26.10.16

Ser mãe - a minha realidade

Começo este post dizendo desde já que não sou aquele tipo de pessoa que alguma vez achou que ser mãe era um mundo cor-de-rosa ou que, pelo contrário, até tremia perante o cenário horroroso que era muitas vezes transmitido. Tinha noção que haveria fases difíceis (confere) mas que haveria também momentos maravilhosos para compensar (também confere).

Quando a Mini-Tété nasceu, num parto fácil e num pós-parto ainda melhor, passei logo a primeira noite com a pequena aos berros, de tal forma que nem as enfermeiras de serviço a conseguiam acalmar. Suponho agora, vendo as coisas à distância, que chorava de fome uma vez que a amamentação não estava a funcionar. Querendo ou não, esta primeira noite marcou-me muito e nos meses seguintes quando a Mini-Tété começava a chorar (o que, sendo um bebé, acontecia frequentemente) eu sentia imediatamente o coração a disparar em stress puro, imaginando já uma sessão de choro de horas e horas. No primeiro mês tive a companhia da minha mãe e do Jack, que se alternaram nas suas férias e licenças de paternidade, o que foi sem dúvida um grande apoio. Mas depois vi-me sozinha, com uma bebé que chorava sem eu saber porquê, que eu nem sempre conseguia acalmar, e eu com uma enorme privação de sono. Já aqui tinha referido que foi o que me mais me custou: não dormir. Por muito que eu tenha levado a sério a recomendação de dormir quando a Mini-Tété dormia, dormir aos bocados não nos dá o descanso de uma noite seguida. Chorei muitas e muitas vezes de cansaço ao colo do Jack, já sem aguentar a dor de ouvidos que sentia sempre que a Mini-Tété chorava de forma estridente (até a médica dela ainda hoje diz que ela tem uns óptimos pulmões), dizendo-lhe que não aguentava, que não sabia ser mãe, que só queria dormir, que queria a minha vida de volta. O cansaço, percebi eu mais tarde, faz-me ver tudo muito negro, torna-me pessimista e faz-me pôr tudo em causa, seja o meu papel de mãe, seja o meu casamento, a minha vida, os meus sonhos, tudo. Digo e repito que acredito que a privação de sono/cansaço seja a razão pela qual muitos casais se zangam e separam pouco depois de um bebé nascer.

Lembro-me bem de um dia ter percebido que o choro da Mini-Tété já não me stressava. Tinha percebido finalmente que ela não chorava durante horas (salvo uma ou outra excepção), tinha aprendido que eu era capaz de acalmar sozinha e tinha relativizado as coisas (na fase em que as noites da Mini-Tété começavam às 7h da manhã, tudo se tornou mais fácil quando eu assumi isso e desisti de a tentar adormecer antes dessa hora. Por isso, passava a noite com ela a dormir pequenas sestas no meu colo (e eu a ver séries ou a jogar no telemóvel), a alimentá-la, a mimá-la e às 7h íamos as duas dormir calmamente). Lembro-me muito bem da sensação de felicidade que senti nesse momento, da injecção de confiança que me correu nas veias, da esperança de que tudo melhoraria. E melhorou pois uma mãe confiante reage muito melhor que uma mãe cheia de dúvidas quanto às suas capacidades.

