2.9.18

Adeus, papel de mãe-a-tempo-inteiro


Quando preenchemos os papéis para o baptizado da Mini-Tété, perguntavam quais as nossas profissões. Para espanto do Jack, quando foi a rever as informações, eu tinha escrito "mãe-a-tempo-inteiro". Perguntou-me se isto seria considerado uma profissão, encolhi os ombros, não sei, no fundo não sei o que chamam a quem fica em casa com os filhos sem ter um emprego onde receba pelo trabalho que faz, mas para mim ser mãe-a-tempo-inteiro foi o meu trabalho nos últimos 2 anos, 10 meses e 17 dias.

Hoje é o meu último dia neste trabalho. Ela vai entrar amanhã na escola e eu continuarei a ser a mãe dela, mas já não desempenharei este papel presencialmente 24h por dia. É o final de um ciclo e uma mistura de sentimentos, um amargo por estar a acabar, a ansiedade de uma mudança, um alívio de uma missão cumprida. Foram (quase) 3 anos extremamente duros. Talvez não seja assim para todas as mães, talvez para algumas o simples facto de existirem como mães lhes seja natural, instintivo, tão fácil como respirar. Mas para mim, ao contrário da minha mãe que acha que sou naturalmente maternal, ser mãe dá trabalho. Aliás, tenho tanta noção disto que sou incapaz de querer ter uma carrada de filhos pelo trabalho todo que já senti com uma. Nem sequer sei se terei coragem de repetir tamanha façanha se algum tiver um segundo filho. Talvez não baste saber que existo, que estou ali a tomar conta, porque para mim há a enorme responsabilidade de estar a educar um pequeno ser humano. 

Estar lá para todos os choros, todas as birras, todas as fases, acompanhar, pesquisar, procurar, aprender, gerir o melhor possível, cometer erros, aprender com eles, estar lá de dia e de noite, 7 dias por semana, 24h por dia, é como ter um emprego onde nunca se pára de trabalhar. E havia fases em que eu reclamava como o Jack e dizia "Sabes o que é ter um patrão que nunca está satisfeito, que ora quer dormir, ora quer comer, ora quer brincar, ora quer colo, ora quer desarrumar, ora faz birra, ora chora sem saberes porquê, ora destrói o que fizeste, ora desarruma o que arrumaste, ora pede isto, ora pede aquilo, ora exige aquele outro, e no fim nem um obrigado diz e não te paga? Eu tenho um patrão assim!". Ahahah, felizmente não era sempre assim mas houve realmente fases em que tinha vontade de pedir à Mini-Tété um pequeno ordenado ao final do mês e o meu direito a férias. 

Houve fases em que repetia todos os dias para mim que eu não nasci para isto de ser mãe-a-tempo-inteiro (eu sempre compreendi as mães que dizem que não seriam capazes de ficar em casa com um bebé sem voltar ao trabalho meses depois, mesmo!), fases em que 3 anos me pareciam uma eternidade, uma ideia louca ou capaz de me deixar mentalmente louca quando chegassem ao fim. Não foram 3 anos cor-de-rosa. Mas foram 3 anos extremamente coloridos porque para contrabalançar as fases mais escuras, havia as fases mais coloridas, os momentos mais brilhantes, a certeza de estava a viver uma aventura fantástica. Ter o privilégio de viver tudo o que vivi, assistir a tudo o que assisti, estar sempre lá, gerar e criar um pequeno ser humano foi das melhores experiências da minha vida. Ninguém me tira estes 3 anos da vida da Mini-Tété e eu só posso agradecer por isto. Vivi estes 3 anos o melhor que pude, aproveitei o melhor que podia e sabia, e no fim resta o alívio de sentir isso mesmo e de olhar para ela e ver que fiz um bom trabalho (no mínimo dos mínimos, está viva por isso sobreviveu a 3 anos comigo, ahah). Vou guardar com muito carinho estes 3 anos da nossa vida.

Agora entramos numa nova etapa, necessária e boa para ambas e vamos vivê-la da mesma forma: o melhor que sabemos e podemos, com a certeza que o importante é ser feliz. Adeus, papel-de-mãe a tempo-inteiro. E sem culpas. Afinal como o meu pai diz: "Os pais não têm de estar sempre com os filhos, têm é de estar sempre lá quando eles precisam". E eu continuarei a estar.♥

4 comentários:

  1. Pois fizeste! ;)

    Boa sorte para ambas na nova etapa de vida de cada uma!

    Beijinhos para todos,
    Joana

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    1. És uma simpatia :) (e eu estou cheia de saudades tuas!!! - assim com muitos pontos de exclamação como tu gostas :P).

      Beijinhos

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  2. Com o meu filho pude ficar os primeiros 2 anos e meio da vida dele, com a minha filha não vou conseguir fazer o mesmo, mas com muita pena minha. Se me fosse possível, seria sempre mãe a tempo inteiro :) adoro! Eu, ao contrário de ti, nunca percebi essas mães :P

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    1. Ahahah, atenção que a mim ter-me-ia custado muito entregar a Mini-Tété numa ama ou numa creche nestes 3 anos e num futuro filho não sei mesmo se terei essa coragem. Mas admito que senti falta de outras coisas nestes 3 anos. Acho que ser mãe-a-tempo-inteiro não me preenche a 100%. Acho que me sentiria mais realizada se pudesse optar por um par-time e puder ir buscar os meus filhos cedo à escola para ainda poder aproveitar bem o dia com eles, mas ter também o meu tempo, a minha vida pessoal sem eles. :)

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