1.4.16

Não amamentar

Pensei muitas vezes se deveria escrever este post ou não, uma vez que nem toda a minha vida é aqui relatada e este é daqueles assuntos em que facilmente caímos no erro de nos começarmos a justificar, o que é exactamente o oposto daquilo que pretendo. Por outro lado, acho que este tipo de testemunhos é sempre bem-vindo a quem passa pelo mesmo e precisa de sentir que não é a única a fazê-lo.

Como referi aqui, sou 100% a favor da amamentação, acho que os leites artificiais não dão ao bebé tudo o que o leite materno pode dar e acho que vale sempre a pena tentar amamentar. Mas acho também que a amamentação só faz bem ao bebé se a mãe também estiver bem, o que nem sempre acontece. Há um testemunho que leio recorrentemente nos fóruns que se refere a uma mãe que queria tanto amamentar o seu filho, recusando-se a dar leite artificial mesmo que a amamentação não estivesse de todo a correr bem, que o bebé acabou hospitalizado, sub-nutrido e desidratado. Radicalismos serão sempre radicalismos e nada de bom vem deles, seja para um lado ou para o outro.

Eu tinha a intenção de amamentar, li e reli tudo o que poderia existir sobre a pega correcta, a subida do leite, os cremes, as conchas, os protectores de silicone, as bombas, tudo, tudo, tudo. Se era para amamentar, eu queria ter a certeza que estava bem informada para poder fazer tudo bem, porque sabia que se algo corresse mal, eu desistiria. E sabia também que se decidisse mesmo desistir, a decisão seria tomada facilmente, pois o facto de dar leite artificial não era um problema na minha cabeça e o assunto ficaria resolvido.

E aí nasce a Mini-Tété. Amamentei-a e não achei assim um espectáculo imenso, não me apaixonei pelo acto, mas se ela comia e isso lhe fazia bem, então era para continuar. E por isso, até ao dia seguinte ao seu nascimento, eu estive convencida que a estava a amamentar. Só que não estava. A Mini-Tété colocava a língua encostada ao céu-da-boca, por cima do mamilo, por isso não mamava embora de fora tudo parecesse indicar que sim. Acabou por nos pregar um leve susto por não haver maneira de acordar de tão fraca que estava e acabou por lhe ser dado leite artificial por uma seringa, de modo a tivesse forças para voltar a tentar mamar. E não correu bem. Ela não fazia realmente uma pega correcta, o meu peito já estava todo amassado de tanto lhe pegarem, apertarem, posicionarem para ela mamar, afligia-me vê-la cheia de fome sem conseguir comer e cada vez que até conseguia eu sentia dores horríveis. No dia seguinte, eu já estava a dar em maluquinha e apercebi-me que mal respirava quando ela se mexia, com medo que ela acordasse e quisesse comer, porque eu não queria dar-lhe de mamar, não queria aquelas dores, aquele stress, aquele choro de fome. E foi aí que percebi que algo não estava bem: não era suposto eu não querer alimentar a minha filha, não era suposto eu ter medo que ela acordasse. E assim considerei a hipótese de passar a dar-lhe apenas leite artificial. E senti que era a pior mãe do mundo. Eu, que sempre tinha achado que se tivesse de tomar esta decisão o faria com uma perna às costas, dei por mim a chorar durante uma noite inteira por estar a decidir não amamentar a Mini-Tété. A culpa foi com certeza das hormonas que me fritaram o cérebro, consigo agora perceber, mas a culpa pela decisão que eu estava tomar era enorme. O Jack apoiava-me fosse qual fosse a decisão que eu tomasse, embora tenha sempre tornado claro que gostaria que a Mini-Tété fosse amamentada. Mas a minha decisão foi em frente e ainda bem. Com a biberão o filme era o mesmo, ela colocava a língua por cima da tetina, encostava-a ao céu da boca e não conseguia comer. Tínhamos de nos encher de paciência e ir tentando baixar a língua, sem a magoar, aproveitando cada oportunidade que ela nos dava. Aos 3 meses aprendeu finalmente a beber o biberão e o Jack disse-me "Gostaria que a tivesses amamentado mas hoje admito que fizeste bem em passar para o biberão. Teriam sido 3 meses a massacrar o peito e cheios de stress".

É engraçado que embora eu ache a amamentação bem mais simples e fácil do que andar a preparar biberões, a lavá-los e a esterilizá-los, dei muitas vezes por mim a preparar um biberão e a pensar "Deus me livre de andar a amamentar tanta vez. Dava em maluquinha". Por isso, acho que no fundo a amamentação não é para mim, embora continue a achar que entre o leite materno e o artificial, o primeiro é melhor para o bebé. Hoje não tenho qualquer arrependimento pela decisão que tomei, tenho noção que podia perfeitamente ter insistido e continuado a amamentar, mas acho que assim a Mini-Tété teve uma mãe paciente e mentalmente bem que lhe deu e dá o biberão sempre que precisa, coisa que dificilmente teria acontecido nos primeiros três meses se tivesse optado por amamentar. 

2 comentários:

  1. Eu, um dia, gostaria muito de amamentar. Se tudo corresse bem e não me custasse, claro.

    Primeiro, porque me parece o mais correcto para a criança, já que acredito que um bom leite materno é sempre o ideal (se for bom...);
    Segundo, porque é muito mais barato, sei bem o balúrdio que a minha irmã gastava em leite quando deixou de amamentar, aí pelos 4 meses;
    Terceiro, porque me parece mais simples e prático do que os biberões (lá está, se correr bem).

    Por isso, estou contigo. Se puder ser, quero que seja. Se não puder ser, que se dane!

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  2. S*

    Economicamente falando, o leite materno ganha, sem dúvida! :D Aliás ganha sempre, porque não há leites maternos fracos ou maus.
    A parte económica também pesou na decisão que tomei pois também me sentia culpada por estar a decidir acrescentar esta despesa ao orçamento familiar (e acho que não há vez nenhuma que não vá ao supermercado comprar uma lata e não pragueje baixinho).
    Quanto a ser mais prático....o peito é sem qualquer dúvida mais prático em muitas situações (não há que lavar nem esterilizar) mas por outro lado tenho noção que os biberões me permitiram deixar a Mini-Tété em casa de familiares sempre que foi preciso sem me preocupar com os intervalos entre mamadas, podia dividir a tarefa de a alimentar com o Jack, o que era um grande apoio, e admito que não sei se me teria sentido confortável em dar de mamar em muitas situações sociais em que dei o biberão.
    Lá está, tenho perfeita noção que podia ter insistido e muito provavelmente a Mini-Tété aprenderia a mamar, com muito suor e lágrimas, nem que fosse aos 3 meses (quando aprendeu finalmente a beber no biberão) e que isso teria sido bom para ela. Mas a mim ter-me-ia dado cabo psicologicamente. Além de que os leites de lata não são maus leites, apenas o leite materno é que é o melhor. :)
    E sendo que as mamas pertencem a quem as carrega, cada mãe é que decidi o que faz com elas. :D

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