15.4.15

Deus insiste em pôr gente tola na minha vida

A idade trouxe-me coisas novas (mais quilos, mais cabelos brancos, mais rugas....) e uma delas, uma das que gosto mais, foi deixar de me importar tanto com o que os outros pensam de mim, principalmente aquelas pessoas que nada me dizem. A semana passada aconteceu uma situação que eu sei que se tivesse acontecido há 5 anos teria tido um resultado diferente:

Temos uma vizinha que não vive no prédio e que aluga o seu apartamento. Após uma troca de telefonemas e e-mails com o Jack combinou-se que ela passaria por aqui com uma conhecida sua para ver o prédio (nova empresa de gestão de condomínios e assim) e que aproveitaria para me bater à porta de forma a que eu lhe entregasse uma chave. Tarefa simples da minha parte até porque esta vizinha está convencida que eu não percebo francês, coisa que eu me tenho abstido de contrariar pois isso dá-lhe liberdade para ter conversas à minha frente sobre variados assuntos (um deles, o Jack) achando que eu não estou a compreender o que ela diz. Assim, o meu plano era abrir-lhe a porta, entregar-lhe a chave com um arranhado de "Bonjour" e xau, xau, até à próxima. 

É importante notar que esta vizinha tem um grande interesse neste apartamento uma vez que esteve para o comprar mas cujas obras a assustaram um pouco. Quando o comprámos e fizemos as obras que queríamos, ela tentou e conseguiu por diversas vezes entrar para ver o que andámos a fazer. Já depois do apartamento terminado e connosco aqui a viver, ganhou o hábito de em conversa comigo à porta ir espreitando por cima do meu ombro para o interior da sala, hábito esse que sempre me irritou.

Na semana passada lá apareceu mais a sua conhecida, bateram-me à porta, entreguei a chave e sem que nada o fizesse prever, perguntou-me se podiam entrar em minha casa e visitar o apartamento. O insólito da questão foi tão grande que dei por mim a pensar que tinha percebido mal e perguntei exactamente onde é que queriam ir. A resposta foi clara: "visitar o seu apartamento". Ah, Tété, mas se calhar a conhecida dela precisava de ver um dos apartamentos do prédio para o seu trabalho. Não, a razão não era esta pois havia mais uma vizinha no prédio a quem ela poderia ter batido à porta e feito o mesmo pedido (que eu sei que não fez) e tinha ainda o seu próprio apartamento com o inquilino presente a quem poderia ter perguntado o mesmo. Não, a matreira da vizinha quis simplesmente aproveitar o facto de me saber sozinha em casa, com o meu "parco" conhecimento em francês para me convencer a deixá-la entrar em casa, não tendo obviamente referido esta intenção em todos os telefonemas e trocas de e-mail com o Jack. E posso jurar que, pela cara que as duas fizeram e já a avançar para a porta, não esperavam um sorriso meu e uma resposta tão simples como "Não." Baralhadas, ainda tentaram novamente mas aí a resposta foi um pouco mais completa "Não, eu não quero e não as vou deixar entrar". Depois disto começou o número de se pôr em biquinhos dos pés a espreitar por cima do meu ombro e para ser sincera, não me lembro sequer de me despedir antes de fechar a porta e ter um ataque de riso. Quem é que se lembra de ir a casa de alguém e perguntar se pode visitar? Nunca tal me passaria pela cabeça e acho isto tão tolo como me perguntarem se quero ir ali pisar cocó de cão. 

Mas sei que se isto tivesse realmente acontecido há uns anos, eu teria receio que ela, uma mulher que nada me diz, com que apenas me cruzei umas quatro vezes em três anos, que nem sequer reconheceria se passasse por ela na rua, pensasse que eu era mal-educada e provavelmente tê-la-ia deixado entrar. Não sei se conseguiria ser firme e dizer apenas que não, com o riso já a formar-se com o caricato da situação. Mas gosto de saber que hoje sou e que nem sequer me dei ainda ao trabalho de pensar o que terá ela achado de mim. Só espero que não se lembre de me voltar a fazer o mesmo porque a próxima sou bem capaz de lhe perguntar se não quer antes ir ver se está a chover.

1 comentário:

  1. WHAAAAAAAAT?
    Epá isso é realmente inacreditável!!!
    Por amor de deus... Que lata do caraças...
    Fizeste bem! Impores-te!

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