Nos últimos dias, tenho andado a viver basicamente num forte nevoeiro. Uma pessoa acorda e está nevoeiro, à tarde está nevoeiro e quando se deita, nevoeiro está. E eu que nem sou pessoa a quem o tempo tem alguma influência no estado de espírito, começo a ficar assim um bocadinho farta deste nevoeiro por uma única razão: é uma treta para conduzir. Terça-feira, já a noite tinha caído, tive de pegar no carro e ir ter com o Jack para jantarmos com uns familiares. Tudo muito bem, música no rádio a tocar e lá vou eu...até perceber que não via um corno à minha frente e tinha-me esquecido de como se ligavam as luzes de nevoeiro. Ligo ao homem que me explica e depois de conseguir por duas vezes apagar todas as luzes do carro (o que acreditem dá um jeitão imenso quando se está a conduzir, de noite, no meio de uma floresta), lá consegui acender as luzes certas. Ao menos assim já era vista, embora continuasse a ver simplesmente uma parede branca à minha frente. E lá fui eu, devagar devagarinho, a tentar não sair muito da estrada e não me espetar contra uma árvore, adivinhando o caminho quase às apalpadelas e a pensar que podia estar um javali enorme à minha frente que eu só daria conta dele quando ele já estivesse sentado no banco ao meu lado. Ainda pensei que fosse azelhice minha, que os outros condutores nem veriam o nevoeiro e continuariam a andar como se nada fosse, mas de regresso a casa percebi que o Jack, que se seguia à minha frente, estava com as mesmas dificuldades. Quarta-feira, nova aventura, mais nevoeiro e eu só pensava que a qualquer momento podia atropelar D. Sebastião, esse que se perdeu no nevoeiro e que se calhar até tinha vindo parar a França, pois se eu com luzes praticamente não via nada, ele então não deveria ver as próprias mãos. De regresso a casa, sozinha, dei por mim a pensar que este nevoeiro à noite cria a ilusão de estarmos sempre rodeados por árvores o que me estava a trocar completamente os pontos de referência (sim, sim, admito: tenho conduzido a pensar "vá, agora sei que há aqui uma curva à esquerda....cá está ela....óptimo....agora vou em frente e quando passar uma lomba, a estrada vira ligeiramente para a direita....exacto....agora entro da floresta que tem uma curva-contracurva...", ou seja, literalmente a fazer o caminho às apalpadelas e com recurso à memória). Resultado: dei por mim sem saber onde estava e durante uns segundos convenci-me que já tinha passado por casa e que mais tarde ou mais cedo daria por mim no Luxemburgo. Estava enganada, felizmente, e passado uns minutos consegui perceber novamente onde estava mas não ganhei para o susto. E por isso, estou assim a ficar um bocadinho farta deste nevoeiro. Até porque hoje temos novamente um jantar marcado e eu não quero ficar conhecida como a "Tété que desapareceu no nevoeiro e nunca mais voltou".
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