3.4.20

Pensamentos soltos

Esta semana abateu-se cá por casa um certo desânimo e algum stress. Talvez por ter sido a terceira semana de isolamento, talvez por nos termos apercebido que ainda teremos pelo menos mais um mês disto pela frente, talvez porque a hora mudou e com ela mudaram também as nossas rotinas, talvez porque tenhamos começado a fazer contas à vida e às consequências que tudo isto trará nos salários, talvez porque amanhã seria o dia de receber os avós que vinham buscar a Mini-Tété para as férias, não sei. Sei apenas que foi a pior das três semanas que passaram.

Também houve coisas boas, claro que sim, que para desgraça já basta toda a situação, mas a moral não esteve realmente lá em cima. Noto que já entranhei tanto o isolamento que quando vejo alguma série ou novela e eles dizem "bem, vou passear" ou "vou até ali à casa da não-sei-quantas", me acendem as campainhas e penso "não podem! Não têm autorização para isso!". Sinto o mesmo quando vejo nos blogues, no instagram ou no facebook, os portugueses a irem até casa uns dos outros para se verem à janela. Tal luxo não é permitido por aqui.

Hoje foi dia de ir às compras e aproveitei para comprar uns ovinhos para fazer uma "caça ao ovo" caseira na Páscoa. Não sei como é em vossa casa, mas ir às compras tira-me o sono. O ter de agarrar no carrinho, pegar nos produtos, voltar a pegar-lhes depois de terem passado pelas mãos do funcionários da caixa...e eu sei que se pode usar luvas e que não se deve levar as mãos à cara, mas digam isso a alguém que sofre de alergias e precisa de se assoar. Enfim...tira-me o sono.

E por falar em Páscoa, o que acham das novas medidas impostas em Portugal? Desde que o isolamento começou que tenho dito que a Páscoa será (ou seria?) um dos maiores problemas no que toca ao isolamento dos portugueses. Não apenas por todos os emigrantes que planearam ir aí nestas férias (eu que o diga...) como também as inúmeras famílias que até têm estado confinadas em casa mas que não prescindiriam de ir à terra, estar com os seus, mostrar os netos aos avós, que não resistiriam às chantagens emocionais dos mais velhos, pelas tradições, pela festa, pelo almoço de Páscoa. Por isso, fecharem os aeroportos e impedirem as viagens entre concelhos parece-me uma boa medida para não aumentar de forma drástica o número de contaminados.
Ainda esta semana vi no facebook um conhecido que vive em França e que chegado a Portugal decidiu reclamar por o obrigarem a fazer 2 semanas de quarentena. Devia ir com a ideia de estar com os amigos, com a família, fazer uma festa...Esta falta de noção é terrível. Mas acho que tanto se cai facilmente nesta falta de cuidado como se cai no exagero oposto e vemos pessoas que nem as janelas abrem, que criticam quem vá às compras e não se abasteça logo para um mês, que não aceitam que haja quem aproveite a ainda existente liberdade de poder sair e dar um pequeno passeio higiénico tomando todas as precauções necessárias (não é ir beber copos, não é ir para uma festa, não é ir para sítios cheios de gente...). Acho sinceramente que muita gente ainda não se apercebeu que este isolamento não é fácil psicologicamente para muitos e que às vezes sair 10 minutos, respirar ar fresco e regressar a casa é a diferença entre ter um bom dia ou afundar-se numa solidão fechada.

Tenho fé que na próxima semana estejamos mais animados. Que esta nuvem negra que por aqui se instalou se vá embora (mas dizem que vem aí chuva). Acho que vamos apostar numas séries, nuns filmes, nuns jogos (instalei o Sims 4!), fazer uma sessão de cinema caseiro com a Mini-Tété, fazer algumas daquelas tarefas que andamos a arrastar à meses, dançar mais, cantar mais, viver mais dentro do possível.

