1.7.18

A Besta

Já aqui falei algumas vezes da Besta. A Besta é o proprietário de alguns dos apartamentos do prédio onde vivo, que os aluga a todos e sempre a famílias sem grande educação ou respeito pelos outros, que grita o tempo todo sempre que cá vem e que nos tem feito a vida num inferno desde que para aqui viemos porque nos recusámos a tratá-lo como dono e senhor deste sítio. Não vou descrever tudo aquilo porque já passámos com ele, mas já atirou ovos ao nosso carro, colou-lhe papéis, ainda há semanas atirou-lhe com água suja para cima, já houve participação à polícia, são raras as vezes que passa pelo Jack sem iniciar uma discussão, estamos convencidos que já abriu pelo menos uma vez correio nosso, quando estava grávida berrou comigo de tal forma que fiquei com a pulsação a 160 bpm e no dia seguinte tive um pico de tensão alta, acordava a Mini-Tété com os berros que dava, enfim, é uma Besta. A única coisa que sempre nos deu sossego foi o facto de ele não viver aqui pelo que não tínhamos de lidar com ele todos os dias. 
Mas a presença dele afecta-nos de tal forma que basta vermos o carro dele estacionado para ficarmos os dois tensos. Nota-se nos gestos que temos e no silêncio que enche esta casa, sempre à espera que de ver quando é que ele vai embora e o ar fica mais respirável.

Há dias contei que estava a haver mudanças para o apartamento por cima de nós. É ele. Como diz o Jack, se não tivéssemos o plano B de nos mudarmos rapidamente e ainda este ano, estaríamos neste momento a viver um inferno. E não sei o que me afecta mais: se os berros a que ele sempre nos habituou ou facto de, desde que se mudou para cá, estar em quase perfeito silêncio.
Conhecem a anedota daquele homem que todas as noites ouvia o vizinho de cima a atirar um sapato e depois o outro quando se deitava, até que uma vez ouviu o primeiro sapato a cair e ficou à espera de ouvir o segundo, ficando acordado toda a noite? É mais ou menos assim que eu me sinto. Estou tão habituada a vê-lo chegar para minutos depois haver toda uma orquestra de barulhos variados, ferramentas eléctricas, pancadas e berros, que agora vejo-o chegar, sei que está cá e fico em suspenso à espera que comece a fazer barulho, coisa que inexplicavelmente não tem acontecido

Para desanuviar temo-nos entretido a imaginar tudo o que lhe pode ter corrido mal na vida (ele tem/tinha mulher e filhos) para ter vindo viver para o lugar que sempre repudiou e onde, palavras dele, sempre fez questão de meter famílias barulhentas e porcas para nos chatearem. Somos boas pessoas, a sério que somos, mas a ele desejamos-lhe todo o mal do mundo. A boa notícia é que não teremos de o aturar muito tempo. E a outra boa notícia é que os nossos vizinhos de baixo, inquilinos dele, estão-se a mudar-se.

2 comentários:

  1. Mas o q é q ele queria exactamente q voces fizessem? E ele tb se da mal com os outros proprietarios ou é so convosco?

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    1. Ele já foi o dono de todos os apartamentos, até ter vendido metade. Mas continua a achar que é o dono de prédio e que pode fazer o que bem quiser sem prestar contas a ninguém. Começou por nos tentar aldrabar na venda (não conseguiu e chateou-se), ficou a dever-nos coisas prometidas, ficou furioso e foi contra as obras que fizemos no nosso apartamento (sobretudo depois dos inquilinos dele lhe dizerem que o nosso apartamento estava bem melhor do que os dele depois das obras que ele também fez), troca fechaduras de portas comuns sem dizer nada, não paga as contas, impede que sejam feitas obras necessárias, rouba os tapetes, acha que pode fazer obras e usar ferramentas a qualquer hora sem que ninguém lhe diga nada, convenceu-se sabe-se lá porquê que me podia dar ordens (não feche a porta!, lave as escadas!, etc) e não gostou quando não obedeci...Lá está, está convencido que isto lhe pertence e que pode fazer o que quer.
      As outras proprietárias têm medo dele porque ele grita e ameaça quem lhe faz frente por isso por muito que sejam contra aquilo que ele faz nunca lhe dizem nada nem actuam contra com medo dele. Nós devemos ter sido os primeiros a não mostrar medo e a exigir as coisas bem feitas, e isso deixou-o mais louco do que já é.

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