30.4.14

Uma vergonha, uma vergonha

Ninguém me tira da cabeça que deve haver por aí muitas mães cheias de vergonha. Por os filhos se terem metido nas drogas? Por se terem tornado ladrões? Também, também, mas imagino as senhoras a corarem e a terem vontade de fugir quando perante a pergunta "Então e o seu filho, o que faz?" se vêem obrigadas a responder que o seu rico filhinho é político ou trabalha nas Estradas de Portugal. Enfim, os primeiros até imagino que haja muitos que se enfiaram na política para agradar às mães e poderem assim dizer nos almoços de família "Vês, mãezinha, mais um pouco e chego a primeiro-ministro" enquanto ela lhe afaga o cabelo e fecha aos olhos ao facto de ter como filho um homem sem capacidade para nada, que finge tomar umas decisões e que precisa de vinte assessores só para conseguir decidir qual o próximo carro de serviço a escolher. Já os segundos, lamento, mas nada me convence que haja algum orgulho em ter-se um filho com tal profissão. É cada barbaridade que se vê nas estradas no que toca à sinalização que por vezes penso se não andaram a beber álcool logo pela manhã em vez de café. Os meus favoritos são os traços e placas de stop metros antes de se chegar ao local onde efectivamente dá para parar e conseguir ver se há ou não possibilidade de avançar. Tentem, a sério, tentem parar onde estão desenhados os traços no chão e digam-me lá se desse ponto têm alguma visibilidade. Também gosto das vias de aceleração e travagem nas auto-estradas que às vezes são tão curtas, mas tão curtas que mais valia não existirem. Sempre se poupava uns metros de alcatrão. E depois são as curvas com estradas inclinadas para o lado que aumenta o risco de acidente, são as passadeiras colocadas precisamente à saída de rotundas para que os condutores atentos a que nenhum carro lhes bata se vejam ainda obrigados a deitar um olho ao peão que vai a atravessar, são as tampas de esgoto e as sarjetas colocadas exactamente na rota dos pneus em vez de no meio a estrada ou mesmo junto aos passeios, respectivamente. E são as rotundas com três faixas mas com saídas de apenas uma faixa, são as placas nas auto-estradas com indicação que a via da direita será suprimida e de repente a que desaparece até é a da esquerda, e são também as que gosto muito: a indicação nas auto-estradas e estradas em geral do destino de cada via...depois do condutor ter sido obrigado a escolher uma delas e apercebendo-se assim tarde demais que infelizmente escolheu a errada. Também acho graça ao facto de Portugal ser um país em que as pessoas só chegam a algum lado se souberem o caminho, porque a crise chegou há anos às placas de indicação e se aparece numa rotunda a placa do local que procuramos, só voltamos a encontrá-la dez rotundas mais à frente e isto se até tivermos acertado com o caminho. Os traços brancos nas estradas há muito que se apagaram com o tempo mas não faz mal, da mesma forma que passadeiras em que mal se vê um risco de tinta são colocadas sempre em zonas pouco iluminadas. E giro, giro é colocar novas camadas de alcatrão mas não refazer os traços. Também gosto quando aparecem placas que indicam explicitamente que na via em que estamos podemos seguir em frente ou virar à direita e descobrir afinal que só podemos virar à direita e que se queríamos ir em frente devíamos era ter ignorado as indicações. E com todas estas vergonhas a pulularem nas estradas portuguesas, duvido mesmo que haja alguém com orgulho em pertencer ou ter um familiar a pertencer a esta entidade chamada "Estradas de Portugal" e que (dizem embora eu nunca tenha visto acontecer) tem a seu cargo as estradas deste país.

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