Eu sei que este post está escrito com algum desânimo e sem fio condutor mas sei que hoje não consigo fazer melhor. Para a semana será diferente. :)


12 comentários:

  1. Também passámos uns dias mais tristonhos esta semana. E sabes o que ajudou? Começar a comer sobremesas. Juro! Com a dieta andava obviamente a racioná-las, mas aparentemente comer sobremesas deixa-me feliz por isso olha, há coisas piores :P

    Por aqui tecnicamente também não é bem permitido ires dizer adeus à janela uns dos outros. Recomenda-se muita precaução na circulação e que no geral fiques em casa. O exemplo que referes (pelo menos um deles sei qual é porque vi o teu comentário) chocou imenso todos os meus colegas médicos, por exemplo, Pedro incluído, que por ele chamava a polícia sempre que vê alguém na rua sem saco das compras :P Tem sido difícil esta gestão cá em casa porque ele (e os meus amigos todos, na verdade) andam mesmo mesmo restritivos. Dou um exemplo: há três dias a minha mãe saiu de casa, meteu-se no carro, conduziu até casa da minha avó (que é literalmente a 800m de distância) e deixou-lhe no correio um smartphone. Ia de máscara e de luvas. A minha avó foi buscar o telefone, de máscara e de luvas. Não faço ideia se desinfectou o telefone ou não. Depois ao telefone explicámos-lhe como funcionar com aquilo e agora conseguimos fazer videochamadas uns com os outros. A minha avó não via os bisnetos, os netos ou a filha desde o dia 13 de Março, vive sozinha, isto para ela fez uma diferença brutal. MAS o Pedro e os meus amigos acham isto mal. Dizem que não é um motivo válido para sair de casa, e que temos todos de fazer sacrifícios. E eu... Olha, não sei. Não sou assim tão rígida, embora perceba porque é que eles o são. Não estou aqui tipo 'PRISÃO JÁ' mas também não sei se eu iria levar o telefone no lugar da minha mãe (até porque não saio de casa há mais de uma semana, e antes disso só saí para ir ao supermercado, ao pão ou ao centro de saúde). Por isso sim, é complexo. E isto entristece-me, ver toda a gente assim irritada, a apontar dedos, a criticar, em histeria. A mim não me aborrece assim tanto que as pessoas saiam para ir acenar à janela: eu não o faço, mas cada um sabe de si.

    Enfim. Ainda não decidi se fazemos caça ao ovo, na escola o Matias fazia mas ele não parece particularmente interessado no assunto. Quer que chegue a Páscoa porque sabe que vamos decorar tudo, mas não anda propriamente a contar os dias. Ir às compras não me tira o sono. Fui na semana passada, ainda sem máscara. Vou ter de ir antes da Páscoa (não vieram algumas coisas pelo Continente online que precisamos) e desta vez já vou de máscara. Na altura houve uma grande discussão no meu grupo de amigos e ninguém saía de máscara, agora já toda a gente sai de máscara. Chegando a casa tiro tudo, banho e pronto. O que tiver de ser, é. Conheço quem tenha passado a vida toda a ter imenso cuidado e tenha morrido de formas super idiotas, conheço quem tenha sido altamente inconsequente e ainda cá esteja. Nestas situações sinceramente só podemos fazer o nosso melhor, e o resto vai ser o que tiver de ser.

    Eu acho bem as medidas da Páscoa, e só acho impressionante como é que há pessoas que ainda insistem em movimentar-se desta forma. Os meus pais assistem ao telejornal todos os dias e são pessoas diferenciadas e informadas, e a minha mãe há dois dias estava a dizer que quando eu voltar ao trabalho podia vir cá buscar os miúdos! Por isso sim, acho melhor que se feche tudo porque o pessoal ainda não percebeu lá muito bem a ideia :P

    Olha pessoalmente eu acho que a mim a chuva anima-me muito mais: pelo menos também não sairia de casa se pudesse xD Mas já falámos sobre isso, eu que até pensei em fazer a árvore de Natal e tudo :P

    Por cá a ideia dos piqueniques tem colado, o Matias gosta e fica animado. Também ando a planear a Páscoa e a festa de anos do Pedro, por isso sempre ando entretida. Espero que a próxima semana seja mais animada por aí :) Beijinho grande :)

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    1. Ahahah, eu comprei uns ovos da Páscoa e todos os dias olho para eles mas tenho-me aguentado! A ver se só os como no fim-de-semana da Páscoa. Já falta pouco. :P Eu acho que começo a sentir falta de tempo para mim. Os horários da Mini-Tété estão trocados, adormece tarde, passo as sestas dela a tratar de coisas ou a falar com amigos ou família que não têm crianças para tomar conta e querem companhia :P, e à noite às vezes é um bocado do mesmo. Enfim, tenho de me organizar.

