23.10.15

O parto #3

Quando vi o anestesista entrar na sala de partos, só tive vontade de me agarrar ao homem e não o deixar fugir. Tive a sorte de me calhar um anestesista simpático, divertido e profissional que enquanto preparava tudo para me poder dar a epidural me tentava distrair fazendo perguntas sobre a bebé, sobre os meus hobbies, brincava com o Jack...Mas eu só queria que ele se despachasse e que fizesse bem o seu trabalho. Riscado o medo de o anestesista não aparecer, era altura de enfrentar o segundo medo: que a epidural não funcionasse de todo, que só aliviasse ligeiramente, que só funcionasse de um lado, que me doesse, que me provocasse algum efeito secundário desagradável, que me desse uma coisinha má...Eu estava em modo "pânico" a 100% .

Bem, em primeiro lugar não senti nada ao ponto de ter ficado desconfiada quando ele me apareceu à frente a dizer que já tinha dado e que ia demorar uns minutos a fazer efeito, achando mesmo que o homem me estava a enganar. Mas ele lá ficou comigo, vendo se eu não tinha qualquer reacção adversa e se a epidural funcionava. Quando após alguns minutos e mais uma contracção ele me perguntou se esta já tinha sido mais leve, eu lamuriei um "Nããããoooo..." muito infeliz, já a ver que ia passar as passas do Algarve. Uns minutos mais tarde a minha resposta já era um "Siim..." pouco convicto e achando que a epidural era um embuste que retirava para aí 0.00005% da dor. Mas estava enganada e a malandra fez mesmo o seu papel. Oh, maravilha das maravilhas! Estou fã! Não sei quem inventou esta droga magnífica mas merecia um lugarzinho no céu. Deixei de sentir completamente as dores de costas, nada de nada, um paraíso. Sentia ainda um incómodo como se a criança fosse sair a qualquer momento pelo que ainda levei uma pequena dose de outra droga qualquer e aí sim, foi a paz. Aliás a paz foi tanta que me ferrei a dormir, assim como o Jack. Um dos efeitos secundários da epidural pode ser os tremores como se estivéssemos cheias de frio, coisa que me aconteceu. Toda eu tremia, até os dentes batiam uns nos outros como me acontece nos dias mais frios de Inverno e dizia o Jack que a minha pele estava realmente fria. A médica fofinha (sim, aquela que eu achava estar a montar uma cabala contra mim e que nunca chamaria o anestesista) trouxe-me um cobertor. E eu estava feliz, sem dores, sem preocupações, sem medos. Ainda tirei umas fotos para mandar à minha mãe de polegares no ar e mais tarde agarrada ao cobertor, sempre de sorriso de orelha a orelha. Dormi muito, dormi pesadamente ao ponto de nem ouvir ninguém a entrar no quarto, joguei jogos de telemóvel com o Jack, ri-me com ele, falámos...A dor tinha desaparecido e tinha levado com ela o pânico. A dilatação ia avançando e eu não tinha qualquer pressa. A única coisa que me chateava era não me deixarem beber água e eu estava morta de sede. Felizmente tinha comigo uma daquelas garrafas que pulverizam água e lá ia molhando a boca e a garganta. Também ia olhando para a máquina que a cada hora me dava um pequeno reforço da epidural e quando a dose disponível acabou tive o cuidado de avisar a médica "Olhe que acabou!! Não me deixe sem epidural!!" e logo nova dose foi colocada e eu pude continuar sossegada e em paz. Já disse que fiquei fã da epidural?

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