31.10.17

Destralhar e organizar


Nos últimos anos, a nossa casa tem começado a transformar-se lentamente num armazém e a minha vontade de destralhar vai crescendo de forma directamente proporcional. A situação chegou a um ponto em que não encontramos rapidamente algo que procuramos, em que papéis importantes desaparecem e em que a arrumação e limpeza demoram mais tempo a fazer. A casa não está inabitável nem perto disso, calma, mas efectivamente começou a dar mais trabalho do que eu sinto que uma casa deve dar. A cada nova passagem de ano, lá estou eu a dizer "Este ano é que vou destralhar" mas depois nada feito. Problema, eu até sou uma pessoa organizada, que gosta de ter tudo bem classificado e arrumado, que gosta de ver as coisas bonitas e direitinhas, e como tal, esta casa-armazém começou efectivamente a tomar-me conta dos nervos. Por isso, nas últimas semanas decidi por mãos à obra e vai de encher sacos e sacos com coisas para deitar fora e outras para reciclar. É incrível a quantidade de tralha que uma pessoa acumula em poucos anos. Eu não tenho um espírito minimalista nem é esse o meu propósito pois efectivamente eu gosto de coisas, eu gosto de ter coisas, eu apego-me às coisas.
Sou incapaz de me desfazer dos meus livros, tenho mil cadernos dos quais não me desfaço porque acho lindos mesmo que não os use porque...os acho lindos, tenho uma pasta a rebentar pelas costuras de postais que fomos recebendo nos últimos anos (e cuja colecção está a aumentar a uma velocidade vertiginosa pois a minha mãe e a minha avó enviam todas as semanas, cada uma, um postal para a Mini-Tété), tenho roupa que já não me serve mas que acho um desperdício dar a alguém porque um dia hei-de perder peso e vou precisar dela :D, e assim continua.
Ainda assim, decidi juntar todos os papéis espalhados em pequenos montes numa única pilha cuja altura ultrapassou os 50 cm e ataquei-a, descobrindo coisas como talões de desconto cujo prazo acabou em 2013, contas para pagar e que foram ali esquecidas (ups), papéis da gravidez, uma receita que andei feita doida a procurar este Verão e cujo desaparecimento me obrigou a voltar ao médico e a pagar mais uma consulta, catálogos de roupa para bebés, cartas ainda por abrir e mais um ror de papelada. Foi tudo triado, arrumado em pastas e para aí 80% da pilha foi para a reciclagem.
A cozinha também já levou uma grande volta, quer a nível da despensa quer a nível de ver efectivamente o que é preciso, o que não se usa, o que uso mais, o que raramente uso, o que guardo apenas porque gosto e sou incapaz de deitar fora. Organizei tudo de outra forma, ficou uma cozinha mais funcional e isso tem-me dado um jeitão. Estava realmente a precisar.
O segundo quarto que temos e que serve como quarto das visitas, de escritório, de closet e de arrumo também já teve uma boa volta. Este é aquele quarto onde tudo vai parar para que o resto da casa não fique inabitável mas que rapidamente se transformou num buraco negro onde tudo o que entrasse, desaparecia (menos as visitas porque a cada vinda delas, eu dava um jeito para que ele ficasse um aspecto mais normal :D ). Mas fartei-me desta trabalheira e depois da volta que lhe dei, tem sido mais fácil o aspecto manter-se controlado.
O nosso quarto, a casa-de-banho e a sala também já tiveram dedo meu embora ainda precisem de mais. Sei bem que quando finalmente mudarmos de casa, vou aproveitar para destralhar ainda mais, mas preferi começar já o trabalho para depois não ficar com essa tarefa a sobrecarregar-me as mudanças.
Como disse, não pretendo ser minimalista, continuo por isso a ter imensas coisas, muitas deles apenas pelo significado que têm. Além do mais, não o conseguiria ser pois casei com um acumulador. Sim, o Jack é um acumulador, mesmo que não o admita. Eu talvez também seja um bocadinho mas não lhe chego aos calcanhares e estou em processo de mudança, o que é um ponto positivo a meu favor. Já o Jack é aquele tipo de pessoa que guarda tudo. Mesmo que as coisas não funcionem (porque um dia ele poderá arranjar e mesmo que não arranje...são giras e não se deitam fora), mesmo que estejam estragadas ou partidas, mesmo que não tenham qualquer utilidade. Alguém não quer mais aquelas roupas? Dá ao Jack que ele aceita  (nalguns casos guarda sem experimentar, noutros experimenta, não gosta/não serve mas guarda na mesma). Alguém anda a destralhar e não sabe o que fazer daquilo que não quer? Dá ao Jack que ele aceita. Há umas semanas esteve a trabalhar numa exposição em Paris e no fim o responsável apontou para uma série de objectos inúteis e disse que se alguém quisesse podia ficar com aquilo. Adivinhem quem disse logo que ficava e trouxe uma série de coisas para casa?
Às vezes é um bocadinho frustrante porque a sensação que tenho é que ando a arranjar espaço para que ele traga ainda mais coisas. Mas há que ter esperança e esperar que um dia o meu marido seja um bocadinho afectado por este meu espírito de "destralhar". Ou isso, ou um dia chega a casa e descobre que me desfiz de metade do recheio (e das coisas dele) sem lhe ter perguntado nada. :D

5 comentários:

  1. Destralhar faz bem à alma! :D eu era um bocadinho acumuladora, mas já me deixei disso, livro-me de (quase) tudo.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu sou um bocadinho acumuladora, tenho noção disso, o Jack não é o único culpado nesta casa. :) E sei que não vou mudar completamente o meu feitio mas se conseguir melhorar e ir-me livrando de alguma tralha, tenho noção que a minha vida se vai simplificar. :) A verdade é que depois da sessão de destralhar que fiz até me senti mais leve. :)

      Eliminar
  2. Eu adoro destralhar. Tive uns ataques desses no Verão. E estou a ganhar coragem para mais umas quantas sessões.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Somos duas. O ataque de "destralhar" que tive deu-me imenso jeito e até me senti mais leve. Por isso tenho mesmo de voltar ao ataque. :)

      Eliminar
  3. Eu adoro destralhar. Pelo menos duas vezes ao ano. Deito fora o que não preciso e até o que preciso! Detesto ter coisas em casa que não uso e que apenas ocupam espaço. Há duas semanas mudei o meu armário para Outono/Inverno e posso dizer que deitei fora três sacas enormes de roupa, uma de calçado e outra de malas. Tudo em boas condições. Por deitar fora, entenda-se "pus em sacos, afixei um papel a dizer que era para 'dar'" e deixei junto ao contentor cá da zona. Uma hora depois já tinha desaparecido tudo. Alguém há de dar bom uso. :)

    ResponderEliminar

Digam-me coisas. :)