Tenho cá para mim que será um ano que não deixará muitas saudades à maior parte das pessoas. No meu caso, não sinto claramente que tenha sido o melhor ano da minha vida, mas acho que acabei por ter sorte num ano que podia ter sido simplesmente horrível. Não fomos apanhados pelo coronavírus nem ninguém que eu conheça. Não perdi ninguém directamente. Tivemos alguns sustos de saúde na família que me deixaram o coração apertadinho mas que se resolveram e agora é esperar que não se tornem tradição anual e que não reapareçam neste ano que agora começa. Tive a oportunidade de ficar em casa com a Mini-Tété sem estar em tele-trabalho e foi uma boa experiência. Nós sabemos estar as duas em casa, foi assim mais de metade da vida da Mini-Tété, não nos enlouquecemos uma à outra e eu sei gerir uma criança em casa 7 dias/semana, pelo que tinha a tarefa mais do que facilitada. Adorei fazer de professora da Mini-Tété, de todos os dias lhe ensinar o que era pedido pela sua professora, as letras, os números, as adições, trabalhos manuais, oh o que me diverti, sabendo claro que seria uma experiência passageira. O regresso à escola foi provavelmente o momento mais complicado pelo que passei este ano, por a escola não ser a escola, mas sim um lugar com um protocolo sanitário tão rígido e estúpido que temi pela sanidade emocional da minha pequenina. Nunca chorei tanto depois de deixar a Mini-Tété na escola como naqueles dias. E nunca a vi chorar de uma maneira tão assustada e em pânico como naquela altura (e oh, se ela chorava no primeiro ano de escola, com direito a passagens à força para o colo das auxiliares, gritos e o diabo a sete). Consegui ir de férias a Portugal no Verão matar saudades da família, não perdi o emprego, conseguimos finalmente vender o apartamento depois de muita luta. Tive de anular o Natal em Portugal o que me deitou abaixo mas não poderia correr o risco de eu ficar doente ou, pior, levar os meus a ficarem doentes, sabendo perfeitamente do quão arriscado seria para eles. Acabámos o ano todos com saúde, o que, tratando-se de 2020, parece-me uma maravilha.
As minhas resoluções de 2020 devem ter ido todas pelo cano mas farei a tradicional análise na mesma:
1. Ler mais
Bom, não sei se li mais do que em 2019 porque não fiz nenhuma contagem mas, do que me lembro, comecei bem lançada com 1 livro em Janeiro, 1 livro em Fevereiro e depois uma pandemia em Março que me fez focar noutras coisas. Não sei se li alguma coisa até ao Verão mas tenho ideia que li 2 ou 3 livros nas férias. Em Setembro e Outubro já não me lembro (tenho ideia que li um, sem certezas), mas sei que em Novembro reli um livro e li um novo, e que em Dezembro, embora não tivesse planeado ler, despachei em 2 dias um livro que recebi no Natal. Assim por alto, acho que posso afirmar com segurança que li pelo menos 8 livros, o que não acho nada mal. :)
2. Organizar-me mais
Huuum, esta é difícil. Mas acho que posso dizer que alcancei o objectivo porque tive de me reorganizar para criar novas rotinas com a Mini-Tété em casa para que tudo fluísse sem problemas e os dias se passassem sem stress. E se durante o confinamento abandonei o sistema da organização semanal das refeições, consegui recuperá-lo nos últimos meses, o que também me deixa contente.
3. Vender o apartamento
Yes, yes, yes, mil vezes yes!!! Adeus vizinho idiota, adeus inquilinos idiotas do vizinho idiota, adeus problemas, adeus, adeus, adeus. Este ano contei por alto a uma amiga as coisas pelas quais passámos naquele apartamento à conta da Besta porque sei que toda a gente, ela incluída, não faz ideia e acha apenas que era um vizinho chato e implicativo. Não era. Chegámos a ter de ir à polícia por ter tentado empurrar o Jack das escadas, eu tive uma crise de tensão alta na gravidez por ele ter começado aos murros na porta do apartamento, como se a fosse deitar abaixo. Tivemos papéis colados com insultos no carro, ovos atirados ao carro, cartas abertas. E tantas, tantas, tantas outas coisas, a juntarem-se às coisas menores, como obras às 3h da manhã, urina no patamar, cocó de cão nas escadas, música a horas impróprias e gritos dias e semanas seguidos. A Mini-Tété era uma bebé calma, pouco chorava, mas houve alturas em que bastava ouvir a voz dele para desatar a chorar. Não sabíamos o que era viver em paz. Na brincadeira até dizíamos que tinha sido ele a inventar este vírus só para nos atrasar a venda do apartamento mais uns meses.
