Já todos sabemos que a Mini-Tété é a bebé mais bonita do mundo, a bebé mais fofa do mundo, a bebé mais querida do mundo, que eu estou apaixonada por ela e que só me apetece abraçá-la 24 horas por dia. Isto de ser mãe é uma coisa muito boa, muita engraçada e...vamos agora falar da parte menos gira? Vamos então:
1. Gostei da Mini-Tété desde o momento em que a vi. Passei os primeiros dias a olhar para ela e a pensar como é que tinha sido capaz de gerar algo tão perfeito. Ainda hoje exclamo surpreendida para o Jack "Ela é mesmo linda!" como se fosse impossível algo que me saiu das entranhas ser assim tão belo. Mas não senti aquele amor de quem é atingido por um camião. E mesmo agora ao fim de 2 meses sinto o coração apertadinho só de pensar que algo lhe pode acontecer, tenho medo de a perder, mas sei que tenho capacidade de a amar ainda muito mais do que amo agora. E isso não me incomoda a maior parte do tempo. Amo mais o Jack agora do que quando começámos a namorar e sei que à medida que for conhecendo a Mini-Tété e ela me for conhecendo, este amor que sinto vai aumentando. Mas admito que há momentos em que o cansaço trai esta mente racional e me faz sentir péssima por não me sentir completamente açambarcada por este ser tão pequenino (e é horrível sentirmo-nos péssimas mães mesmo que seja só durante uns segundos).
2. As hormonas são lixadas. Estava preparada para ser atingida por elas e por isso ri-me de muitas das situações em que dava por mim a chorar por coisas estúpidas (como à saída do hospital, em que eu entre lágrimas e gargalhadas dizia "Buááá, eu entrei aqui com ela dentro de mim e agora ela está cá fooooora, buáááá!!"). Mas vi-me obrigada a tomar decisões que sempre achei que tomaria de forma calma e racional e na realidade o que aconteceu foram noites de choro a sentir-me a pior mãe do mundo.
3. A Mini-Tété não é uma bebé que chore durante horas, capaz de levar qualquer adulto à loucura. Mas troca-me os sonos e impede-me de dormir como deve ser. E naqueles noites em que eu acho que ela finalmente adormeceu, me deito e ela chora passado cinco minutos depois eu ter adormecido, custa-me horrores ser acordada. Prefiro sempre que ela chore antes de eu cair no sono. E nessas alturas, principalmente nas vezes em que não consigo perceber porque chora em altos berros e demoro a acalmá-la, dou por mim a pensar que uma pequena parte de mim compreende aquelas mães que em desespero abanam os bebés numa tentativa estúpida de os calar, principalmente se forem daqueles que choram mesmo muito. É cansativo não dormir decentemente durante várias noites e ter um bebé aos gritos sem que nada o acalme. Chegam a doer-me os ouvidos devido ao nível de choro (tanto que andei aí uns dias convencida que estava com uma otite até ter reparado que a pousava sempre no mesmo ombro quando ela chorava e por isso aquele ouvido era o que sofria mais). Lembro-me de uma noite ter ido ao quarto, acordado o Jack, lhe ter dado a bebé e ter regressado à sala para respirar fundo, para descansar 2 minutos daqueles gritos e...ter desatado num pranto. Cinco minutos depois regressei ao quarto para pegar novamente na Mini-Tété (que continuava aos berros), já a sentir-me mais capaz de fazer alguma coisa por ela.
4. Se me perguntarem o que está a ser pior nestes dois meses de Mini-Tété, a resposta é simples: a privação de sono. Considero-me uma pessoa extremamente racional mas não dormir tira-me grande parte dessa capacidade. Tudo o resto é fácil, tudo o resto se faz sem grandes problemas, mas após vários dias de poucas horas de sono, tudo se torna muito complicado.
5. Outra coisa que me está a custar a habituar é deixar de fazer as coisas quando eu, a adulta capaz de decidir a sua própria vida, quero. Não interessa se quero deitar-me às 23h, não interessa se agora me apetece comer umas torradas, não interessa se estava a pensar ir agora tomar um banho, porque no preciso momento em que eu começo a fazer aquilo que planeei, ela chora e obriga-me a adiar. E isso custa-me. :)
6. Sou uma pessoa organizada e ter um bebé não combina com isso. Não interessa se planeio passar a manhã a arrumar coisas, depois tomo um banho, almoço e vamos ao supermercado pois o mais certo é ela passar a manhã a chorar, a tarde acordada e eu chego ao fim do dia com tudo desarrumado, banho por tomar e a despensa vazia. Os meus dias passam agora por ter de tomar constantemente opções como "Vou tomar banho ou tomo o pequeno-almoço?", "Respondo aos e-mails ou vou passar a ferro?", "Escrevo um post ou vou dormir um bocadinho?" porque não dá para tudo (e há dias em que não dá para praticamente nada). Não gosto desta sensação de chegar ao fim do dia e sentir que...não fiz nada de útil.
7. Opiniões. Muito gostam as pessoas de dar opiniões. E acreditem que a maior parte das vezes entra a 100 e sai a 1000 e nem sequer me dou ao trabalho de me sentir incomodada um segundo que seja, mas o problema é que quando notoriamente ignoramos os conselhos (e o Jack diz que se nota bem quando é que eu desligo e deixo de ouvir a pessoa), as pessoas têm tendência para repetir as coisas várias vezes até finalmente conseguirem começar a incomodar uma recém-mamã que não está minimamente interessada em ouvir certas coisas (como dizerem que a bébé de 15 dias está a ganhar manha para ficar sempre ao colo...).
Adoro a Mini-Tété, por mim colocava-a numa redoma de vidro e protegia-a de todos os males do mundo, mas dou muitas vezes por mim a pensar que não estava preparada para sentir este cansaço, para esta falta de sono, para esta falta de tempo, para estas opiniões. Também já dei por mim com receio de não ser uma boa mãe por não me sentir abençoada e apaixonada 100% do tempo, por me sentir cansada, por ter saudades da minha vida antes do nascimento da Mini-Tété. Não gosto de me queixar até porque sinto que sou uma privilegiada com a bebé que tenho (mesmo se hoje só adormeceu a sério às 15h da tarde depois de uma directa...), mas acho que por vezes faz falta este tipo de relato com o lado menos cor-de-rosa da maternidade (e eu gosto de ler quando outras o escrevem porque assim sei que tudo o sinto é normal). :)
Podes crer. A maior parte das pessoas apenas faz relatar a maternidade como algo maravilhoso e sempre cor de rosa, poucas mães têm coragem de admitir (porque sentem vergonha) aquilo que aqui dizes: que sentem falta de uma altura sem filhos, que não amam instantaneamente os filhos, que têm medo de falhar como pais...
ResponderEliminarClaro que sim! Para além de mãe, és humana. E tudo é novidade. É muita coisa a acontecer.
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