2.4.13

Os vizinhos

No que toca ao assunto "vizinhos", eu e o rapaz lidamos com a coisa de forma diferente. A mim incomodam-me os barulhinhos, a música mais alta, os saltos altos, as conversas em voz demasiado alta, a porta a bater com força a meio da noite (aliás, a meio da noite penso que até o ressonar de um vizinho me incomodará), as discussões domésticas, o bater das panelas, e todo um sem fim de ruídos que podem existir.  Estes meus pequenos ouvidos sensíveis já me fizeram perceber que o vizinho da frente tem a viver consigo um gato e uma rapariga, embora nunca tenha visto nenhum deles. Já ele é menino para nunca ouvir nada de nada, para dormir descansado mesmo com a vizinha a fazer sapateado às 3h da manhã, um cão a ladrar ou um casal aos berros. Passo o tempo a dizer "Estás a ouvir isto?", sendo a resposta invariavelmente um "não" ou um "o quê?".
Também diferimos na forma como tratamos os vizinhos. Eu gosto de boa educação e não passo disso. Não dou confiança aos vizinhos, não pergunto como lhes corre a vida nem me permito responder a perguntas deste género, não lhes bato à porta a pedir uma caneca de açúcar, não ofereço chá em minha casa (aliás, faço de tudo para impedir que um vizinho passe a porta de minha casa). Passo por eles, faço um sorriso sem mostrar os dentes, digo um bom dia cordial e continuo o meu caminho sem parar. Tenho para mim que se der demasiada confiança, os terei sempre a bater-me à porta, a fazer convites que não quero aceitar, a saber mais da minha vida do que aquilo que quero partilhar. O karma fez com que me juntasse a alguém que é o oposto: super-simpático com os vizinhos, pára sempre para os cumprimentar e trocar dois dedos de conversa, oferece os seus préstimos (mesmo que isso implique que nos entrem em casa, coisa que me faz arrancar cabelos), faz com que sejamos convidados para jantar (nãããããoooo queeeeero). E eu não consigo deixar de lhe admirar esta veia de boa pessoa (que o fez estacionar o carro há 5 minutos atrás mesmo em frente de casa e que ainda não lhe permitiu entrar porque está à conversa com os novos vizinhos que se estão a mudar para cá), e de achar piada a que este rapaz tímido seja um encanto para com desconhecidos, mas já estou mesmo a ver que, ficando eu por casa o dia todo, serei eu a ter de abrir a porta às vizinhas necessitadas de algo ou de apenas dois dedos de conversa (o que sejamos sinceros, o meu francês nem sequer permite). Será que ele não podia ser simpático com os vizinhos dos outros (noutra terra qualquer)?

6 comentários:

  1. Só abres a porta de quiseres, deixa lá ;) É bom que ele seja assim, dar-se bem com os vizinhos é bom em alturas de crise, quando há algum problema - canos, elevadores, quando estamos ausentes vários dias seguidos, essas coisas... ;)

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  2. Oh Tete, os vizinhos podem ser de grande apoio sobretudo sendo emigrante. Não gostas de conhecer pessoas novas nem fazer amigos?

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  3. Joana, eu sei disso. Eu consigo ver claramente as vantagens de nos darmos com os vizinhos, mas para mim também há desvantagens (como eles tornarem-se uns melgas do pior, por exemplo).
    Enfim, vamos lá ver como é que isto corre. :)

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  4. Raven, gosto de conhecer pessoas e fazer novos amigos. :) Mas não faço questão que sejam os meus vizinhos. :)
    Tenho um grande sentido de privacidade e já apanhei vizinhos que a única coisa que querem fazer é ver-nos a casa toda por dentro e saber tudo sobre a nossa vida. A mulher que aluga o apartamento ao rapaz que vive no apartamento à minha frente é uma cusca do pior. Posso estar à conversa com ela à porta que ela nem me olha nos olhos, sempre a tentar espreitar por cima do meu ombro para ver como é a minha casa. Não suporto tal coisa. <=)

    Numa residência universitária, lixei-me por tentar ser mais do que cordial com os que tinham quartos ao pé de mim: desde baterem-me à porta de madrugada com os pedidos mais estranhos, desde me virem chatear cada vez que estavam entediados. E há os que abusam, os que se instalam e parece que estão em casa deles. Os que não respeitam os horários dos outros.

    Enfim, eu tenho clareza suficiente para perceber como é bom darmo-nos bem com os vizinhos, mas confesso que o meu receio de que me invadam a privacidade é bem maior. Por isso prefiro ser amiga de alguém que não viva paredes-meias comigo. :)

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  5. Pois, assim com tantas más experiencias estás escaldada.

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  6. Je suis comme ça aussi. :D






    Ju*

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Digam-me coisas. :)