      Eu entendo que as recomendações aí sejam ficar em casa mas têm mais liberdade para saírem e darem um passeio, passando pela casa dos amigos e família, levando umas compras. Nós se decidirmos ir fazer o mesmo até casa dos meus cunhados, estamos tramados caso a polícia nos mande parar porque estaremos a mais de 1km de casa (para passeio higiénico) e não há um hipermercado para aqueles lados (ou seja, nem podemos dizer que estamos a ir às compras). :)

      A mim chateia-me quem quebra as regras. Quem vá com a família toda para o supermercado, quem se junte a amigos e família para caminhadas à beira-mar, quem organize festas de aniversário e jantares de grupo. Não me chateia quem, dentro das regras, com o bom senso que toda a situação exige, sai de casa. Tenho uma amiga que se meteu no carro e foi apenas dar uma volta para ver mais do que as paredes de casa. Eu não sinto necessidade disto, ela sentiu. Entrou no carro, deu um passeio de 10 minutos, regressou a casa. Como é que dentro do carro poderia contaminar alguém?
      Acredito mesmo que os médicos e os enfermeiros estejam fartos de certas situações, acredito que querem que toda a gente esteja em casa porque infelizmente nem toda a gente tem bom senso e tome cuidado, continuando a expor-se e a expor outros a riscos desnecessários. Mas nem todas as situações são iguais, a meu ver. Lá está, o Pedro aqui não poderia chamar a polícia se me visse a passear sozinha, num raio de 1 km de minha casa, tendo saído à menos de uma hora de casa, com um atestado a dizer isso mesmo. Tenho direito a isso. Agora se uso e abuso desse direito? Nem de perto nem de longe, os dedos de uma mão não chegam para contar as vezes que saí para um passeio nas últimas 3 semanas, por também achar que o melhor mesmo é ficar em casa.

      A mim tira-me sono porque mesmo que vá de luvas e máscara não interessa que passe o tempo todo a assoar-me. :P

      Ahahah, eu acho que a maioria das pessoas estava convencida que isto duraria 15 dias e pronto, a Páscoa poderia ser aproveitada. Eu já estou a pensar o que fazer para festejar os anos do Jack em casa no final de Maio...os zuns-zuns que andam por aqui dizem que o isolamento será até ao final de Junho.

      Epá, mas eu tenho um quintal pequenino. Ao menos com sol, podemos ir para lá.:P

      Aqui não há grande tempo para planear ou entreter-me com grande coisa. A pequena adormece tarde e eu não fico na cama quando ela acorda. Durante o dia é complicado simplesmente sentar-me ao computador e ela deixar-me sossegada, embora note que agora brinca mais sozinha. Dinâmicas diferentes. :)

      Beijinhos grandes e uma boa semana :D

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  2. Eu já não tenho paciência para os extremistas. Passei a não discutir a forma como os outros vivem esta quarentena. Eu vivo da maneira correcta e aconselhada, mas sem loucuras. Tento viver com calma, até porque tenho um filho a quem sou obrigada a transmitir bem estar. :)

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    1. Sim, é um pouco como discutir as dinâmicas de cada família ou relações ou maneiras de gerir o dinheiro. Acho sempre interessantes conversas sobre o assunto, pode-se sempre aprender algo, acho que pode ser interessante fazer perguntas e ver as respostas, mas depois ver um dedinho espetado em jeito de crítica é que não tenho paciência.

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  3. A chuva não ajuda muito a animar...Por cá, nos dias de sol, quando desligava do trabalho (estou em teletrabalho) ia com as miúdas à varanda fazer a hora do conto: a mais velha lia um pequeno livro infantil à mais nova e estávamos ali um bocadinho a apanhar ar, sol, a ver a vista, elas viram o por do sol que nunca tinham visto da varanda e ajudava a ultrapassar os dias, esta semana de chuva vou optar por trabalhos manuais dentro de casa.

