No fim-de-semana passado, a sair da aldeia com a Mini-Tété para irmos até um parque brincar, cheguei a uma zona de estrangulamento de estrada onde todos os avisos indicam que quem tem prioridade sou eu. Do lado contrário, um carro aproximava-se a alta velocidade, obrigando-me a travar de repente depois de ter percebido que ele, mesmo que quisesse e fizesse o esforço (que não fez), não conseguiria parar a tempo para que eu passasse e que se eu continuasse bateríamos simplesmente de frente. Admito que nestas alturas às vezes me passa pela cabeça um "Que se lixe! Caramba, quem tem prioridade sou eu, por que raio tenho de ser eu a parar enquanto estes idiotas continuam a achar que a estrada é deles?". Claro que travo sempre porque mais do que querer destruir o carro do outro, quero salvar o meu e sobretudo quero salvar-me a mim. E desde que a Mini-Tété nasceu, não pode mesmo ser de outra maneira. De modo que travei (como sempre), um travagem bruta e seca mesmo à última da hora (porque o estrangulamento está a seguir a uma curva, não permitindo grande visibilidade), enquanto o via passar e levantava os braços em sinal de protesto. O condutor levantou a mão em jeito de desculpa (vá lá, já apanhei uns quantos que ainda reclamam comigo). E nessa altura vejo: ao lado dele, uma criança pouco mais velha que a Mini-Tété, sem qualquer cadeira necessária, presa apenas com o cinto de segurança. Passei o resto da tarde angustiada, a pensar no que teria sido se eu não tivesse tido o reflexo de travar, se eu (como tantos ali) fosse mais depressa do que ia e não conseguisse travar a tempo, se estivesse a olhar para o telemóvel (como tantos), coisa que nunca faço, ao ponto de não o ter visto a tempo, se chocássemos os dois de frente. A Mini-Tété vai protegida (quero acreditar que sim) na sua cadeira no sentido contrário à marcha, quero acreditar que não sofreria mazelas. Mas e eu? E aquela criança, tão mal presa e em tão grande falha de segurança? Mas sou só eu que vejo o perigo? Aquele idiota que conduzia em excesso de velocidade ao ponto de nem conseguir ceder passagem obrigatória não consegue chegar às mesmas conclusões que eu?
E da mesma forma que não consigo entender quem põe assim a vida de uma criança em risco, também não compreendo o que vejo diariamente na internet, nas redes sociais, de gente que até considero que tem dois dedos de testa. Não comento, não aponto o dedo, acho que se o fazem é lá com eles, mas não compreendo:
- Sigo algumas páginas de pessoas do "jetset" e é ver crianças com menos de 3 anos a viajar ao colo dos pais, ou sentadas nos bancos apenas presas com o cinto de segurança, ou até nas suas cadeiras mas com os cintos completamente folgados. Não pensam na possibilidade de haver um acidente?
- Pessoas que tiram fotografias, filmam e transmitem directos para o facebook e instagram enquanto conduzem. Oh, senhores, eu já vi um brutal acidente acontecer porque um carro avariou, o senhor saiu do carro (foi a sorte dele) e segundos depois, um carro em excesso de velocidade com o condutor distraído com o rádio, bateu de tal maneira no da frente que este deu meia-volta. Eu própria já tive um acidente num semáforo exactamente porque a senhora atrás de mim ia distraída com o rádio e não viu que eu parei no semáforo vermelho. Porque é que pensam que controlam tudo? Porque é que acham que estar a filmar e a olhar para o ecrã "só dois segundos" não é perigoso?
- Marcas que oferecem as cadeiras às pessoas famosas com filhos com menos de 3 anos: porque é que insistem em oferecer cadeiras que vão no sentido da marcha? Porque são mais baratas? Acredito. Mas já que é publicidade do género "a-pessoa-famosa-fala-maravilhas-da-cadeira-e-toda-a-gente-vai-comprar-porque-querem-ser-iguais-aos-famosos" não seria uma tão melhor ideia fazerem publicidade às mais caras? E pôr esses famosos a falar da importância de ir contra o sentido da marcha?
- E mesmo estes famosos, aceitando prendas e parcerias com marcas, por que não têm como condição o que é mais seguro? Porque não dizem "Querem oferecer uma cadeira? Boa!Mas só se for uma que viaje no sentido contrário à marcha"?
- Pessoas que permitem que os filhos de 5 anos conduzam ao colo dos pais "apenas 50, 100 metros", admitindo que é perigoso. Mas se sabem que é porque é que fazem...?
Eu admito, sou paranóica com a condução. E infelizmente também já cometi um erro dos qual tentei tirar a maior lição possível para que nunca mais volte a acontecer. Tenho um medo imenso de conduzir mas não é por mim, é por todos os idiotas que circulam na estrada. Quando chamo a atenção para excessos de velocidade, para ultrapassagens perigosas, para o facto de não controlarmos quem vai a conduzir outros carros, oiço frequentemente a resposta "Mas se eu estiver a fazer algo legal e outro me bater, a culpa é dele e é ele que paga os estragos no carro!". A minha resposta é sempre a mesma: e se morreres, isso interessa?
"Other people make mistakes. Slow down."
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