A alimentação de bebés é assunto que dá pano para mangas e façamos o que fizermos haverá sempre alguém que vai achar que estamos a fazer algo errado porque essa pessoa fez/faz/faria de forma diferente. Pessoalmente, aconselho os pais a informarem-se e a gerirem a alimentação dos seus filhos conforme aquilo com que se sentem mais à vontade e adaptando-se aos filhos e às situações. Por aqui, introduzimos as sopas, papas e frutas com 5 meses, embora a ideia inicial fosse introduzir apenas aos 6 meses. Mas como nessa altura estaríamos de viagem, Mini-Tété estaria pela primeira vez em Portugal, fora do seu ambiente, fora das suas rotinas, decidimos com a aprovação da médica adiantar um mês a introdução. E Mini-Tété é uma bebé que come bem, não há como negar. E acreditando que grande parte deste comportamento faz parte do seu feitio, acho também que nós pais temos influência na forma como os nosso filhos comem. Não acho que todos os bebés sejam iguais e como tal não acredito de todo que haja uma única fórmula que funcione, mas deixo aqui a nossa fórmula (também a pedido de amigas que me aconselharam a escrever todos os meus truques num caderno para depois lhes passar; assim fica aqui o registo):
- Pouco stress. Vejo frequentemente pais ansiosos com a primeira sopa/papa do bebé e a ficarem desiludidos quando este rejeita a colher, convencendo-se que ele não gostou da sopinha feita com tanto carinho pela mãe. É normal que um bebé que sempre mamou, que nunca teve uma colher na boca, estranhe aquele objecto e nem sequer saiba para que funciona. Além do mais, há ainda o reflexo de extrusão que basicamente consiste em expulsar para fora da boca alimentos ou objectos de forma a que o bebé não se engasgue ou sufoque. Este reflexo só passa por volta dos 4-6 meses, pelo que é também natural que ao tentar introduzir a colher na boca de um bebé que ainda tenha este reflexo, o vejamos a empurrar a colher com a língua. É um reflexo, não significa que ele não goste da sopa. Mais vale assumir que a primeira sopa/papa não vai correr bem para não stressar nem os pais nem o bebé. Também me lembro que as primeira sopas e papas na presença dos avós (já comia ela há 1 mês) corriam pior, talvez pela agitação a toda a sua volta, e que uma vez chegámos a sentarmo-nos no chão num canto da sala, junto a uma janela a dar-lhe de comer, afastando-a assim da confusão. Poucos estímulos porque comer já é um grande estímulo ao início.
- Dar tempo. Mini-Tété não foi excepção à regra e obviamente não comeu nada da sua primeira sopa. Assumi por isso uma atitude anti-stress e decidi que lhe daria uma semana para perceber o que era a colher, caso não percebesse, nessa altura tomaria outras atitudes. E assim foi, uma semana em que não comeu praticamente sopa nenhuma, em que passou de rejeitar a colher para tentar mamar nela com um ar muito desconfiado, e por fim perceber como é que aquilo funcionava. Todos os dias lhe dava um bocadinho de sopa, ao fim de umas quantas tentativas parava e mais tarde dava-lhe um biberão (não logo para não os habituar a recusar a sopa de forma a passarem logo para o leite, tão mais fácil de beber), sem permitir que ela chegasse a um ponto de saturação e irritação com a colher. A quantidade de sopa ingerida todos os dias foi aumentando e quando achei que só esta já a alimentava, deixei de complementar a refeição com o biberão (cuja quantidade de leite eu também já ia diminuindo). Também experimentámos várias colheres e aquela com que nos demos melhor foi uma da Avent, por ser menos larga e menos grossa que as outras, entrando assim melhor na boca dela. Mas há bebés que preferem colheres mais moles, de silicone, por isso é uma questão de experimentar.
- O reflexo de gag. Oh, este reflexo horroroso que salva a vida dos nossos bebés mas que a nós nos deixa com o coração nas mãos. Basicamente, é um reflexo como se estivessem quase a vomitar, a puxar o vómito, mas que no fundo lhes permite puxar para a frente da língua alimentos ou objectos que foram para trás, e que precisam de ser expulsos ou melhor mastigados. Aqui tenho de ser sincera e odiei terminantemente ver a Mini-Tété a ter este reflexo, o coração parava-me cada vez que a via fazer aquilo, um bocado na dúvida se ela se desembaraçaria sozinha ou se estaria mesmo a sufocar. Houve dias em que eu só queria que ela crescesse e comesse como gente grande para eu poder acalmar o meu coração. Imagino que para quem não saiba o que isto é, o susto seja ainda maior, por isso fica a dica.
