12.11.14

Mudamos por amor?


Há uns dias conversava com uma amiga sobre esta coisa de querermos mudar a pessoa com quem estamos. Se eu mudei desde que conheci o Jack? Sim, mudei. Primeiro, porque eu própria evoluí naturalmente (ou coitada de mim que manteria a mentalidade e pensamentos que tinha aos 20 anos), segundo, porque estando numa relação, esta evolução acaba por ser condicionada pela pessoa com quem estamos. O Jack torna-me mais aventureira (ou nunca mas nunca na vida teria arriscado na compra de um apartamento nem estaria agora a avançar com a possibilidade de compra de uma casa). Por outro lado, eu travo o Jack com a minha ponderação e impeço-o de chegar a casa todos os dias com algo novo ou de se lançar diariamente em mil projectos diferentes para os quais nunca teria tempo nem capacidade financeira imediata. Mas com isto eu não deixo de ser a mais cautelosa, a medricas, a indecisa nem ele de ser o aventureiro, o homem com mais ideias à face terra e que até me faz estremecer quando o oiço dizer "Acho que vou comprar um....!". Ou seja, a nossa essência não mudou. E por isso, estar com alguém e esperar que essa pessoa mude por nós é praticamente impossível e, para mim, uma tarefa desgastante.

Por exemplo, eu sempre disse que queria alguém ao meu lado que fosse romântico e não fumasse (entre outros requisitos, mas falemos agora destes dois). O Jack cumpria esses requisitos quando comecei a namorar com ele e por isso imaginem o meu espanto quando passado cerca de um ano, o homem decide perguntar-me o que é que eu acho de ele começar a fumar (parvoíces dos vinte anos, só pode). Disse-lhe que achava mal, que para mim era um acto idiota, pouco saudável mas que eu não era ninguém para o impedir. A única coisa é que eu merecia alguém ao meu lado que não fumasse, e se ele começasse a fumar, então não era a pessoa certa para mim. Ponto. Ele tinha o direito de fumar. Eu tinha o direito de ter alguém não fumador. Nem pensei na hipótese de ficar com ele e esperar que um dia ele deixasse de fumar. Felizmente, o homem teve cabeça e nem sequer arrancou com tal ideia, o que nos permitiu ficar juntos até hoje. E mesmo hoje, ele sabe que se vier com a ideia de fumar, as coisas não correrão bem porque eu tenho o direito de querer ao meu lado alguém que não me torne num fumador passivo (e que não cheire mal, nem tenha mau hálito, etc, etc), assim como ele tem o direito de fumar, só que estes dois direitos não são compatíveis com uma vida em comum.

Da mesma forma que ao fim de quase 10 anos de relação o romantismo já não é como no início e eu continuo a ser a mais romântica dos dois, mas isso não me impede de, de vez em quando, relembrar o Jack que uma das características dele que eu realmente gosto é o romantismo que eu sei que ele tem. Porque eu sempre quis alguém romântico ao meu lado e escolhi-o por ele o ser, por isso tenho o direito de querer manter essa característica activa. Se ele não o fosse desde o início, seria apenas tolo da minha parte estar a tentar que fosse romântico quando isso não faz parte da sua natureza. Bom, mas se calhar aí nem sequer teria começado a namorar com ele, certo?

E dizia eu a essa amiga que isto de querer mudar os outros é tão estúpido como eu querer agora que o Jack passe a adorar fazer-me o jantar. Ou mesmo que o Jack queira que eu agora passe a adorar fazer o jantar para ele. Porque a verdade é que nenhum de nós morre de amores pela cozinha e isso é uma característica nossa que seria tola de tentar alterar. E se eu decidir hoje que tenho o direito de querer alguém que ame cozinhar (porque felizmente no mundo de hoje temos o direito de escolher quem temos ao nosso lado), então cabe-me a mim procurar essa pessoa em vez de
alterar aquela com quem estou.

Se o Jack é perfeito? Não (nem eu!). Se há coisas neles que eu alteraria? Sim (e ele em mim). Mas são coisas essenciais para ele ser o Príncipe da minha vida? Não. Como já uma vez disse a alguém: no dia em que eu casei com o Jack, casei com todas as qualidade e defeitos que ele tinha nesse dia e que me faziam ter a certeza que eu era capaz de ficar com ele para sempre. Se ele alterar alguma coisa (como deixar tudo espalhado, por exemplo), óptimo. Mas se ele não mudar nada, não faz mal, porque da maneira como está, ele já cumpre todos os pré-requisitos que fazem dele a pessoa certa para mim.

Mudamos por amor? Um pouco, sim. Mas não deixamos de ser quem somos.


4 comentários:

  1. Adoro este casal eheh :)
    Beijinhos para os dois

    Joana

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  2. Um texto muito bom.

    Mudamos, sim, é claro. Por vezes é difícil distinguir se aquilo que mudamos é por causa da outra pessoa, ou se é uma mudança que ocorreria na mesma se aquela pessoa não existisse. Mas o ser humano é assim: muda sempre, nem que seja impercetivel ao princípio, por causa de outras pessoas, sejam eles namorados, amigos, familiares, inimigos.

    O D* mudou certos aspetos desde que começámos a namorar, mas lá está: mudou pequenas coisas que facilitam a nossa vida juntos, não mudou a essência. Da mesma forma que eu mudei.

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  3. Ariadne, exacto. Todos mudamos com o tempo e por influência da pessoa com quem estamos. Mas nunca a nossa essência. Não se pode pedir a alguém que não é romântico para passar a sê-lo naturalmente, a alguém que odeie cozinhar para passar a cantarolar enquanto o faz.

    Uma pessoa não romântica pode sempre fazer um gesto, uma surpresa, quando lhe é pedido isso. Mas não se torna romântico naturalmente.
    Eu, que não gosto de cozinhar, cozinho todos os dias para mim e para o Jack. Mas continuo a não gostar de cozinhar.

    O Jack é doido por carros. Eu não tenho interesse nenhum (mas nenhum mesmo). No início do nosso namoro cheguei a saber as características TODAS do bmw m3 à custa de tanto o ouvir falar dele. Mas não é por hoje conseguir debitar informações sobre carros, que passei a ter o mínimo interesse por eles. E continuo a cortar-me ir a Feiras do Automóvel e coisas parecidas a quem ele vai com os primos. Podemos mudar um pouco (interessarmo-nos o suficiente para decorar algumas informações e aprender algumas coisas) mas nunca totalmente (ao ponto de passar a gostar de carros).

    Agora, claro que há cedências. Na nossa lua-de-mel apanhámos um rali. E eu aceitei ir ver a apresentação dos carros (seeeeca) e ele aceitou não me arrastar para as pistas para ver os carros passar, por muito que quisesse ver. =P

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