos cada um. E eu fazia o quê? empurrava-os? virava a cara? é que também eu fui educada para ser assim, fui obrigada a achar que em Portugal é normal dar beijinhos, e tenho de o fazer mesmo que me sinta constrangida e desconfortavel tal como fiquei naquela situação.

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    1. A questão é que eu não consigo enfiar tudo no mesmo saco. Eu não defendo que se deva ensinar as crianças a distribuir beijinhos por toda a gente com que se cruzem. E não acho que por beijarem os parentes mais próximos se esteja a incutir que o devem aceitar de toda a gente. A mim não me era dada a hipótese de não cumprimentar com 2 beijinhos quando os meus pais mandavam (isto que me lembre, claro, se calhar com a idade da Mini-Tété recusava-me terminantemente a fazê-lo, não sei) e no entanto hoje com 32 anos evito situações que não me agradam mesmo, como por exemplo cumprimentar com 2 beijos uns vizinhos meus. Sei que eles têm essa intenção mas é coisa que me desagrada fortemente e não o faço, nem permito que a Mini-Tété faça. Provavelmente no lugar da tua irmã, só seria apanhada desprevenida a primeira vez, depois passaria a evitar voltar a passar por isso se realmente o incómodo fosse grande. Também tenho noção que já cumprimentei com 2 beijos pessoas que claramente se mostraram pouco confortáveis com isso e não o repeti.
      É como digo no texto, não li sobre o assunto, não pesquisei, não sei mesmo o que é que na teoria é mais correcto, por isso posso estar mesmo a fazer uma asneira enorme e a perpetuar um erro crasso mas para mim faz-me pouco sentido pôr os avós no mesmo saco que os vizinhos, os familiares distantes, os conhecidos, etc, porque mesmo eu enquanto adulta tenho comportamentos com os meus avós e pais que não tenho com mais ninguém.
      Se a frase tivesse sido que não se devem obrigar as crianças a beijar qualquer pessoa, que nem em adultos o deveríamos fazer se não nos sentimos confortáveis, então eu estaria completamente de acordo. Provavelmente a maneira como fui educada e a ligação que tenho aos meus avós influencia fortemente a maneira como vejo tudo isto. :)
      Acho que no fundo vejo o cumprimento aos pais, avós e bisavós como um sinal de respeito, mais do que até boa-educação.

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  4. Cada criança é uma criança e as crianças devem ser respeitadas :)
    Um beijinho gigante.

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    1. Mas nesse caso então concordas com ambos os lados, suponho eu. :) Porque como disse acima, seja qual for a posição que os pais tomem (sim ou não aos beijinhos), é sempre a achar que estão a fazer o melhor pelos filhos e não a desrespeitá-los. :)

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