15.10.14

Sensibilidades....

Queixava-se o meu pai há uns dias que a minha mãe tinha acendido a luz por duas vezes durante a noite por causa de uma melga. Não compreendia ele qual era o stress de haver uma melga no quarto, sem contar com o irritante barulho que elas fazem. E eu expliquei-lhe da mesma forma que tenho de explicar ao Jack: não é o barulho que incomoda, é o facto de sabermos que seremos picadas e a reacção que teremos. Quem não é sensível a picadas não entende quem o é, não percebe o alarmismo nem o stress que um pequeno insecto nos pode causar. O meu pai é picado, o Jack é picado, o meu irmão é picado e no entanto a pele deles não reage ou reage muito pouco. Eu e a minha mãe reagimos de tal maneira que às vezes é impossível pensar noutra coisa que não na comichão que sentimos. Já acordei com uma mordedura de aranha no pulso e mal sentia os dedos. A mancha que apareceu na pele demorou mais de dois anos a desaparecer. Um dia fui picada na perna, atrás, acima do joelho, e a reacção foi tal que nem me conseguia sentar pois parecia ter uma batata debaixo da pele. Já cheguei a ir à dermatologista com um tal ataque de uma pulga que até ela se assustou quando viu o estado da minha pele. A minha mãe já acordou com um olho inchado à custa de uma picada de melga.

Não satisfeitas apenas com a reacção que fazemos, também somos uma óptima atracção para a bicharada. Como diz o Jack, não há mosquito que o pique se eu estiver na sala porque o alvo serei sempre eu. Se estiver junto a um cão com pulgas é certinho que passado um bocado o cão já não as terá e eu estarei toda mordida.

O Jack, ao fim de quase dez anos de relação, já começa a saber conviver com alguém com uma pele hipersensível e atractiva a estas coisas. Já não estranha quando me vê atravessar a rua para não passar junto a um cão rafeiro, sabe que evito ao máximo passar por zonas relvadas (pois pode ter passado por lá um cão ou gato e deixado ficar uma pulga), compreende que estar na mesma sala que uma melga significa que daí a pouco já terei sido picada e estarei com uma reacção de pelo menos 2 cm e uma comichão danada, pelo que é obrigatório matá-la. Entende porque razão me irrito silenciosamente com os donos de cães e gatos que passeiam os seus animais sem qualquer problema de desparasitação e perante o meu ar quando os visito me dizem "Oh, ele não tem pulgas, não te preocupes!" (sejamos claros: lá porque não as vêem, lá porque não são picados, não significa que o animal não as tenha). Já não me acha doida quando eu, vendo um fileira de picadas numa perna, dou um salto do sofá e me dispo toda, enfiando logo a roupa na máquina de lavar e a mim mesma no banho, para ver se mato o intruso. Percebe porque razão fico tensa quando estou de visita em casa de alguém e vejo uma melga sem poder interromper o jantar e pôr toda a gente atrás dela, ou porque razão prefiro não me sentar muito próximo de alguém que sei que tem animais (e que não sei se tratam deles ou não). Também sabe porque razão não enfio os pés nas pantufas de manhã sem garantir que não está lá nenhuma aranha. E compreende que ir à praia quando temos mais de trinta picadelas no corpo do tamanho de moedas de 2€ não é lá muito agradável .Talvez ainda ache estranho ver-me a mim e à minha mãe pulverizar a roupa com anti-pulgas quando vamos visitar algumas pessoas com animais. Mas penso que já entende porque razão é raro sair nas noites de verão de sandálias ou sem um casaquinho de mangas compridas. E ele próprio já responde que não vale a pena quando alguém me recomenda o Fenistil.

Ter uma pele sensível a este tipo de coisas é chato e não há nada a fazer. Também sou sensível ao sol, não bronzeio, e a única solução é ficar à sombra. E da mesma forma que os que bronzeiam facilmente não entendem esta incapacidade em bronzear, os pouco sensíveis a picadas não entendem os que mais sensíveis. É a vida, é a vida....:)

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