29.8.18

Quem me dera comunicar por pensamento

Se eu pudesse comunicar por pensamento com a futura educadora da Mini-Tété, dir-lhe-ia que a Mini-Tété vai chorar, é normal que chore, esteve quase 3 anos comigo em casa, o mundo dela sou eu e das poucas vezes que a deixei com outras pessoas, eram pessoas da minha confiança e que ela já conhecia bem (avós, sobretudo). Por isso, vai chorar porque a vou deixar com estranhos, numa sala cheia de crianças a precisar de atenção, que fazem barulho e choram também. Dir-lhe-ia que a maneira mais rápida de fazer a Mini-Tété parar de chorar é assoá-la. O choro entope-lhe o nariz e o desconforto que isso causa fá-la chorar mais. Por isso, assoando-a resolve-se logo um problema e traz-lhe a certeza de que o resto também se resolverá, o que diminui ou acaba com o choro.

Dir-lhe-ia que a Mini-Tété não vai falar. O pai pouco falava na escola e a mãe durante anos ouviu dos professores que deveria participar mais nas aulas. Os pais são tímidos e calados por natureza (a não ser com amigos e muito à-vontade) por isso a Mini-Tété tem a quem sair. Não vai falar porque não conhece ninguém e porque não vai confiar. Não vai falar porque vai perceber que os meninos e a educadora falam uma língua que não é aquela que ela mais ouve e que não vai ter lá a mãe para traduzir aquilo que ela não percebe logo. É dar-lhe tempo. Ela aprende palavras muito facilmente e rápida e timidamente começará a dizer o que quer.

Dir-lhe-ia que com a Mini-Tété o que resulta é explicar-lhe as coisas. Não vale a pena tirar-lhe alguma coisa das mãos ou obrigá-la a sentar-se ou a ir seja para onde for. Ela vai chorar porque não vai compreender porque a estão a tratar assim. Se lhe pedirem e explicarem, ela dá e ela vai. Talvez tenha sido falha nossa, sempre explicámos, não a habituámos a cumprir "só porque sim" e não compreende que às vezes tem mesmo de ser assim e pronto.

Dir-lhe-ia que não quero que a obriguem a comer nada. Sou contra isso. E que me revolta o estômago só de pensar que alguém o pode fazer. Ela come quando tem fome, ponto. E se não quiser almoçar, não almoça. Terá fome mais tarde? Provavelmente, mas é assim que aprenderá que para não a ter, o melhor é almoçar. E não quero que gritem com ela. Nós não o fazemos, não se grita em nossa casa por muito que nos falte a paciência, e ela vai ter medo. Não há razão para gritarem porque não é assim que ela vai compreender.

Dir-lhe-ia que ela vai chorar de cansaço. A Mini-Tété teve os seus próprios horários até agora e as manhã não costumam ser tão longas como serão na escola. E por isso ela terá sono ao final da manhã pois estará mais horas acordada do que está habituada. E é capaz de chorar por só querer dormir. E não vai comer porque o sono não lhe permite. Depois habitua-se mas nos primeiros tempos é capaz de haver muito choro, pouca fome e muito sono. 

Dir-lhe-ia que é um doce de menina, calma, sossegada, que gosta muito de aprender, gosta de regras, gosta de saber que faz bem as coisas. Dir-lhe-ia que é como a mãe, que não é muito de contacto humano, que dificilmente aceitará dar a mão a outra criança a não ser lhe expliquem que é preciso,  e que é capaz de negar abraços e beijos. Dir-lhe-ia que não quero que lhe façam mal, que estejam atentos, que ela ainda não sabe que tem de se defender porque nunca precisou de o fazer, que não compreenderá que as outras crianças a empurrem ou lhe tirem as coisas. Ela vai aprender, que remédio, tem de ser, mas é preciso dar-lhe tempo para isso e não deixar que abusem com ela.

