As aulas de preparação para o parto é quase como o casamento: há os que as defendem com unhas e dentes e há quem diga que não são precisas para nada. Ainda não estava grávida e já ouvia milhares de opiniões: de quem tinha ido e tinha adorado, que valia mesmo a pena, que sim, que era muito bom ir; de quem tinha ido e tinha ficado a achar que era apenas uma perda de tempo, que não se aprendia nada, que mais valia não ter ido; e de quem nem sequer lá tinha ido e não tinha achado que fizesse falta.
E eu sempre achei que quando chegasse a minha vez que até gostava de ir, mas depois uma pessoa vê-se a viver fora de Portugal e as ideias mudam um bocadinho. Eu sabia lá se faziam essas aulas, onde se faziam, como eram e ainda por cima sei lá se perceberia alguma coisa das aulas por serem em francês. Quando fiz a inscrição para o parto no Hospital foi-me dada uma pastinha com alguns documentos e um deles era o horário com as diferentes aulas disponíveis (aulas de preparação, aulas de ioga, aulas de canto pré-natal (o que é isto???), etc, etc). O estado francês oferece até oito aulas e eu andei durante uns tempos a olhar para o papel, indecisa se ligava ou não para o telemóvel da pessoa que daria a aula no horário que eu pretendia, com a minha mãe a insistir comigo "Liga! Vais ver que é giro! Liga!". Até que um dia ganhei coragem (não gosto de falar ao telefone e ainda menos em francês) e liguei. E do outro lado ouvi uma voz apressada que me pediu o meu número de telemóvel e o nome, dizendo que me voltaria a ligar porque naquele momento não tinha tempo. Dois minutos depois, ainda estava eu atordoada com a velocidade a que tinha sido despachada, quando o telefone toca. Era novamente a Senhora-Sem-Tempo que começou por me dar uma descasca por estar a ligar demasiado tarde para conseguir vagas, que isto é daquelas coisas que tem de se tratar mal se saiba que se está grávida (como tudo o resto, na verdade....) e que agora vamos-lá-ver-se-arranjo-aqui-um-lugarzinho-na-agenda. E a conversa foi mais ou menos assim (imaginem alguém a falar a alta velocidade):
- Então-vá-vou-dizer-lhe-os-dias-e-as-horas-das-aulas-Mas-vá-apontando-que-eu-não-tenho-tempo-para-estar-a-repetir-me-A-morada-é-a-HFDGDGJFBFHB-e-a-primeira-aula-é...
- Desculpe, não percebi a morada.
- Procure-nas-páginas-amarelas-que-eu-agora-não-tenho-tempo!-A-primeira-aula-é-no-dia-X-às-X-horas-e-o-tema-é-X-a-segunda-aula-é-no-dia-Y-às-Y-horas-e-o-tema-é-Y-a-terceira-aula-é-no-dia-Z-às-Z-horas-e-o-tema-é-Z-a-quarta-aula-é-no-dia...
- Desculpe, não apanhei a última hora que disse....
- Z-horas!-Mas-eu-não-tenho-tempo-para-estar-a-repetir-tudo!-Vou-continuar-a-dizer-e-depois-quando-cá-vier-revemos-o-horário-das-aulas!
- Está bem, está bem....
E assim se passou até ao final do telefonema e quando finalmente desliguei estava ainda sem fôlego de estar a tentar apanhar e a apontar os dias e as horas (esqueçam lá os temas porque esses passaram-me ao lado). E o telefone volta a tocar e a conversa continua como se nem sequer nos tivéssemos despedido:
- Olhe-as-aulas-são-em-grupo-mas-há-sempre-a-possibilidade-de-fazer-uma-a-sós-comigo-para-tirar-dúvidas.-Não-é-que-eu-tenha-a-agenda-muito-livre-por-isso-teria-de-ser-dia-X-às-Y-horas-pode-ser?
- Mas eu dia X já tenho a primeira aula de grupo. Esta sessão seria então depois, é isso?
- Não-está-a-entender-e-eu-não-tenho-tempo-para-estar-aqui-a-explicar-tudo!-Tem-as-aulas-de-grupo e-depois-há-uma-sessão-particular-que-não-é-obrigatória-é-apenas-se-quiser-e-que-tem-de-ser-no-dia...
- Deixe estar! Não quero! Fico-me pelas aulas de grupo e pronto, não é preciso marcar mais nada!
Juro-vos, já estava a ficar desesperada com tanta pressa e stress do outro lado.
A primeira aula foi esta semana e tenho de admitir que ia um bocadinho apavorada a pensar que aquilo que era suposto ser uma aula de aprendizagem e de onde eu deveria sair mais calma se iria na verdade transformar numa sessão de puro stress. Mas disto falarei noutro post. :)
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