Eu já aqui disse que sou estupidamente sensível a barulhinhos. Tudo o que os vizinhos façam, eu oiço. Até puns os oiço dar, por isso não há nada que me escape. Quando para aqui viemos viver, o apartamento por cima do nosso era ocupado por uma família com três ou quatro filhos, os quais, passando muito tempo sozinhos em casa, se divertiam jogando futebol pelas várias divisões, mandando coisas ao chão, subindo e descendo as escadas do prédio em grande alarido. Não me interpretem mal: eu até gosto de crianças, não gosto é de barulhos. Cheira-me que herdei esta costela do meu pai que sempre tirou o som a qualquer jogo ou boneco que tivéssemos quando éramos pequenos. Hoje, o meu irmão só usa o telemóvel com o modo de vibrar e nunca de tocar, pelo que também acho que herdou a mesma costela. Claro que acrescido aos barulhos das crianças, há o barulho das mães, porque verdade seja dita: com tantos filhos há que mandar uns berros de vez em quando para pôr a ordem nas coisas. Felizmente o casal de cima mudou-se mas pouco depois o apartamento por baixo do nosso foi ocupado. Mais uma vez por um casal com três filhos. A história dos barulhos repete-se. Até porque não sei porquê havia ali uma obsessão qualquer com os saltos altos e era um martelar constante de manhã à noite, o qual felizmente é cada vez mais raro. E agora, temos vizinhos no apartamento por cima. E claro, com filhos. E eu resmungo, pois que resmungo, enquanto oiço as patadas pouco suaves que as criancinhas dão no chão enquanto os pais carregam as coisas escadas acima. E depois lá penso com alguma lógica que enquanto continuarmos neste apartamento a nossa sina não será outra, porque os dois apartamentos (cima e baixo) são apartamentos com três quartos e para alugar. Que casal é que alugaria um apartamento com três quartos se não tivesse pelo menos uma criança? Que se compre, aí entendo, porque compra-se a pensar já no futuro e nos rebentos que possam vir (e mesmo assim, nós transformámos o nosso T3 num T2), mas geralmente no aluguer, aluga-se uma casa à medida da família. Cheira-me por isso que bem posso andar aqui a suspirar por uma casal silencioso ou um vizinho solteiro porque a única coisa que vou ter vão ser sempre criancinhas barulhentas. :)
como te compreendo :)
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