Dir-lhe-ia que nem por um segundo me arrependo de a pôr na escola porque sinto que é uma das melhores coisas que lhe posso dar: o acesso à educação. E que por isso espero que todos façam o seu papel para que ela possa usufruir feliz e bem deste direito.

E por fim, dir-lhe-ia que têm ali, várias horas por dia, o meu coração. E como não consigo viver sem este orgão vital, só quero que o tratem bem. Eu só a quero feliz. Não peço mais nada.


8 comentários:

  1. Coração de mãe em alturas como este fica pequenino!
    https://jusajublog.blogspot.com/

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    1. Um bocadinho sim. Agora até estou relaxada mas acho que na segunda-feira, no primeiro dia de aulas, até vou sentir o coração a desaparecer. :D

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  2. Oooh este texto esta muito emocionante. Ando tentada a comentar varios textos, mas a minha falta de tempo nao ajuda. Tete, chorei ao ler as suas palavras. Chorei porque voltei atras no tempo quando tive de deixar "o meu coracao" na mao de desconhecidos. E ele era tao pequeno, indefeso e tao meu. Tambem eu tive insonias. Tambem eu fiquei tao angustiada. Chorei ao ler o seu texto por todas as vezes que o meu bébé foi e e deitado na cama a chorar .. Para adormecer, quando eu detesto esse "metodo ". Chorei por todas as vezes que sei que ele nao comeu na creche porque estaria cheio se sono. O M. tambem nao come quando tem sono. Chorei por todas as vezes que ele com sono e cansaco chorou e nao teve o meu colo para o confortar,embalar, aconchegar. Chorei porque posso imaginar todo esse turbilhao de emocoes que esta a sentir E que vai continuar a sentir.
    E chorei porque a Tete e para mim a mae exemplo. Chorei por todas as vezes que gritei com o M.,mesmo sabendo que nao e assim que vai aprender e senti uma culpa atroz sempre que isso acontece. Nao que o faca com frequencia, mas mais vezes do que queria, porque acho que isso nao devia acontecer nunca. E chorei por todas as vezes que insisti muito para que comesse.nao obrigo, mas sei que por vezes insisto mais do que acho razoavel. Sobretudo quando esta doente e nao quer praticamente comer por muitas horas ou mesmo dias. Insisto, arrependo-me e muitas vezes o insistir nao leva a lado nenhum porque quando ele nao quer nao come... E confesso que cheguei a chorar de preocupacao. (mas o M. Ja me deu um milhao de preocupacoes inclusive ja teve de ficar internado por uma gastro, por ter perdido muito peso e nao aceitar comer). A mini-Tete um dia vai adorar ler estas palavras. Ela tem muita sorte por ter uma Mãe como a Tete ! Nao existindo Mães perfeitas, pelos textos que tenho lido, a Tete desempenha na perfeicao o papel de Mãe. Sossegue o coracao . Nao vou dizer que tudo vai se como gostaria que fosse. Mas tenho certeza que a adaptacao vai correr bem. E tenho certeza que naquilo que a educadora nao fizer como gostaria que fizesse a mini-Tete vai perceber apenas e so a realidade .. O papel da educadora nao e o mesmo que o da Mãe . Mãe sera sempre Mãe... Aquela pessoa que nos conhece melhor que ninguem. O nosso Porto seguro. Coragem..vai tudo correr bem

