26.4.20

As escolas vão abrir!

Em França, o governo decidiu começar a abrir as escolas a partir do dia 11 de Maio, primeiro para apenas alguns anos específicos, depois outros entrarão dia 18 e por fim os restantes anos, dos quais faz parte o ano da Mini-Tété, com regresso marcado para dia 25. Apenas os alunos universitários estão dispensados de aulas presenciais até ao início do próximo ano lectivo.

É compreensível que se queiram as escolas abertas o mais depressa possível pois o fecho destas leva a que milhares de pais esteja em casa, sem poderem trabalhar, o que não é viável para algumas pessoas e/ou empresas, sobretudo se nos lembrarmos que aqui um dos pais fica em casa com os filhos caso estes tenham menos de 16 anos, e não no máximo 12 anos como em Portugal.

Esquecendo a economia, claro que tudo isto parece à partida um enorme disparate pois a facilidade com que nas escolas as viroses se passeiam alegremente pela grande maioria das crianças leva a que rapidamente se pense que basta uma criança infectada para possivelmente contaminar logo as outras 29 (e respectivas famílias por arrasto...). Eu sei que em Setembro o vírus ainda por aqui andará pelo que adiar a abertura das escolas para essa data parece simplesmente um adiamento de um problema com o qual se vai ter de lidar na mesma, mas não deixo de pensar que muito provavelmente nessa altura os hospitais não estarão tão cheios como agora nem os médicos tão cansados.

E enquanto esperamos pela próxima semana para saber melhor como se processará este regresso escolar, vamos assistindo às diferentes declarações dos vários ministros e às opiniões do conselho científico que aconselha este governo. E é aqui que a porca torce o rabo, não só pela incoerência existente entre declarações como pela óbvia dificuldade que será executar algumas das medidas propostas.

Então, primeiro falou-se de apenas metade das turmas estar presentes nas salas, depois o número reduziu para 10 alunos por sala e já li algures que, nas turmas com crianças da idade da Mini-Tété, o número máximo de alunos pode mesmo ser apenas 5. Mas nesse caso onde estão as outras crianças? Em casa? E quem decide que crianças ficam em casa ou vão à escola? O ministro da educação informou-nos entretanto que o regresso à escola será na base do voluntariado. Como assim? Para os pais que trabalham, não haverá outra hipótese senão levar as crianças porque as empresas não entenderão porque razão ficarão os trabalhadores em casa se as escolas estão novamente abertas. Ainda assim, parece-me acertado que os pais com possibilidade de ficar em casa (por desemprego, teletrabalho, etc) tenham o direito a decidir se querem as crianças na escola ou não. Fala-se de manter as crianças afastadas umas das outras, talvez com uso obrigatório de máscara (entretanto li que pelo menos em crianças da idade da Mini-Tété esta não será usada), em mesas distantes, com o seu próprio material escolar (mas vão agora obrigar os pais a comprar material escolar para um único mês de escola?), com o seu almoço e talheres, uma vez que também há a possibilidade das cantinas não abrirem. No recreio brincarão separadas. Sinceramente, eu entendo tudo isto, entendo todas estas medidas, na teoria fazem todas muito sentido. Mas na prática? A Mini-Tété partilha o espaço exterior com a melhor amiga, nossa vizinha, da mesma idade. Compreenderam bem que não podem brincar juntas, fica cada uma do seu lado, e ainda assim, às vezes, porque são crianças, damos com elas a aproximarem-se. Tem de estar sempre um adulto por perto para relembrar a distância a manter. Como é que querem fazer isto nos recreios? 

E qual será o ambiente nestas escolas? A Mini-Tété não sai de casa há mais de um mês, ainda não viu ninguém de máscara, ainda não sentiu o ambiente esquisito duma simples ida às compras. Que vontade tenho eu de a ir entregar a uma escola, onde verá provavelmente uma série de adultos de máscaras, a fazer gincana para não se aproximarem uns dos outros enquanto seguram fortemente as suas crianças pela mão, num ambiente tenso e provavelmente com choros daquelas que não têm qualquer vontade de regressar à escola, com educadoras e auxiliares nervosas, ansiosas e preocupadas em gerir tudo da melhor maneira, procurando cumprir todas regras e fazer com que as crianças também as cumpram? Educadoras estas que terão não só de estar com aquelas crianças na escola como também terão de acompanhar as crianças que estão em casa e que têm a obrigação de terminar o programa escolar (aqui a escola é obrigatória a partir dos 3 anos e desde que o isolamento começou que há trabalho escolar em casa - e oh se eles têm coisas para aprender! Fica para outro post...). Que vontade tenho de a deixar numa escola onde não verá a maioria dos seus colegas, onde terá de estar afastada de todos os outros e dos adultos que a rodeiam, onde as regras  e rotinas serão completamente diferentes?

Sinceramente, não me tem incomodado minimamente a maneira como este possível isolamento a pode afectar. Tem 4 anos, esteve em casa comigo até aos 3 anos pelo que nada disto é novo (apenas não podemos sair para ir ao parque ou a outros sítios), não tem saudades da escola (gostaria apenas de poder brincar com a vizinha da frente), e daqui a 30 anos muito provavelmente não se vai lembrar disto (porque de facto não é uma situação assim tão nova e diferente). Mas tenho realmente receio deste regresso à escola, do ambiente que vai encontrar, da ansiedade e stress que poderá absorver...
Entendo praticamente todas as medidas na teoria, mas não acho sinceramente que na prática elas sejam assim tão fáceis de executar.
Resta-nos esperar por indicações mais precisas (e mais realistas) e ver como tudo se passará com as crianças e adolescentes que regressarão à escola nas primeiras datas indicadas, com a esperança que quando chegar dia 25 o sistema já esteja mais oleado e tudo se passe de maneira mais calma.

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