3.3.14

Filho único ou não?


Há uns tempos ouvi alguém, com irmãos, comentar que se pudesse ter escolhido queria ter sido filha única e por ela teria tido apenas um filho e não dois. E eu que sempre andei às turras com o meu irmão toda a infância e adolescência, continuo a querer que ele tivesse nascido e pretendo ter pelo menos dois filhos. É verdade que eu e o meu irmão não fomos os companheiros de brincadeiras que podíamos ter sido e não fomos (e não somos) de todo os melhores amigos um do outro. Levamos vidas independentes e é assim que nos entendemos. Por isso, não fomos aquele tipo de irmãos que todos sonhamos ter, aquele companheiro de vida, de jogos e de partilha. Mas ainda assim eu gosto da ideia de ter um irmão. E gosto sobretudo que ele tenha uma irmã, porque eu sei que se ele precisar e os meus pais não lhe puderem valer, eu estou aqui e ele não estará sozinho. E isto deixa-me tão mais descansada em relação a ele que é inexplicável. E por isso quero que os meus filhos, mesmo que sejam como nós, mesmo que cada um tenha o seu grupo de amigos independente, que prefiram brincar sozinhos porque juntos não se entendem, porque os gostos não têm nada em comum, sintam que um dia, se os pais já cá não estiverem, têm alguém com quem podem contar.
E para além disto, e este é um pensamento diferente: o facto do meu irmão existir, vai dar a oportunidade aos meus filhos de terem um tio. E um dia quem sabe, uma tia. E primos. Já os teriam de qualquer modo do lado do Jack, mas agrada-me saber que então terão dois tios. Se fossemos os dois filhos únicos, os nossos filhos nunca teriam esta segunda família de suporte. E se eu tiver dois filhos, então os meus netos também terão tios, e eu gosto de pensar assim. Porque mesmo com uns tios que só vejo uma ou duas vezes por ano (ou nem isso, nalguns casos), adoro-os e sei que eles gostam de mim, e que se algo acontecesse eu podia contar com eles. No fundo, a minha família é assim: seja por motivos geográficos (caso dos tios) seja por motivo de feitios (eu e o meu irmão) que não estamos mais presentes na vida uns dos outros, a verdade que sabemos que podemos contar uns com os outros. Por isso ainda bem que eles existem.

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