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    1. O problema dos blogues é que só escrevemos o que queremos e podemos passar uma imagem errada. :) Eu estou longe de ser uma mãe exemplo e não acho que o papel de mãe me caia assim tão bem.:) Acredite em mim, sou uma mãe tão cheia de falhas e tão cheia de dúvidas como a Gisela ou outra qualquer mãe. Talvez não grite ou não faça outras coisas que a Gisela e outras mães fazem mas farei com certeza outras coisas que a Gisela não faz e que eu também deveria não fazer. No fundo, somos todas as mães que conseguimos ser, não é? :) E às vezes falta a paciência, e às vezes não sabemos o que fazer de tão chateadas que estamos, e às vezes só queremos dois minutos de silêncio ou até 5 minutos para chorar e descarregar o cansaço. Acho que todas as mães passam por isto e mais vale encarar isto como normal. :) Somos mães normais, que sentem tristeza, cansaço, dúvidas, alegria, energia, certezas, enfim, somos pessoas. E não passamos a controlar tudo só porque somos mães. :) E eu defendo que se não mal-tratamos os nossos filhos, se lhes damos muito amor, comida, casa, acesso à educação e à saúde, então já estamos a desempenhar o melhor possível o nosso papel de mães. Eu tento pensar assim para não dar tanta importância às falhas que tenho. :)
      Obrigada pelas suas palavras. Eu só quero que a Mini-Tété goste da escola e que tenha sorte nas pessoas que encontra por lá. E que a adaptação fosse fácil mas nem tenho grandes esperanças. Mais vale pensar que vai ser difícil porque se não for, óptimo! :D
      Beijinhos :)

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  3. Tenta não stressar... Como tu sabes o meu pikeno é cheio de pequenas manias e uma personalidade (aka para teimosia) danada... Foi um 31 quando foi para a escola, também aos 3 aninhos, que entretanto esteve em família porque havia essa possibilidade. O meu coração estava todos os dias, todo o dia apertadinho. Houve muitas coisas que não gostei que tivessem feito como fizeram, sobretudo porque conheço o meu filho e sei que não era a melhor forma de fazer as coisas. Mas como diz a Gisela, há a escola, e há a nossa casa, há as educadoras e há os pais. Vão ser sempre duas realidades que eles vão saber distinguir e duas realidades que contribuem para a sua educação, de uma maneira ou de outra. Tudo passa e novas questões vão surgir, novas ansiedades, novas negações, novas birras... A mini-Tété vai continuar a ser uma criança muito feliz, sobretudo pelos pais e família que tem, e mais ou menos independentemente da escola. E depois... Há sempre mais do que uma escola como opção se as coisas não correrem bem. Já vocês, os papás, são e serão sempre os únicos no pequeno mundo da mini-Tété. Eles são bem mais resilientes que nós, os pais, por mais que nós queiramos acreditar no contrário :-). Um beijinho muito grande. Vai tudo correr bem!!

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    1. Isto é uma montanha-russa, já andei muito stressada, depois calma, depois stressada, agora sem stress nenhum. Aliás devia estar a preparar coisas para a entrada na escola dela e não ando a fazer nada tal é falta de stress. :) Mas sei que para semana ele volta, é normal. :)
      Sim, eu não tenho qualquer expectativa de que a escola seja como a casa dela, nem acho que deva ser porque são mundos diferentes com objectivos diferentes. Será sempre diferente. Eu só queria que fosse bom, que ela gostasse, que fosse feliz. Eu sempre gostei da escola, iria custar-me se ela não gostasse ou que tivesse o azar de encontrar algum adulto que lhe gritasse, batesse ou ainda pior. E gostava que a adaptação corresse bem e nisso acho que ajudaria se se pudesse entregar assim uma lista sobre as crianças às educadoras para que elas soubessem pequenas coisas sobre os alunos e vontades dos pais. :D

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  4. Tão bonito :)

    Acho que muitas dessas coisas podes dizer mesmo. Acho até que a educadora poderá gostar de saber mais sobre a Mini-Teté sem ter de descobrir sozinha.

    Beijinho,
    Joana

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    1. A ver vamos como se passa. A educadora (que ainda por cima é também a directora da escola) vai ter 30 miúdos nas mãos, não sei se terá capacidade para decorar mais do que o nome deles nos primeiros dias. :D E também vou à descoberta, não sei o que é isto de ser "mãe de uma criança na escola", não sei se dará para falar com a educadora ao final do dia, dar umas dicas, se é preciso marcar uma reunião para saber como está tudo. :)

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