- Não insistir. Aqui segui as palavras sábias do pediatra Mário Cordeiro que diz basicamente que nenhuma criança saudável recusará comida se tiver fome. Bom, isso e o meu pouco feitio para refeições intermináveis e repletas de choro. Como disse em cima, Mini-Tété come bem mas desengane-se que pense que não chegou a acontecer sentá-la na cadeira, colocar-lhe a colher à frente da boca e ela recusar-se simplesmente a comer. Uma tentativa, nada, duas tentativas, nada, três tentativas, acabou-se. Recusei-me sempre a insistir que ela comesse até que ela chorasse (e chorasse eu com os nervos). Não quer comer? Não tem fome. Coloco-a no chão, brinca um bocado e passado meia-hora ou uma hora, volto a tentar. E geralmente (para não dizer sempre porque não tenho a certeza) a sopa é toda comida.
- Zero distracções. Mini-Tété nunca comeu a ver televisão (bom, ajuda o facto de no 1° ano de vida não ter visto televisão de todo), nunca houve cantorias e palhaçadas para ela comer. Assumo aqui que a culpa é minha: não tenho feitio para andar a fazer macacadas para ela comer. Se tem fome, come. Se não tem fome, espera-se que tenha. Aqui foi efectivamente uma daquelas coisas em que a bebé se moldou ao carácter da mãe e, aqui entre nós, ainda bem. Facilita-nos muito a tarefa, não há birras à hora da refeição, não temos de andar com iPads atrás de nós para a distrair para comer, etc. Também ajuda o facto de cá em casa haver a regra de "nada de tecnologias à hora da refeição". Seria portanto um contra-senso os pais não usarem telemóveis nem televisão à hora do jantar, mas a bebé ter direito a qualquer uma destas coisas.
- Zero alternativas. Optámos por não oferecer nada à Mini-Tété como alternativa quando ela não quer comer a sopa. Se não tem fome para comer sopa, também não terá para outras que ela por ventura até comeria por gulodice. Assim, não há birras do estilo "Nããããooo quero sopa, quero antes um prato de papa/um gelado/um mil-folhas/uma bola de berlim". Mini-Tété não sabe o que é haver uma alternativa à sopa por isso não a pode exigir. Em horários apertados em que era preciso mesmo que ela tivesse alguma coisa no estômago pois não haveria possibilidade de a alimentar na hora a seguir por exemplo, abríamos a excepção à fruta que ela tanto adora e era dada esta em detrimento da sopa. Ainda assim, muitas vezes era feito o jogo de "uma colher de fruta/uma colher de sopa". Agora mais crescida, já aconteceu abanar a cabeça quando vem a colher de sopa porque quer a fruta ou quer um bocado de pão ou queijo que entretanto viu em cima da mesa, mas também a habituámos a "Comes uma(s) colher(es) de sopa primeiro e a mamã já te dá um bocadinho de pão/queijo/fruta/arroz/etc", até a sopa estar toda comida. No fundo, a sopa é a refeição e é a isso que ela está habituada.
- Não insistir novamente. Quando finalmente percebem como funciona a colher, há que não cair na tentação de os querer obrigar a rapar o prato. O apetite não é sempre o mesmo e para quê estragar uma refeição que correu tão bem com umas últimas colheres alagadas em choro e recusa? Se comeu menos ao almoço, há-de lanchar melhor. E se comeu menos um dia inteiro, comerá melhor no dia seguinte se não estiver doente. Uma refeição ou um dia de pouca comida não é motivo de stress se eles aparentarem estar bem. Até porque eles passam por picos de crescimento e de desenvolvimento em que comem mais e comem menos.
- Nada de doces. Um dos nossos objectivos para o primeiro ano de vida da Mini-Tété é que esta não tivesse contacto com bolos, chocolates e afins. Obviamente que foi uma decisão difícil de manter pois nem toda a gente compreende e aceita, mas levámo-la a cabo, conscientes de que seria o melhor para ela e para nós. Atenção que Mini-Tété comeu papas (não aprecia, gosta mais de iogurte natural sem açúcar com fruta ao lanche) e de vez em quando rói uns biscoitos para bebé, ou seja, não tem uma alimentação completamente isenta de açúcar. Mas achámos que com tantos sabores para conhecer, não havia necessidade de introduzir tão cedo os sabores doces de bolos, croissants, chocolates, etc. Além do mais o açúcar e o chocolate não deixam de ser estimulantes (da mesma que não lhe damos café também não faz sentido dar isto). Assim mais uma vez evitou-se birras por querer um croissant em vez da fruta ou coisas semelhantes. Com 1 ano e 2 meses chegámos ao ponto de lhe poder passar para as mãos um quadradinho de chocolate para ela nos dar à boca, pois ela sabe que não é para ela.
