Tenho a sensação que as crianças/adolescentes de hoje não sabem como se entreter sozinhos. Num mundo com cada vez mais escolhas, com cada vez mais actividades, é vê-los perdidos, sentados num sofá sem saber o que fazer para pararem de apanhar de seca. Eu própria também tive momentos de seca na idade deles e por vezes ainda tenho com esta linda idade que hoje me acompanha, ficando sem saber o que fazer e em que todas as alternativas me aborrecem. Mas era raro e continua a ser raro. No entanto, vejo miúdos sem saber arranjar algo com que passar o tempo. As consolas, a televisão, o telemóvel e a internet são óptimos chamarizes. Mas e quando acabam o jogo que lhes foi oferecido? Quando na televisão não está a passar nada de jeito? Quando os amigos estão ocupados ou não há conversa de jeito nas sms trocadas? Quando não apetece jogar nada online, conversar online, ou pesquisar sobre o que quer que seja na net? No meu tempo (linda frase para alguém prestes a fazer 29 anos), eu não brincava na rua. Já nem sequer sou desse tempo em que se saía de manhã e os pais chamavam à janela para vir jantar. Nasci e cresci numa cidade, com uma avenida às portas de casa. Mas ia para casa de amigos (a pé, de autocarro ou à boleia dos pais, conforme a idade), lia, desenhava, brincava com bonecas, brincava (e invariavelmente discutia) com o meu irmão, fazia puzzles, jogava jogos de tabuleiro, de faz-de-conta, falava com amigas ao telefone (ainda hoje tenho pena dos meus pais pelas contas de telefone que devem ter tido à minha custa), arrumava o meu quarto (não que fosse divertido, mas tinha de ser feito e ocupava o tempo), via cassetes de filmes, estava na companhia da família, sei lá....Eu não tive consolas, internet só quando tinha dezassete anos, telemóvel também com dezassete e só o podia usar em caso de emergência. Mas não era por isso que ficava a apanhar seca. Agora quando dizemos a um miúdo, que não sabe o que fazer, para ir ler ou desenhar, fica a olhar para nós como se o tivéssemos mandado ir plantar batatas para se divertir. Divertem-se apenas com três ou quatro coisas, e se estas deixam de estar disponíveis, ficam perdidos. Da mesma forma que parecem ser incapazes de estar numa mesa com adultos sem estarem entretidos com um telemóvel ou um ipad. Custa assim tanto conversarem? Estarem a ouvir as conversas? Eu também o fiz e não morri. Lembro-me apenas de uma excepção: as festas em casa da minha madrinha tinham um sofá num quarto onde toda a gente sabia que eu me ia enfiar a ler, não ficando na sala a conviver. Sempre me foi permitido aquele comportamento, talvez por eu não ser sempre assim, ou por aparecer para ver fotos caso houvesse exibição das mesmas, para cantar os parabéns, para participar nalgum jogo. Mas se os adultos tivessem apenas na conversa, eu refugiava-me nos livros. Os miúdos de hoje recusam-se muitas vezes a levantar os olhos do ecran, a participar no que quer que seja. E quando a bateria acaba, começa o drama. Nos dias de hoje há muito mais actividades, muito mais escolhas, mas tenho a sensação que os miúdos não sabem como se entreter.
E eu tenho é a sensação que os pais ensinaram os filhos que as tecnologias é que são giras e de gabarito e agora, normal, não querem outra coisa. Eu só com as Barbies tinha suficiente para todo o dia!
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