Ao longo da minha infância e adolescência tive pouco ou nenhum contacto com emigrantes. Tendo crescido numa cidade de tamanho considerável, não os via regressar todos os Verões, como acontece a quem vive sobretudo em aldeias, vilas ou cidades mais pequenas. Ou se calhar até regressavam, mas despistada como sou, nunca reparei. No sítio onde passo férias há (noto-o agora) um maior número de emigrantes, mas que misturados com as caravanas de estrangeiros que vêm aproveitar as ondas mundialmente conhecidas para o surf, a língua francesa mistura-se e não chama a atenção. A ideia com que cresci dos emigrantes foi por isso a que me foi passada por anedotas ou conversas com amigos (em casa não me lembro de qualquer referência a este assunto). Os colares de ouro, os carros barulhentos e de alta cilindrada, a má condução, o falarem francês misturado com o português, os carros a abarrotar a caminho de França com produtos portugueses, o estilo de roupa esquisito, os cachecóis-camisolas-roupa-no-geral-a marcar-Portugal, e toda uma série de coisas assim. E uma vez que não me cruzava com eles, a ideia tinha sido simplesmente desenhada na minha cabeça. Não era uma ideia de gozo ou uma ideia com maldade, era simplesmente uma caricatura tal como a do alentejano deitado pachorrentamente debaixo de uma árvore, à sombra, a dormir a sesta. O facto de ter conhecido aos 11 anos o Jack, o meu pequeno emigrante francês que tinha vindo para Portugal viver pela primeira vez (antes, só de férias), que carregava nos "r"s com toda a força e tinha um sotaque engraçadíssimo, ajudou a atenuar essa caricatura. Afinal ele não usava correntes de ouro, ia de autocarro para casa em vez de o pai o ir buscar num carro fantástico e usava a mesma roupa que nós. Anos mais tarde deparo-me novamente com ele e sou inserida numa família tipicamente emigrante. Os avós foram emigrantes, os pais são emigrantes, o irmão é emigrante, os tios e primos também, e pude assim criar a minha própria ideia de como são os emigrantes quando estão fora e quando estão de férias em Portugal. Confesso que ao longo dos últimos anos ouvi algumas coisas sobre os emigrantes que me picaram um pouco, sabendo ainda por cima que namorava um emigrante, achei até que houve pouco cuidado por parte de algumas pessoas. Outras não sabiam e davam corda à língua à vontade. Nem tudo o que é dito chateia, claro. Há que saber rir de nós próprios e eu não sendo cega, bem vejo que há coisas que até correspondem à verdade. :) Pensando um pouco, sinto que me pico mais com algumas ideias sobre os emigrantes, do que o Jack e a sua família, penso que sobretudo por já nem ligarem. E se eles não ligam, eu também nunca entrei em guerras, nunca comentando ou contradizendo o que ia ouvindo, e assim planeio continuar. Mas pensei que seria interessante, até por algumas coisas que fui lendo na blogosfera a este propósito, desmistificar ou explicar algumas coisas. Nasce assim um pequeno conjunto de posts (não são muitos porque não há assim muito a dizer) sobre os emigrantes. Não tenho intenção de arranjar chatices (se quisesse, teria ido directamente à caixa de comentários de alguns blogues) mas sim de apagar ligeiramente algumas ideias pré-concebidas que há. Afinal de contas eu também as tinha. :)
Boa ideia :)
ResponderEliminarOra então muitíssimo obrigado. :)
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