19.3.15

Dia dos dois

Hoje é o Dia do Pai e o dia de Aniversário da minha Mãe. Sempre gostei deste dia por ser um dos dois e ainda hoje faço questão de não quebrar a tradição e começar logo os festejos de manhãzinha. Por isso, às 7h30 (hora portuguesa) já estávamos nós os três ligados ao skype, a desejar os parabéns, a desejar um dia muito feliz e a abrir a prenda que lhes tinha enviado. Acho que não conseguirei descrever os meus pais sem ser um bocadinho injusta, porque tendo cada um a sua personalidade, a verdade é que sempre trabalharam em equipa. O meu pai era o que tinha o melhor horário para nos levar à escola e ir buscar, levar à natação e à catequese, dar-nos o lanche e às vezes fazer o jantar. Era o das brincadeiras, das escondidas dentro do apartamento, o que nos ensinou a andar de bicicleta, o dos castelos na areia, das pistas de automóvel, das danças em casa e dos puzzles. A minha minha mãe era a que tinha um horário menos disponível e no entanto a ideia que tenho dela é que ela "estava sempre lá". Não me perguntem como porque não sei explicar mas cresci com a sensação que em momentos de crise, pânico, urgência, a minha mãe materializava-se ao nosso lado e resolvia a questão. Da mesma forma que ao brincar com o meu pai na areia e no mar, quem verdadeiramente nos vigiava da sua toalha era a minha mãe. Ela estava sempre lá e eu gostava de saber qual é o segredo para eu também um dia ser assim. A minha mãe era também a nossa médica, a que tratava de nós mas que não permitia grandes fitas e que nos lançava um "pois, vão mesmo sair-te as tripas por aí" quando chorávamos desalmadamente por termos um micro-corte num dedo. Era ela que ia connosco ao médico, que sabia qual o remédio a dar-nos, a quem acordávamos quando nos sentíamos doentes, a quem eu esgatanhava no dia das vacinas ou das análises de sangue. Foi ela que me fez gostar de ciências e era ela que me pagava a mesada, sendo justa ao analisar sempre as minhas contas quando lhe pedia um aumento. Os dois fizeram desde cedo questão que soubéssemos gerir o nosso próprio dinheiro. O meu pai servia para as noites em que tínhamos pesadelos ou não conseguíamos dormir, para ver connosco a Rua Sésamo, os Simpsons e a Pantera Cor-de-Rosa, e ler-nos a história à noite. Mas também era ele que nos apagava a luz às 21h00 sem direito a queixas, que ia às reuniões nas escolas e que vigiava as faltas injustificadas (ai de nós se tivéssemos alguma). A minha mãe deixava-me ver a novela na cama dela e comprou-me o meu primeiro verniz (um azul metálico horrível) só porque eu queria mesmo aquele. E podíamos pedir a qualquer um deles um livro, que nunca nos seria recusado. Em termos de educação escolar, estávamos sob o olhar atento dos dois: o meu pai ajudava-me no inglês, na matemática e em química. A minha mãe ajudava nas ciências e em história. Eram os dois muito firmes e um "não" era um "não". Os trabalhos de casa tinham sempre de ser feitos e as notas eram comunicadas aos dois. Agora posso ver que nem sempre concordam um com o outro, mas aos nossos olhos nunca o mostraram e isso tornava-os uma equipa, sem dúvida. O meu pai era o mais sovina, a minha mãe mais aberta a comprar-nos algo (dentro de limites, claro) e as idas às compras eram momentos divertidos. Com o meu pai conversava-se mais calmamente e ponderadamente, mas era à minha mãe que certas coisas eram ditas, porque ela as resolveria mais rapidamente. Perdiam os dois a cabeça com as nossas discussões e se a minha mãe nos tentava bater nas pernas enquanto conduzia, o que nos fazia encolhê-las enquanto nos ríamos, já do meu pai apanhei uma palmada que me valeu para vida. Queriam sempre os quartos arrumados, as camas feitas de manhã, preocupavam-se sempre com o que comíamos e na noite anterior tudo (mochila e roupa) tinha de ficar pronto para o dia seguinte. Adoro as nossas fotografias de infância porque eu e o meu irmão estamos sempre os dois tão sorridentes. As nossas festas de ano eram sempre muito giras e recordo-me bem da minha mãe a preparar os folhados de salsicha e os pãezinhos de leite com fiambre, agradeço imenso aos meus pais fazerem questão de nos fazer acordar no nosso dia de anos sempre de forma especial porque era o nosso dia. Permitiram-nos viajar bastante pela Europa, confiavam-nos aos nosso avós, e nunca nos faltou nada. Foram (e são) sempre uns pais espectaculares, mesmo que às vezes sinta que se perguntam se deviam ter feito mais. Não deviam. Cometeram os seus pequenos erros, sim, mas consigo ver hoje que a intenção era a melhor, por isso se o tempo voltasse atrás, não acho que deveriam fazer de outra forma. Fizeram-nos os dois extremamente felizes e reconheço em cada um deles a capacidade de sozinhos serem capazes do mesmo feito, mas juntos sem dúvida que forma e são uns óptimos pais. E hoje o dia é deles e eu tenho pena de não estar com eles para lhes dar um abraço. Mas daqui a uns meses já compenso. :)

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