27.2.14

Coração cheio de amigos

Se há coisa da qual sinto saudades é...dos amigos. Com os pais falo praticamente todos os dias, aos avós posso ligar quando bem me apetece porque facilmente os apanho em casa e não lhes atrapalho nenhum plano, mas os amigos têm a sua própria vida e não podem dispensar todo o seu tempo livre com uma amiga que decidiu emigrar. E mesmo que o fizessem, eu continuaria a ter saudades como tenho da família, porque acabo por falhar jantares, comemorações, datas importantes. Não estaria sempre lá e isso traz as saudades.

Por isso, quando vou a Portugal tento estar com o maior número possível de amigos. Não consigo estar com todos, pois tal como eu emigrei para França, muitos migraram dentro de Portugal para diferentes regiões, e os meus dias em Portugal não me permitem passar o tempo em viagens, a tentar estar um bocadinho com todos eles. Mas quando estou...estou mesmo. Nada me arranca daqueles momentos, nada me distrai daqueles pedaços de alegria, a não ser o relógio que tenho de ir controlando caso tenha outro compromisso marcado. E sem eles saberem, saboreio cada riso, cada história, cada palavra, cada abraço (e eu que não gosto nada de contacto físico, sinto que me perco naqueles abraços tão bons), cada sorriso, cada coscuvilhice e cada minuto ali com eles. 

É claro que o tempo e a distância deixam as suas marcas, é impossível negá-lo, e já dei por mim pensativa no regresso a casa por ouvir falar de pessoas que eu não conheço mas que entraram na vida desses amigos e das quais eles me falam,  por não apanhar todas as histórias pois nem sempre há tempo para contar todos os pormenores, por me passarem ao lado algumas piadas pois não tenho conhecimento do que as criou, por já não saber quase-tudo da vida deles como já soube e passar apenas a saber a-maior-parte-das-coisas-importantes. Mas a vida é assim e não há nada que se possa alterar, a não ser manter as amizades suficientemente bem guardadas para não haver ambientes esquisitos quando, por exemplo, nos encontramos anos mais tarde e sentir que se pode continuar a falar de tudo. 

E eu vingo-me desta distância e deste tempo que trazem marcas e quando estou com eles, prendo-os a mim. Atraso-lhes o regresso a casa, ocupo-lhes tardes de trabalho com conversa, impeço-os de voltarem ao trabalho a tempo e horas, faço os almoços e os jantares durarem mais do que deviam. Mas não é por mal. É apenas para poder regressar a França com o coração cheio e assim aguentar até à próxima vez, seja ela daqui a uns meses ou daqui a uns anos.

3 comentários:

  1. Essas palavras podiam ser minhas! Também emigrei para Paris há três anos e agora sempre que venho a Lisboa (tenho cá família, amigos, namorado...) sinto que as saudades nunca desaparecem, preciso de tempo, de muito, para matá-las a todas. Mas as saudades estão cá porque há tanto que passou e não estive cá...esses momentos que falas, momentos importantes. Que passaram por eles mas não por nós. E isso custa tanto a aceitar...

    ResponderEliminar
  2. Sim, há alturas piores. Só ontem me apercebi que este ano não estarei presente nem no aniversário da minha mãe, nem do meu pai nem do meu irmão. E isto é uma treta que mói...

    ResponderEliminar
  3. Força. Eu quero acreditar que estas coisas são as verdadeiras provas de que se guarda as pessoas que se ama perante tudo e mais alguma coisa. Faz uma festa depois quando estiveres com eles! :)

    ResponderEliminar

Digam-me coisas. :)