4.5.15

Reflexões

Quer se queira, quer não, uma das coisas lixadas nisto de emigrar é a distância. Não a distância em quilómetros, mas a distância que se vai criando e aumentando (como se mudássemos todos os anos para um país ainda mais longe) entre os que partem e os que ficam. É impossível isto não acontecer, por muito fortes que sejam as amizades, por muito próximas que sejam as pessoas, simplesmente porque deixamos de estar lá e passamos a estar à distância de um telefonema ou de um e-mail, o que não é, obviamente, a mesma coisa. Nem me refiro às saudades, que estão sempre presentes, que doem mais nuns dias do que nos outros, com que vamos simplesmente aprendendo a conviver e matando com telefonemas e skype (e esquecendo que este ano, por exemplo, só estarei com os meus avós ao vivo uma única vez). Refiro-me à vida. 

O dia-a-dia, as 24 horas a que temos direito, nada disto foi criado para conseguir abranger as rotinas, o trabalho, a casa e acrescentar ainda amizades à distância. É um facto e dito por alguém que viveu uma relação à distância durante 3 anos, com telefonemas diários em detrimento de tarefas como passar a ferro ou a lavar a louça porque não havia tempo para tudo. E mesmo com estes telefonemas diários, senti já mais para o fim, que eu e o Jack estávamos a viver vidas isoladas, que estávamos a deixar de ter a "nossa" vida, que eu estava a deixar de saber de quem é que ele falava e ele já nem sabia quem eram os meus amigos naquele momento. E se isto acontece num namoro, em que há uma clara necessidade de não deixar isto acontecer, torna-se quase impossível não acontecer com amizades. Principalmente nos dias de hoje em que facilmente cada um tem dois ou três amigos emigrados e não havendo tempo para dedicar a um, há ainda menos para dois ou três.

Aqui em casa falamos disto, de como por muito que se queira, não conseguimos deixar de ver a distância aumentar todos os anos. É um telefonema que fica por fazer (e há que admitir que não somos assim muito de telefonemas. Eu então sou ainda menos do que ele), é aquele e-mail que não foi escrito esta semana mas que será escrito na próxima, ou na seguinte, ou talvez no próximo mês, ou nunca, é o tempo que se escapa para se contar as novidades, as pessoas que se conheceu, as mudanças de vida, é o tempo que passa e depois já deixa de fazer sentido contar certas coisas. Como a gravidez de uma amiga da qual soubemos por portas travessas e que só agora nos contou que foi mãe, comentando a falta de tempo. Não deixa de ser triste saber que em nove meses não houve um minuto para contar algo assim, embora seja mais do que natural querer partilhar as novidades com aqueles que estão presentes e não com aqueles que estão lá longe. Às vezes é falta de interesse, às vezes é preguiça, às vezes é só mesmo o tempo que passa e quando damos por ela, passaram-se meses sem contactarmos aquela pessoa.

Mas é a vida.

P.s. E tendo amigos que lêem este blogue e que podem ser tolos o suficiente para acharem que isto é uma espécie de recado, esclareço desde já que é apenas e só uma reflexão. Porque nós próprios nos inserimos neste grupo de quem vai deixando o tempo passar, as mensagens por escrever, as novidades por contar.

4 comentários:

  1. É exactamente isto. Conheço muitas pessoas que estão fora de Portugal, mas poucas falam sobre isto. A par da solidão que algumas pessoas passam, acho que essa distância crescente é a pior consequência da emigração. As saudades são terríveis, mas ver que se está a criar um abismo entre nós e as pessoas que amamos e não conseguir fazer nada para mudar isso é capaz de ser igualmente mau.

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  2. Sim, é impossível esse abismo não se ir criando. O contacto, havendo vontade de ambas as partes, até se pode manter mas a verdade é que se deixa de estar presente no dia-a-dia e mesmo aos amigos o ditado "longa da vista, longe do coração" se aplica. É difícil que nós que estamos longe continuemos a saber das novidades e a ter o mesmo contacto que aqueles amigos que ficam em Portugal e que se vêem frequentemente. É pena mas é natural. Embora, claro, cabe também a ambas as partes fazer o esforço de manter o contacto e por eu, pessoalmente, acho que meses sem dar resposta a qualquer tentativa de contacto já é não estar a fazer o esforço.

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  3. Ena, consegui escrever 4 vezes a palavra "contacto" num comentário. =P

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  4. Oh, pronto...: http://krysteleal.com/blog/?p=1721 ;-)

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Digam-me coisas. :)