22.10.15

O parto #2

Chegados ao hospital, fui às urgências fazer um CTG (que serve para registar a frequência cardíaca do bebé e as contracções uterinas) e pela primeira vez o aparelho registou contracções. Pronto, não estava mesmo a sonhar, estava efectivamente em trabalho de parto e o pânico começava a instalar-se devagarinho. Avisei logo que queria a epidural e responderam-me prontamente que ainda não tinha dilatação suficiente para isso. Bolas! Não é que tivesse dores assim tão insuportáveis mas também não fazia questão de as ter por isso, por mim, podia começar a receber drogas o mais cedo possível. E embora as dores não fossem insuportáveis, a verdade é que já faziam mossa e perguntei se o Jack podia ir ao carro buscar a bola de pilates que tínhamos levado e que dizem fazer maravilhas ao nível das contracções. Disseram-me que a sala de partos tinha uma e se queria ir para lá. 'Bora lá que assim até já estou no local certo quando o anestesista for chamado. 

Entrando na sala de partos, as dores já estavam a um nível muito desagradável e eu entrei no meu modo "insuportável". A sensação que tinha é que as costas se iam abrir ao meio, os exercícios na bola de pilates nada ajudaram, o duche de água quente que me propuseram nada ajudou também, as massagens do Jack também nada e eu já dava murros no colchão, já me torcia toda e implorava pelo anestesista, recebendo sempre a informação que ainda não era possível. Olhando agora para trás tenho a dizer-vos que embora o raio das contracções fossem meeeesmo dolorosas (mas porque é que não fiz parte daquela percentagem pequenina de mulheres que não sente dores, porquêêêê??), não matam uma pessoa e que senti o dobro do que sentiria se não tivesse entrado em pânico.

E isto é importante ressalvar. Eu estava efectivamente em pânico. Eu não sabia se aquelas dores que eu sentia eram apenas um décimo do que aquelas que eu ainda sentiria até chegar o anestesista (e esta possibilidade dava cabo de mim mais do que as dores propriamente ditas), eu não sabia se já poderia receber a epidural daí a meia-hora ou só daí a cinco horas (e a ignorância desesperava-me), eu não tinha a certeza que o anestesista viesse, enfim, estava em pânico, não queria estar ali, não queria estar a sentir tudo aquilo e todo aquele medo. E depois convenhamos...eu sou uma pessoa muito pouco tolerante à dor. Tenho a sorte de não sentir grandes dores (não tenho dores menstruais, já tive cáries junto ao nervo sem qualquer dor mesmo com a dentista a dizer ser impossível, etc) e por isso aquelas que sinto metem-me medo. Eu não gosto de medir a tensão porque o aparelho me aperta o braço e magoa. Podem portanto ver que a minha escala de desagrado com a dor começa baixinho, baixinho. E depois é preciso ver também que eu sempre tive medo do parto. Portanto, logo quando ainda não sentia dores já toda eu tremia de medo.
Por isso, posso afirmar que, olhando agora para trás, se me tivessem dito "Tété, receberás a epidural às 9h e o nível de dor que sentes não aumentará até lá" eu não teria feito nem metade do drama que fiz e a dor teria sido muito mais suportável. Fui uma Drama Queen com rasgos de inspiração desde pedir ao Jack que me levasse para casa porque eu não estava pronta para ter um bebé naquele dia, a achar que a médica estava a conspirar contra mim e que não ia nada chamar o anestesista quando disse que o faria, ou até a sair-me um "Je vous aime!" quando o anestesista entrou na sala de partos (vá lá, que este até me achou piada e acabou na galhofa com o Jack). Que figurinha, Tété, que figurinha...

6 comentários:

  1. Oh meu deus, adoro a tua honestidade e ao mesmo tempo dá-me pânico! É aquele tipo de situação que não sabemos como vamos reagir. Mal posso esperar pelos próximos episódios (apesar de saber que a história acaba bem :D)

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  2. Por esta e por outras, é que vou querer uma cesariana. Tudo marcado, tudo com certezas e segurança.
    Compreendo-te perfeitamente e ficaria muito pior que tu com a incerteza...
    És uma corajosa :)

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  3. Ariadne

    Estou mesmo a tentar ser o mais honesta possível pois acho que são relatos assim que podem ajudar. E tal como disse, se eu soubesse a que horas ia levar a epidural e se soubesse que o limite de dor que ia sentir era aquele, tinha aguentado sem grandes fitas e dramas porque efectivamente as dores que senti eram suportáveis. O medo é que as tornou 1000 vezes pior. :)

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  4. Anónimo das 16:52

    Durante anos e anos sempre disse que filhos só se fosse por cesariana. Mas depois quando se engravida e se é seguida no serviço de saúde público não te deixam propriamente escolher. Eu ainda andei a rezar aos santinhos que a cachopa ficasse sentada até ao fim da gravidez porque nestes casos o normal é ir para cesariana. Mas depois nas aulas de preparação para o parto, fiquei sem pinga de sangue quando ouvi que não era assim tão pouco comum fazer partos normais mesmo com bebés sentados e que "apenas" custava mais. E aí passei a rezar para que ela desse a volta e ficasse de cabeça para baixo até ao fim! :P
    E depois, lendo sobre a cesariana, a recuperação, o facto de não deixar de ser uma cirurgia...Enfim, também não é assim a opção 100% perfeita.
    Mas compreendo-a perfeitamente quando diz que prefere a cesariana!! :D

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  5. :)
    estou em Lisboa e estou a ser seguida no privado apenas para poder escolher...
    Bem sei que é uma cirurgia e tem recuperação mais lenta... mas é tudo previsível, não se passa por incertezas. Para as dores de recuperação, tomamos analgésicos. Para cuidar do bebe, o pai faz mais nos primeiros tempos (recuso-me a usar a palavra "ajuda", o filho é dos 2, ninguém ajuda ninguém).
    É a minha opção, claro, mas acho-te uma corajosa por saberes da tua baixa tolerância à dor e ainda assim não teres optado pelo privado (isto caso pudesses optar, claro, eu posso porque tenho seguro e adse - sou uma sortuda).

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  6. Anónimo das 17h10

    Se estivesse em Portugal poderia ter optado pelo privado pois também aí tenho um bom seguro de saúde, que mesmo podendo usar no estrangeiro optei por não o fazer pois as "regras" acabam por ser diferentes aqui. Por cá também temos um seguro de saúde e mesmo tendo tido a bebé num hospital público, dei-me ao "luxo" de escolher um quarto só para mim, com casa-de-banho privativa, com o Jack a lá poder passar a noite, e o seguro cobre isto. Países diferentes, com seguros diferentes e regras diferentes. Uma complicação. :P

    Oh, e eu não defendo o parto normal nem a cesariana. Vejo vantagens nos dois. A única coisa que eu defendo é a epidural!! :D Até porque a recuperação depende de cada um: encontram-se relatos de pos-partos horríveis, pontos, dores, e de recuperações de cesarianas óptimas. E o contrário também. Se formos por aí, nenhuma das opções era boa. :D

    Eu uso a palavra "ajuda" embora compreenda bem o que diz. ;) Estando os dois em casa 100% disponíveis, então o trabalho é igualmente dos dois. Estando um mais disponível que o outro, considero que o que não está tão disponível acaba por "somente" ajudar o outro, mesmo que faça o seu melhor. Por isso é que uso essa palavra, embora não goste da maneira como é usada geralmente, como se a responsabilidade fosse apenas de um.

    E não sou nada corajosa (estive em negação até à última! :) ). Se assim fosse não me tinha deixado dominar pelo pânico! :D

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Digam-me coisas. :)