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    1. Nós fizemos um barco com uma caixa de ovos e agora andamos entretidas a pintar ovos de papel para colar nas janelas. :) É verdade que o sol ajuda muito a ficarmos mais positivos.

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  4. Acho que o mais importante é cercarmo-nos de informação fidedigna, não entrar em histerismos, adotar medidas de higiene (no meu caso é fazer o que sempre fiz) e reduzir as saídas para o essencial. Tenho saído apenas para o indispensável: ir ao supermercado, à farmácia e deitar o lixo, não vou morrer por ficar cerca de um mês ou dois sem viver a minha vida normal, os amigos vão continuar cá, os museus, praias e jardins também. Claro que há certas coisas que nos deixam ansiosos, por exemplo, o ir ao supermercado deixa-me enervada porque ganhei o hábito de lavar TUDO o que compro, mas lá está, é só uma fase e temos que aprender gerir as coisas com calma

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  5. Noto que já entranhei tanto o isolamento que quando vejo alguma série ou novela e eles dizem "bem, vou passear" ou "vou até ali à casa da não-sei-quantas", me acendem as campainhas e penso "não podem! Não têm autorização para isso!". --> aqui igual! É cá uma lavagem cerebral que levamos...

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  6. Como te percebo! Quando fez 15 dias que comecei o isolamento comecei a bater mal...acho que foi por ter aquele "marco" dos 15 dias. E a semana passada foi toda um bocado estranha, já para não dizer que ontem com a chuva que estava, li um artigo de opinião em que a autora dizia que no seu ponto de vista, após o isolamento passar poderíamos voltar a sair, mas com imensos cuidados, distanciamento social, máscara, etc... e quando houvesse novo surto, isolamento de novo... que no próximo inverno o mais provável era haver novo surto e voltarmos a passar por isto. Que as escolas só abririam em Setembro e caso voltassem a haver casos, voltava tudo a ter aulas em casa. Com isto comecei a pensar no futuro (felizmente para já não tenho grandes preocupações a nível financeiro porque trabalho na área dos combustíveis, e é uma das que tem mesmo de manter a atividade)...tenho uma filha com 6 meses que não vê os avós há quase 1 mês - como vai ser quando voltar ao trabalho estando ela habituada a estar apenas comigo e com o pai (ela fica com as avós quando eu vou trabalhar já que temos essa possibilidade de não a colocar na creche - eu tinha acabado de voltar de licença de maternidade há 2 semanas quando me mandaram para casa em isolamento a fazer teletrabalho). Agora estou a trabalhar em casa com uma bebé de 6 meses, e o meu marido está também, mas possivelmente na próxima semana ele terá de ir trabalhar, e como é que eu vou gerir tudo? Pensar no futuro, em como queria ir de férias, aproveitar o sol na praia ou piscina e não vai ser possível este ano, pensar no futuro porque tenho familiares que tiveram que cancelar o casamento em Junho que preparavam há 1 ano e meio com toda a dedicação e que queriam ser pais logo a seguir ao casamento e agora terão de adiar ambos os sonhos por 1 ano. Pensar no futuro, porque queremos ter outro filho com diferença de 3 anos desta e por isso no final do verão do próximo ano iríamos começar a tentar engravidar de novo... e se o virus ainda por cá anda e sem vacinas ou medicamentos que o curem? E se também nós temos de adiar este sonho? E também pensar no futuro porque estava prestes a iniciar um novo projeto pessoal de venda de produtos feitos por mim e neste momento não posso sair de casa para comprar as matérias-primas e mesmo que pudesse, as lojas onde as iria comprar estão fechadas... mais um sonho adiado.
    E pronto, com tudo isto ouvi a nova música do Diogo Piçarra, chamada Silêncio e achei que o nome fazia todo o sentido e pus-me a chorar que nem uma madalena arrependida.
    Mas hoje é um novo dia, já não chove e vamos lá tentar levar isto de cabeça erguida!

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    1. Eu tenho ouvido a música "Andrà Tutto Bene" em loop. Nos primeiros dias chorava sempre que a ouvia. Agora danço. :)

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