4. Poupar, poupar, poupar
Não foi um grande ano para isso, há que admitir. Gastei menos em gasolina para o trabalho mas gastei bem mais em refeições em casa porque passávamos mais tempo aqui. Ainda assim poupei um pouco e estou contente com isso.
5. Destralhar
Destralhei bastantes coisas e acho que ainda tenho bastantes por destralhar. Mas demos uma valente arrumação no arrumo que temos e destralhámos muita coisa, por isso acho que vou considerar que consegui cumprir esta resolução.
6. Acalmar
Ahahahah, facílimo com uma pandemia mundial a ocorrer, com o natural receio de apanhar este vírus ou que ele apanhe algum familiar ou amigo. Maaaaaaas, fora isto, sinto sim que andei mais calma, não tanto em pânico com a vida, com más notícias, com pequenos problemas. :)
7. Não me divorciar
Feito! Ainda aqui estamos de pedra e cal, a dias de comemorar 16 anos de namoro. Houve uma pausa obrigatória nas 24h juntos pois durante uns meses deixei de trabalhar com o Jack e fiquei em casa com a Mini-Tété, mas por outro lado tivemos de lidar com o stress de o trabalho de uma equipa de 3 pessoas ter ficado todo em cima de apenas uma: o Jack. Não foi fácil para ele, foi stressante, foi complicado, mas conseguimos gerir isso. E a pandemia aproximou-nos, permitiu mais momentos a dois em casa, e isso compensou eventuais chatices.
8. Encontrar-me como mãe
Obrigada pandemia. :) Estes meses em casa fizeram-nos bem. De repente estava novamente disponível só para ela e, como já referi, isso nós sabemos fazer bem. Regressando ao trabalho e ao equilíbrio entre "mulher trabalhadora" e "mãe" que ainda não domino a 100%, acho que estou a acabar o ano melhor do que o comecei. Bolas, eu queria mesmo era um part-time bem pago e era uma mulher feliz. :P
9. Comer melhor e emagrecer.
Buuuuh. Não faço parte do grupo que engordou na pandemia mas também não perdi peso. Podia ter aproveitado este ano para fazer mais exercício, para comer melhor, sinto mesmo isso. Mas também sinto que estive ocupada a que a sanidade mental da família sobrevivesse a esta pandemia, a ser professora da Mini-Tété, a lidar com saudades várias, a tentar ser feliz no meio deste ano caótico, a aprender sobre o vírus, a aprender novos cuidados e rotinas, e sinto que fiz um bom trabalho. Esta resolução fica para 2021.
10. Viver mais
Pois, não correu bem. A ideia era sair mais, ir conhecer sítios, passear mais...mas houve um vírus chato que mandou toda a gente ficar em casa. Pronto, nem vale a pena pensar muito nisto.
11. Melhorar o meu francês
Acho que vou simplesmente assumir que não tenho jeito para línguas e não falamos mais do assunto, está bem?
12. Saúde
Huuuuuuuuuuuuuuuum, então ninguém apanhou Covid. O que é bom. E já me devia dar por satisfeita. Mas ainda assim tive uma familiar hospitalizada e assustada e um familiar com dores como nunca sentiu na vida. E eu ainda sinto o meu coração meio descompensado à conta deles, mesmo que já se tenham passado uns meses. Mas bom, num ano marcado pelo Covid, não o termos apanhado é um luxo, por isso resolução cumprida.
Adeus 2020!!!