No Natal, o marido de uma amiga perguntava-nos se a Mini-Tété gostava de qualquer coisa que já não me lembro (seria sumo?), respondemos que não sem nos alongarmos muito mais. E a minha amiga que já nos conhece de ginjeira acrescentou "Na verdade, eles não sabem se ela gosta porque nunca lhe deram a experimentar, não é?". É, é isso, eu não sei sei Mini-Tété gosta de café, de chocolate, de pão-de-ló, de bolas de berlim, de gelados, de batatas fritas, de mousse, de farturas, de algodão doce, de ice tea, de sumos, de cachorros quentes, etc, porque ela nunca comeu. Mas sei que adora fruta cozida, que quase cai da cadeira à hora do lanche com o iogurte misturado com fruta, que adora pão, que delira com queijo, que come as sopas todas que lhe dou sejam elas do que forem, que gosta muito de arroz, que até come massa mas não engraça com a batata cozida. Mas aceitamos tanto que esta é a nossa maneira de fazer as coisas e que a maior parte dos casais que conhecemos não o faz, que geralmente preferimos não estar com grandes explicações sobre a razão pela qual supostamente a Mini-Tété "não gosta" de certas coisas.
No Natal, o marido de uma amiga perguntava-nos se a Mini-Tété gostava de qualquer coisa que já não me lembro (seria sumo?), respondemos que não sem nos alongarmos muito mais. E a minha amiga que já nos conhece de ginjeira acrescentou "Na verdade, eles não sabem se ela gosta porque nunca lhe deram a experimentar, não é?". É, é isso, eu não sei sei Mini-Tété gosta de café, de chocolate, de pão-de-ló, de bolas de berlim, de gelados, de batatas fritas, de mousse, de farturas, de algodão doce, de ice tea, de sumos, de cachorros quentes, etc, porque ela nunca comeu. Mas sei que adora fruta cozida, que quase cai da cadeira à hora do lanche com o iogurte misturado com fruta, que adora pão, que delira com queijo, que come as sopas todas que lhe dou sejam elas do que forem, que gosta muito de arroz, que até come massa mas não engraça com a batata cozida. Mas aceitamos tanto que esta é a nossa maneira de fazer as coisas e que a maior parte dos casais que conhecemos não o faz, que geralmente preferimos não estar com grandes explicações sobre a razão pela qual supostamente a Mini-Tété "não gosta" de certas coisas.
E são estas as minhas dicas. Repito que não acho que sejam uma fórmula que funcione para todos os bebés pois baseiam-se na minha realidade, na bebé que temos e no tipo de pais que somos. Acredito que haja pais que possam ler e pensar que nunca na vida isto funcionaria com os seus bebés (ainda assim convido a tentar, eu própria aplico coisas às rotinas da Mini-Tété que vi serem usadas em bebés completamente diferentes dela) e outros que se identificarão com esta maneira de fazer as coisas. Também não acho que tudo o fazemos é correcto e que qualquer coisa que fuja a estas minhas dicas seja errado, muito pelo contrário. Afinal, a alimentação dos bebés é um mundo.
ADorei ler o teu post.
ResponderEliminarÉ muito daquilo que penso que quero fazer quando tiver um filho.
A minha cunhada, com o mais velho, não lhe deu a conhecer nem doces, nem mc donalds nada. Só quando entrou para o primeiro ano e viu os outros a falar é que chegou a casa e pediu à mãe para ir ao Mc. Foi. Vai. Esporadicamente. E eu gosto disto.
Beijinho*
É uma maneira de fazer as coisas que não invalida nenhuma outra. :) Eu dou biscoitos de bebé à Mini-Tété, já dei papas e de vez em quando come sopas e frutas de boião quando a situação assim nos é mais conveniente. Acredito que para muitos pais e mães todas estas coisas sejam erros. :)
ResponderEliminarA amiga que falo no post faz as coisas de forma bem diferente de mim e isso não significa que as faça mal. Faz o melhor que sabe e que pode, tal como eu. :)
O segredo parece passar mesmo por não dar mais NADA enquanto não comer o que tem de comer. O meu sobrinho faz sempre birra para comer a sopa e come mal outras coisas porque está sempre a comer gulodices. ;)
ResponderEliminarS*
ResponderEliminarAhahah, sim, eu vi uma fotografia de um brigadeiro há pouco tempo. :P De qualquer forma, é como dizes, as gulodices podem nem ser um problema pois mesmo se lhe dessem coisas mais saudáveis a comer, ele provavelmente recusaria a sopa na mesma pois ficaria sem fome.:) O truque é mesmo não dar mais nada, ou quanto muito ir intercalando. Nós fazemos isso às vezes:
- Queres queijo? Então vamos comer 3 colheres de sopa e eu dou-te um bocadinho de queijo (e só dou mesmo depois das 3 colheres).
- Mais um bocadinho? Então mais 4 colheres de sopa e depois dou-te mais um bocadinho.
E ela sabe que escusa de espernear porque enquanto não comer algumas colheres de sopa eu não lhe dou aquilo que prometi. Depois tenho é de cumprir e dar mesmo para que confie na minha palavra. :)
Mas eu entendo o teu sobrinho: até eu que gosto muito de sopa, prefiro um brigadeiro a esta. :D