6.6.13

Crónicas da viagem #1

Ainda ontem comentava com a cunhada do Jack que eu não sou uma pessoa sociável com estranhos. Não gosto de dar confiança a quem não conheço, nunca me ponho em amena cavaqueira com cabeleireiras, ou com vizinhos, e nem sequer concebo a ideia de ir a um psicólogo porque realmente esta coisa de falar com alguém que não conheço é coisa que não me assiste (e a este ainda por cima tinha de lhe pagar no fim). Não sou mal-educada, não passo rasteiras a quem não conheço nem rosno quando algum estranho mete conversa comigo, mas simplesmente não sou uma pessoa que anseie conhecer pessoas novas todos os dias. Pelo contrário, gosto que me deixem descansada no meu canto. O aeroporto é por exemplo um dos meus sítios favoritos. Gosto de chegar cedo (nem que isso implique levantar às 5h da manhã), gosto de fazer o check-in enquanto não se formam filas descomunais, gosto de passear, ver as montras, sentar-me e observar as pessoas. Gosto daquele meu sossego no meio do corre-corre típico de um aeroporto. Gosto de  tirar da minha carteira o livro que ando a ler, os meus jogos de lógica, o ipod, o caderno, a caneta, e fechar-me na minha bolha e desfrutar daquele ambiente de calma no meio da confusão. Pois hoje não consegui usufruir de nada disso.

Ao chegar à parte do aeroporto em que nos fazem o sacanner às malas (ou seja, onde a partir dali apenas existem passageiros, sendo os familiares e amigos destes impedidos de passar), apercebo-me de um senhor idoso muito atrapalhado, enquanto um jovem (o genro, sei-o agora) e outro idoso (o compadre) lhe tentavam explicar que a partir dali não o poderiam acompanhar, que ele teria de ir sozinho, como haveria de encontrar a porta de embarque, e o velhote olhava para um e para outro e dizia-se lá capaz de o fazer sozinho, que se ia perder, que não percebia nada daquilo. Sendo a conversa toda em português lá me dirigi ao grupo e perguntei se o senhor por acaso iria apanhar o avião para o Porto e que, em caso afirmativo, não me importava de lhe mostrar qual a porta de embarque. E assim foi. E claro que não consegui mais ficar sozinha até entrar no avião. Fiquei a saber quantos filhos, quantos netos, em que trabalhou, o que foi fazer a França, a idade dos filhos, a idade dos netos, que a crise em Portugal é grave, que a mulher está acamada. E com isto tudo, juntou-se outra idosa que queria informações e acabou por ficar ali também a trocar histórias. E eu, ladeada pelos dois, a ouvir tudo aquilo só pensava "E olha se eu fosse gostasse de falar com estranhos...".

Não gosto de falar com estranhos, não gosto de sociabilizar com estranhos, mas não sou um coração de pedra para com estes. 

Mas confesso que hoje senti falta do "meu momento" no aeroporto.


3 comentários:

  1. Ooooh os idosos são tão fofinhos *.*
    Acredita, são os melhores doentes que alguém pode desejar ^^
    Eu nas aulas tb sou como tu. Tenho a minha psp com livros e lá estou eu a ler enquanto vão todos passear para o bar e nao sei que. A nossa bolha é sempre melhor ;)

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  2. Angie

    Não tenho mesmo nada contra os velhotes (aliás adoro os meus avós :)). Simplesmente gosto de desfrutar do aeroporto, coisa que não consegui. Não por ele ser velhote, mas sim por ter insistido em ficar comigo até entrar no avião. Até podia ter 30 anos, eu não o ia querer na mesma. =P

    Eu sou assim com os estranhos. :) Mas tenho o meu pequeno grupo de amigos, com os quais sou uma gralha. =P

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  3. Eu nunca andei de avião, nem sei o que é estar num aeroporto :S
    Se fosse de 30 anos devia ficar por outra razao ;P

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