16.1.15

Sim, tenho medo

Não posso dizer que seja vítima por parte de familiares e amigos de pressão para ter filhos, como acontece com muita gente. Do meu lado, os amigos e família praticamente não se pronunciam sobre isso, e do lado do Jack, fora a mãe que olha para mim cheia de expectativa quando o Jack se lembra de me passar a mão na barriga numa clara tentativa de deixar a senhora a pensar no que não deve, os sobrinhos que anseiam por um primo e que nos perguntam descaradamente se é esta noite que o faremos, há ainda o irmão que vai brincando com a situação e perguntando de que é que estamos à espera. O ambiente é sempre de brincadeira, o que não convida a respostas sérias e por isso quando inquiridos sobre tal assunto já começamos a responder "Oh, sim, já decidimos que vamos avançar. Tratamos disso já hoje à noite". Mas a semana passada, o irmão do Jack comentou no meio da brincadeira "Tu tens medo, não tens?". Respondi seriamente que sim. O comentário seguinte fez-me perceber que ele se referia apenas ao parto, enquanto que a minha resposta abrangia todo um mundo de receios e questões. Sim, tenho medo. Tenho medo de enjoar e andar a vomitar as entranhas, tenho medo de engravidar e de perder o bebé, tenho medo de ter diabetes gestacionais e ter de andar de agulha atrás de mim (que é coisa para me deixar mal-disposta só de pensar), tenho medo de engordar 50 quilos, tenho medo de não gostar de estar grávida, tenho medo de ter uma gravidez de risco, tenho medo que nasça doente, tenho medo, não, corrijo, tenho pânico do parto. E isto só nesses nove meses, porque depois há toda uma lista: tenho medo que a minha relação com o Jack se altere, tenho medo que ele não seja o pai que eu imagino que será e eu a mãe que ele imagina que eu serei, tenho medo que não nos habituemos a novas rotinas, tenho medo de não saber lidar com cocós, bolsados, baba e afins (sou nojentinha, admito), tenho medo de ter um bebé daqueles que só chora e de me sentir a pior mãe do mundo, tenho medo de cair numa depressão pós-parto, tenho medo de não conseguir um emprego se engravidar antes de conseguir um, tenho medo de não gostar de amamentar (sei que é melhor e fazê-lo-ei, mas não é algo que me seduz), tenho medo de não recuperar a minha figura de morsa e ficar a parecer a fusão de três morsas, tenho medo de não me conseguir impor com as 1001 teorias e opiniões que talvez vá ouvir. E a criança crescerá e os meus receios continuarão: tenho medo de ser má mãe, tenho medo de não conseguir impor limites, tenho medo de ser demasiado autoritária, tenho medo de não conseguir que o meu filho goste de mim, tenho medo de não o fazer feliz, tenho medo de não o saber alimentar dado o meu pouco jeito e interesse culinário, tenho medo que lhe falte algo, tenho medo que ele não crie uma ligação com a minha família por ela estar longe, tenho medo por a minha família estar longe, tenho medo que não se dê bem na escola, enfim, tenho medo da responsabilidade que é ter um filho. A minha resposta é mesmo esta: sim, tenho medo. Mas talvez um dia tenha também coragem. :)

7 comentários:

  1. Esses medos são todos normalíssimos. Ninguém tem que pressionar, nós não somos uma fábrica de bebés à disposição da família e amigos próximos. Só duas pessoas é que têm poder de decisão nesse assunto e são vocês os dois, a opinião dos outros não vale nada. Pessoalmente, só tenho 20 anos e, honestamente, não sinto grande vontade de ter filhos que a maioria das mulheres sente, mas se estivesse a considerar a opção neste momento também teria esses medos todos e mais alguns. E acho que são precisamente esses medos que mostram que, se tiverem um filho, vais ser boa mãe ou, pelo menos, esforçar-te muito para o ser.

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  2. Acredito que haja uma altura em que nos sentimos automaticamente "preparadas" (nunca se está realmente preparada) para ter um filho. É o tal relógio... Os medos vão sempre continuar, mas simplesmente dá-nos aquele click que nos faz decidir que, independentemente disso, estamos dispostas a encarar esses medos todos de frente, tudo em troca daquele que é o milagre da vida. (cum caneco)

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  3. Apesar de ainda me faltarem uns bons e valentes anos (espero eu!), revejo-me em todos os pontos, mas acrescento mais um: não tenho paciência para crianças. Adoro o meu sobrinho, mas muitas vezes falta-me a paciência e enervo-me logo. E depois penso: serei assim com os meus filhos; eu não quero ser uma daquelas mães que passa a vida a gritar e não tem paciência para os filhos.
    Por enquanto, estou descansada; a minha irmã vai dando conta do assunto :) mas muitas vezes penso: quererei ter filhos?

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  4. Anaa

    Eu também acho que ninguém deve pressionar ninguém a ter filhos, mas conheço casos e não são assim tão poucos. Não levo a mal o "Então e filhos?" porque também eu pergunto e não é como forma de pressão. Mas há quem (não no meu caso, felizmente) é sujeito a discursos e a esta pergunta todos os dias, a todas as horas.

    E eu esforçar-me, sei que vou esforçar. Só queria era garantias de que isso é suficiente para ter um filho educadinho. =P

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  5. Panda

    Concordo contigo: nunca se está completamente preparada e nunca as condições são as ideais. Mas defendo que há pessoas que não estão mesmo nada preparadas e que há situações em que não dá mesmo jeito nenhum.

    O problema é que esse "milagre da vida" traz medos e responsabilidades em cima, e eu já sou uma pessoa ansiosa. =P Mas tens razão: medos existirão sempre, quer queiramos quer não, e não vale a pena esperar que eles desapareçam por completo.

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  6. Ariadne

    Eu não tenho paciência para adolescentes. Não tenho. Até podem ser bem comportados, uns santos, mas vão sempre achar piada a qualquer coisa parva e eu não vou ter paciência para aquilo. A minha pouca tolerância a esta fase da vida é tanta que o Jack já teme pelos nossos filhos e ainda nem os temos. Digo muitas vezes a brincar que quando tiver filhos, tranco-os numa armário aos 10 anos e volto a soltá-los aos 20. E às vezes também penso nisso "Valerá a pena ter filhos para depois não os suportar quando forem adolescentes?".

    Quero acreditar que quando são mesmo, mesmo os nossos, a nossa disposição e tolerância muda. Pelo menos espero que sim. Por mim e por eles. =P

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  7. Ao menos és corajosa para falar sobre e encarar algo que é de facto assustador para uma mulher. Apesar da sociedade tratar o assunto como banal, "lógico", um passo quase que obrigatório sem margem para qualquer questão.

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Digam-me coisas. :)