25.9.15

Perguntas sem resposta

Em relação à notícia da estudante que entrou em coma alcoólico numa praxe, vêm-me à cabeça as seguintes questões:

1. Mas quem é que no seu perfeito juízo se deixa enterrar na areia só com a cabeça de fora, junto ao mar? Quem? Ainda para mais aos 18 anos, idade mais do que suficiente para ter cabeça e pensar por si mesma. Eu, que até era um bocadinho Maria-vai-com-as-outras, tenho perfeita noção que se me dissessem que a meio da noite (ou mesmo a meio do dia, vamos lá ser sinceros) me iam enterrar na praia, junto à linha de água, só com a cabeça de fora, era menina para dar meia volta e fugir de medo daquela gente que só podia ser perigosa para ter ideias tão descabidas.

2. Sabendo ainda por cima que a ideia, após enterrar, seria estar a beber álcool dado pelos mais velhos, não podendo nós ter qualquer controlo da coisa porque estamos enterrados, quem é que acha mesmo que isto é uma ideia gira e 'bora lá alinhar?

3. Mas aquele pessoal anda assim com tanta falta de memória para já se ter esquecido das mortes no Meco (foi só em 2013, minha gente, ainda nem fez dois anos)? Tivesse eu hoje 18 anos e bem que podiam vir-me com a história mais bonita de fazer uma praxe gira numa praia a meio da noite e haviam de ver para que sítio é que eu os mandava.

4. Mas será que esta gente não é capaz de aos 18 anos dizer "não"? Nem que seja inventando uma desculpa qualquer? Eu falhei algumas praxes porque "ainda tinha mudanças para fazer", "porque tenho de ir a casa dos meus pais", "porque tenho de ir tratar de papelada", etc, etc...Era mentira? Era porque enquanto os outros todos iam para a praxe, eu ia para casa ver televisão e comer bolachas descansadinha. Acho que a única praxe à qual nem me dei ao trabalho de dar qualquer desculpa e simplesmente não compareci foi no "rally tascas". Eu, menina que não bebe álcool, a passar uma noite inteira a saltar de tasca em tasca? Está bem, está, deixa-me cá ficar em casa a ver a novela e a dormir uma boa noite de sono.

5. Ainda hoje ouvia que "coitadinhos, se disserem que não, no ano seguinte não trajam". Entrei na Universidade há mais de 10 anos e já se ouvia esta lenga-lenga. Como é que ao fim deste tempo todo, ainda não se estabeleceu que isto é treta? "Ah, mas diz no Código de Praxe que....", pois, está bem, o famoso Código de Praxe que na verdade nunca ninguém leu e que também estabelece regras muito distintas sobre o comprimento das saias, o uso de jóias, o traçar da capa, etc, regras essas que já não interessa cumprir. Além do mais, mostrem-me uma única situação em que um aluno do segundo ano trajou e alguém veio tirar-lhe satisfações com uma folhinha de faltas injustificadas à praxe.

6. Servindo a praxe para a integração dos alunos ao novo ambiente, para os fazer conhecer os colegas, alguém me explica, como se eu fosse muito burra, como é que estes objectivos são alcançados enterrando os caloiros na areia e dando-lhes álcool? É que me está a passar completamente ao lado.

7. Dizem ainda as notícias que depois os caloiros eram desenterrados e que, já bêbados, deviam mergulhar no mar. Ora vejamos...Bêbados. Vestidos. Mergulhar no mar. À noite. Oh, sim, sem dúvida, tem tudo para dar certo e ser muito divertido, sem qualquer ponta de perigo. E mais uma vez nem vamos falar do que aconteceu no Meco, certo?

2 comentários:

  1. A mim faz-me igualmente confusão como é que ninguém se recusa a fazer cenas idiotas. Eu também não bebo alcool e nem precisei inventar desculpas, disse NÃO e ponto. E quem me ia obrigar? Os trajados que não conheço de parte alguma e não me são nada?
    Fiz toda a praxe divertida, nunca faltei, fui a todas mas com os meus limites bem definidos. Agora voltei a estudar, decidi que não queria ser praxada novamente e todos compreenderam. Ninguém me anda a fazer a vida negra.
    Aqui tem tanta culpa quem praxou como quem se deixou praxar.

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  2. Em relação às desculpas até assumo que depende bastante da personalidade de cada um. Eu não gosto que insistam comigo, odeio dizer "Não" e ter alguém a insistir, a insistir, a querer saber porquê, etc, etc....Agora com 30 anos já nem dou qualquer justificação mas aos 18 anos, a estratégia para acabar com as insistências era mesmo inventar qualquer coisa e dar o assunto por terminado.

    Quanto ao caso em questão e na minha modesta opinião a rapariga tem toda a responsabilidade naquilo que lhe aconteceu. Ninguém a obrigou a sair de casa, ninguém a obrigou a cavar um buraco, a deixar-se enterra nele, a beber álcool, etc, etc...Tem 18 ou 19 anos e portanto cabecinha para tomar as suas próprias decisões. Se já tem idade para conduzir, para votar, etc, também tem idade para dizer que sim ou que não conforme as situações.
    Em relação a quem praxou....são estúpidos. Apenas isto. Não foram capazes de acordar de manhã e pensar que pedir a outras pessoas para se enterrarem e beberem álcool era uma ideia simplesmente estúpida e perigosa. Mas, Raven, passamos a vida a cruzar-nos com pessoas estúpidas que nos vão pedir para fazermos as coisas mais imbecis que alguma vez ouvimos. Cabe-nos a nós dizer que não e deixá-los ir ser estúpidos para outro lado qualquer.

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