1.6.13

1.06.2013


Há seis meses atrás estava eu a aterrar em Paris, de malas e bagagens, pronta a iniciar uma nova etapa da minha vida. Vinha cheia de alegria, porque afinal de contas esta vinda tinha-se atrasado seis meses e eu já só queria vir sem mais um dia de atraso. Vinha cansada porque os últimos dias a arrumar tudo tinham sido extenuantes, e porque a viagem de avião tinha sido feita a uma temperatura horrível, como se nos tivessem a tentar cozer. E vinha com medo, porque vinha para um país que não sendo tão estranho assim (já cá tinha estudado 9 meses) não era o meu país, era um país pelo qual eu não morria de amores, com uma língua diferente da minha. E porque vinha viver com ele. Mas disso falarei noutro post, quando fizer seis meses desde que viemos para nossa casa. Este post serve para assinalar os meus primeiros seis meses em França.

E como se passaram estes seis meses? No fundo depende da expectativa de cada um. Para o Jack, os meses correram optimamente. Dado a minha péssima experiência quando cá estudei e o facto de ter demorado 3 anos a decidir-me mudar para cá porque de facto não queria vir, ele estava convencido que eu me trancaria em casa nos primeiros meses, recusando-me a sair de casa e a pegar no carro. E eu era de facto menina para fazer isso, mas vinha com ideia de me tentar habituar o mais depressa possível, e por isso toca de conduzir, toca de ir às compras, toca de ir à farmácia, aos correios, à padaria...Por isso, para as expectativas dele, as coisas não podiam ter corrido melhor.
Depois por outro lado, temos aqueles amigos e familiares que estavam à espera que eu cá chegasse, arranjasse imediatamente emprego, desatasse a falar com uma autêntica francesa e me sentisse em França como se estivesse em Portugal. E para esses sei que as coisas não estão a ir como gostariam e que estou a ir demasiado devagar.
Para mim, é um misto de sensações. Porque como disse em cima, eu sou mesmo menina para chegar a um novo país e trancar-me em casa. Porque não gosto de mudanças e odeio sair das minhas rotinas. E aqui fiz realmente o esforço de sair de casa, tratar de coisas para nós e para a casa, pegar no carro e conduzir. Mas, por outro lado, tenho a sensação de que ainda não conduzo até muito longe, não perdi ainda o medo das auto-estradas daqui, e nas minhas poucas saídas vou a sítios onde não tenho de me expressar muito em francês. A questão do emprego é outro ponto: eu tenho enviado currículos (ainda ontem fui ao correio enviar vinte), contudo têm-me dito que não perdia nada se os fosse entregar pessoalmente. E eu sei disso. Se estivesse em Portugal era a primeira coisa que eu faria, porque sei que consigo causar uma boa impressão inicial, sei falar, sei ser simpática. Aqui, ignorando o facto de ter de conduzir para cada um dos locais, sei também que a primeira impressão não seria grande coisa, porque provavelmente não compreenderia tudo o que me dissessem, meteria os pés pelas mãos ao tentar responder, e em vez de simpática e carismática passaria uma figura de tola. E sim, eu sei que algum dia serei chamada para entrevistas, mas não me perguntem porquê tenho mais confiança em mim numa entrevista em que o meu currículo já foi visto e querem falar comigo do que antes de o entregar.
Eu já compreendo algum francês, se souber o assunto já entendo mais ou menos, se falarem devagar já entendo quase tudo, às vezes emburro numa palavra e a partir daí não há conversa que não me escape mas sei que isso ainda vai acontecer mais uns tempitos. Eu nunca fui boa a línguas, a minha memória não me permite decorar vocabulário estrangeiro, e se decoro uma palavra agora daqui a meia-hora já nem me lembro da primeira letra. Para além disso, sou uma pessoa que fala rápido português, que falo e escrevo sem dar erros catastróficos, e estando habituada a isso, tento fazer o mesmo com o francês, o que dá uma asneira enorme. Quanto mais depressa falo, pior me sai, claro, e fico irritada. E ficando irritada, fecho a boca e não quero falar mais. Mas não pensem que ando simplesmente a arranhar por aí "oui" e "non". No outro dia estive cerca de duas horas à conversa com uma francesa, por isso já me consigo fazer entender, mas tenho noção que não devo ter dito uma frase totalmente correcta. Enfim, tudo isto para dizer que se me tivessem perguntado há seis meses atrás como estaria agora, eu teria respondido que provavelmente já estaria a falar correntemente francês, que já teria arranjado um emprego, que já pegaria no carro e iria para todo o lado sem medos. E como se vê, nada disto acontece e eu sinto-me ligeiramente frustrada. Por outro lado, sei que não sou daquelas pessoas que pega numa mochila e parte à aventura, sei que não morro de paixão por França, sei que este não é o meu país e que eu não me habituo facilmente àquilo que não é meu, sei que sou medricas até aos ossos, e por isso tudo o que já consegui alcançar deixa-me menos frustrada e mais contente. Até porque acho que cada pessoa tem o seu tempo de adaptação e conhecendo-me já deveria saber que o meu será grande. Mas sobretudo, o que me deixa menos frustrada por os meus planos não estarem a correr exactamente como eu quero, é que mesmo assim foram seis meses em que me senti feliz aqui. E se me sinto feliz, então é porque não estou a fazer tudo errado.:)

6 comentários:

  1. vês que bom! passo a passo vais conseguir! em 6meses já conquistaste mtas coisas ;) beijinho

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  2. Bem não sabes o quanto me identifiquei com este post.
    Estou quase a terminar o curso, o emprego está lá fora e eu...sou tão medricas :S

    Boa sorte ;)

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  3. Angie

    Há quem tem uma coragem doida (e para quem isto nem é coragem, é simplesmente forma de ser) e pegue na mochila e se faça ao mundo. E depois há pessoas como nós que gostam das suas rotinas, do que conhecem, do que têm. Eu não gosto de provar comida nova, eu não gosto de não saber onde estou, eu não gosto de não entender o que os outros não dizem. Mas mesmo pessoas como nós conseguem adaptar-se a outro país. A adaptação é que demora mais tempo. :)

    E depois, claro, depende do país. :) Eu gosto de França, gosto da língua, mas não gosto dos franceses no geral. Acho um povo pouco dado a amizades, mais "cada um por si", pouco simpáticos com estrangeiros. Haverá outros países em que as pessoas são mais calorosas mas as dificuldades são outras. :)

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  4. Eu sou iguaaal! Então quando deixei a aldeia para vir estudar para a cidade...só penso no dia em que posso voltar lá, é o meu "ninho" :/
    Agora se tenho que ir embora...vamos lá ver como corre :(

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  5. Angie

    No meu caso, sair de casa para ir para a Universidade não me custou nada. :) Era mesmo o que eu queria e tinha sido uma opção minha (já que vivia com os meus pais numa cidade com uma Universidade muito boa). E ainda assim, ia todos os fins-de-semana a casa. :)
    Cada pessoa tem os seus níveis de coragem. :)

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  6. Eu vim do interior para Lisboa, so vou a casa de 2 em 2 meses par ai :(
    Niveis que tem que aumentar bastante para acabar o curso :S

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