Não posso dizer que a Mini-Tété tenha sido uma bebé difícil no seu primeiro ano de vida. Não adoeceu, não houve grandes sustos, a partir do 1° mês começou a dormir noites seguidas (mesmo que a hora a que estas começassem fosse um pouco estranha), bebia bem o seu biberão, aceitou bem as sopas, dormia as suas sestas, mas...é um bebé. E como todos os bebés não é expectável que não passe por fases em que dorme ou come pior, que não tenha os seus momentos de birra, de cansaço, de sono, de chorar sem eu perceber bem porquê, em que anda mais chatinha porque causa dos dentes, em que anda mais rabugenta sabe-se lá a razão. E também por ser um bebé, por muito bonita e calma que fosse a sua fase no momento, precisa da mãe ali, para a vestir, mudar fraldas, alimentar, embalar, dar mimo, entreter, estimular, e isto ocupa tempo, senhores, mesmo muito tempo. À medida que ela foi crescendo foi ficando mais autónoma, o que me permitia conseguir tomar o pequeno-almoço enquanto ela palrava com um boneco, mas as sestas diminuíram e encurtaram. E se por um lado, eu sentia que tinha mais algum tempo livre, o facto de de repente me ver a ter de andar a fazer sopas e a cozer fruta, a preparar massinha, arroz, carne, peixe, etc, roubou-mo. Também o facto de ficar mais tempo acordada significou ter menos tempo para fazer algumas coisas que fazia quando ela dormia, como tomar banho, passar a ferro, etc, e, tcharan, arrumar a casa. E não é fácil tratar da casa, das limpezas, arrumações, fazer sopa e refeições para nós, fazer sopa e refeições para ela, lavar louça, pôr roupa a lavar, estender roupa, passar a ferro, lavar biberões, preparar biberões, tratar de contas, ir às compras, arrumar compras, ao mesmo tempo que se trata e dá atenção a um bebé.

Mas e o Jack? Onde anda no meio disto? O karma não foi simpático connosco e o celeiro que comprámos e que deveria ter sido transformado em casa antes da Mini-Tété nascer, sofreu grandes atrasos e alterações de planos, pelo que a sua construção está a coincidir exactamente com a existência da Mini-Tété. E por isso, o Jack num trabalho que exige muito dele a nível de horários, mais a construção da casa, trabalha 7 dias por semana, levantando-se entre as 4h e as 5h da manhã na maior parte dos dias, e chegando muitas vezes a casa depois das 20h. Por muito que vá lavando louça de vez em quando, preparando roupa para lavar, dando um jeito à casa, não é efectivamente um par de braços que ajude neste momento, e por isso toda esta logística cai sobre mim.

Admito que me ressinto um bocadinho durante uns minutos quando oiço alguém dizer "É fácil ser mãe! Tem-se tempo para tudo! Basta querer!". Houve uma altura que procurava na net dicas de como conjugar tudo (sim, eu admito que não sou um ás na organização e, para ajudar, não gosto nada de tarefas domésticas) e lia bloggers que eram também elas mães a tempo inteiro e pareciam ter tempo para tudo. Depois descobria, para grande pena minha, que havia sempre ali uma empregada doméstica a tratar da casa, uns avós que ficavam com os bebés não sei quantas tardes por semana, um marido que chegava super cedo a casa. Parecem não querer acreditar nisso mas este tipo de coisas faz toda a diferença. Eu bem sinto isso quando o Jack fica por casa um dia, chega mais cedo ou temos férias. Não sou nenhuma mártir e cheguei muitas vezes a comentar com o Jack que mães solteiras que trabalhem e não tenham ajudas devem ter ainda menos tempo que eu, pois passam menos horas em casa e nessas horas têm de tratar delas, da casa, dos filhos e de toda a logística. Não sei como aguentam, sou sincera. Tivesse eu uma empregada doméstica um dia por semana e mais de metade do meu cansaço desaparecia, porque acho que o que me cansa mesmo é ter de tratar da casa (que não gosto) e da Mini-Tété (que adoro). Também é preciso ver que há fases em que os bebés dão mais trabalho e outras em que dão menos.

Pensei muitas vezes se escreveria este post e como o escreveria porque não quero dar uma má ideia da maternidade ou fazê-la passar por algo extremamente difícil. Para mim, na minha realidade, foi um ano cansativo, mais do que eu esperava, mas não difícil. E sei que se as condições não fossem estas que aqui contei, seria menos cansativo. E também sei que se tivesse uma bebé difícil, seria mais cansativo. A maternidade é mais fácil e mais difícil, menos cansativa ou mais cansativa, dependendo da mulher que a vive, do bebé que tem, da vida que tem. Mas acho que no final estamos todas de acordo: é uma maravilha. :)




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