11.7.19

As mães só se queixam?

Volta e meia, surge nas caixas de comentários de alguns blogues (este inclusive) a conversa sobre se vale a pena ser mãe dado o cansaço e as queixas que existem. Surge sobretudo muitas vezes o argumento de que as mães só se queixam, só falam das noites mal dormidas, das crianças doentes, da desarrumação, de andarem cansadas, de não terem paciência, de lhes faltar tempo. Há até quem só conheça mães arrependidas da decisão que tomaram e que invejam a vida daqueles que sabiamente decidiram não ter filhos. Tive sempre alguma dificuldade em conseguir acreditar a 100% nestas histórias, não por achar pouco provável que uma mãe se queixe, mas por já não achar assim tão normal que todas as conversas sobre filhos sejam um rio de lamentos e arrependimentos.

Sempre achei que estava a ser dada demasiada importância às queixas das mães como se antes de sermos mães nunca nos queixássemos de nada e sem que isso significasse um arrependimento profundo das nossas decisões. Também tinha para mim que é daqueles assuntos que mais facilmente nos queixamos do que partilhamos o que há de bom (da mesma forma que acho mais provável uma amiga desabafar comigo várias vezes que o namorado ressona demasiado alto do que se sente ao meu lado todas as semanas e desfie todo um mar de elogios e nomes carinhosos que lhe chamou nos últimos anos).

Há uns dias, tive a confirmação disso mesmo quando ao chegar ao trabalho comentei com uma colega (sem filhos) o quão cansada estava porque a Mini-Tété tinha dado uma noite terrível. Levei como resposta "Meu Deus, tiveram mesmo azar, a vossa filha dorme mesmo mal!". Fiquei a pensar naquilo boqueaberta e sem perceber. A Mini-Tété é uma criança que sempre dormiu bem (adormece tarde mas depois é um sossego), fora uma ou outra fase (ou se está doente, como naquela noite), temos os dois perfeita noção disso e da sorte que temos, mas de alguma forma a pessoa com que trabalhamos tem uma ideia completamente oposta da realidade e uma vez que ela não conhece a Mini-Tété tivemos de ser nós a criar essa ideia. Não foi difícil perceber o porquê: nunca chegámos ao trabalho e comentámos a maravilhosa noite que a Mini-Tété nos deu, mesmo sendo estas noites uma larga maioria. Pelo contrário, só falamos das noites quando referimos que ela dormiu mal ou para, em brincadeira, contarmos as grandes conversas filosóficas que a Mini-Tété decide ter quando finalmente se deita (é a hora do dia em que decide que tem imensa coisa para partilhar e dizer ao mundo...). E acreditem que não foram muitas as vezes que nos queixámos mas dado a ausência de lado bom, a pequena amostra do lado mau levou a que se criasse uma ideia muito mais negativa que a realidade. E imagino que se isto foi assim para o sono, também o será para outros assuntos em que a nossa filha vem à baila. Porque se há histórias divertidas para contar ou pequenos episódios de terror para partilhar, a verdade é que simplesmente nunca embarquei em conversas em que apenas a elogiasse ou dissesse tudo o que de bom ela faz e nos traz (e não é por ser mãe, acho mesmo que há série de assuntos fora da maternidade onde fazemos exactamente  o mesmo. Eu só falo do meu carro se for para contar algo de chato que aconteceu - pneu furado, barulho esquisito, falta de gasolina - nunca começo uma conversa para elogiar o carro em que me desloco...).

É engraçado como tantas vezes se ouvem e lêem queixas sobre como muitas vezes só é partilhado o lado cor-de-rosa da maternidade (em blogues, entrevistas, vídeos no youtube) mas depois na prática temos o oposto e as consequências da partilha apenas do lado menos bom.








2 comentários:

  1. Pois eu escrevo o que sinto. Muitas vezes opto por me queixar. E não tenho qualquer problema com isso. Não sou de 'mimimis' românticos, mas sou queixosa... isso não invalida o amor que sinto pelo meu filho. Apenas faz de mim uma mãe sincera. ahahah

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    1. Eu não acho que queixarmo-nos seja errado. O que acho é que não podemos ver as queixas das mães como a única coisa que fazem, como uma tradução directa de que a maternidade é um inferno. Tu não passaste provavelmente a ser queixosa apenas desde que foste mãe, com certeza que antes disso já te queixavas de outras coisas (do trabalho, do companheiro, das finanças, sei lá) e nunca ninguém assumiu que estavas farta da vida e arrependida por ter nascido. Mas se agora te queixares de coisas de mãe, há quem assuma que não gostas do teu filho ou que estarás farta de ser mãe ou que ser mãe é horrível.
      Mãe sincera...sê-lo-às tanto quando te queixas como quando contas episódios engraçados ou ternurentos com o teu filho. :) Não acho que precisemos apenas de nos queixarmos para sermos sinceras (até porque se só nos queixarmos ou contarmos a parte menos boa de ser mãe também não estaremos a passar a verdadeira realidade uma vez que a maternidade também tem coisas boas. Olha o meu exemplo: as noites da Mini-Tété são em larga escola muito boas mas eu só referia as poucas más noites de sono o que levou uma colega a achar erradamente que a Mini-Tété dorme mal :) ).

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