2.3.16

Depende de como vemos as coisas

Fez ontem cinco anos que caí na banheira enquanto tentava apanhar um frasco de gel de duche que me tinha escapado das mãos. Não sendo uma data de algo que valha a pena assinalar ou comemorar, não deixo de pensar a cada ano que tive muita sorte. Não penso muitas vezes nesta queda até porque não vale a pena mas sempre que sinto um pé a fugir-me nem que seja dois milímetros enquanto tomo banho é impossível não voltar a lembrar-me dela. É impossível esquecer a dor que senti quando a cabeça bateu com força enquanto todo o meu corpo estava ainda no ar, o choque que senti no pescoço, o medo que senti. É impossível esquecer como respirei fundo, em pânico, e pensei "Calma. Tenta mexer os dedos dos pés", enquanto rezava com todas as minhas forças para os ver realmente mexer. É impossível esquecer como ainda me aguentei dois dias sem ir ao hospital e por fim lá fui sem aguentar mais as dores. E é sobretudo impossível esquecer de como o médico brincou comigo, dizendo que eu precisava apenas de umas massagens, até ter visto a minha radiografia, e o ar ter ficado terrivelmente sério. Lembro-me de olhar para ela e ter pensado "Uau, tenho uma coluna bem direita! Que fixe!". E de ele me ter explicado que a pancada na cabeça tinha sido tal que toda a coluna tinha sofrido, que os meus músculos estavam de tal forma contraídos que eu tinha perdido a curvatura natural da coluna. E que ele não percebia como é que eu estava ali, viva, com uma pancada daquelas. Tive sorte. Avisou-me das dores que eu teria, eu disse que já as sentia, ele avisou-me que eu sentiria muito piores. Deu-me uma dose cavalar de analgésicos que fizeram o farmacêutico perguntar-me o que se passava comigo para ir tomar o dobro da dose que ele estava habituado a ver, ainda por cima de um analgésico potente como aquele. As dores vieram, as noites sem dormir também. E eu continuei a trabalhar. Hoje acho que fui burra em tê-lo feito. As dores eram tais que cada vez que eu inclinava a cabeça deixava de ver. Devia ter ficado em casa. Felizmente tive uma grande ajuda de uma amiga-colega que suportou grande parte do trabalho, mas sinto mesmo que devia ter ficado em casa.
O dia 1 de Março de cada ano não é uma data memorável, fui estúpida e caí numa banheira. Não há nada para comemorar. Ou talvez haja. Afinal de contas, tive uma sorte do caraças.

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