4.5.19

Mãe-a-tempo-inteiro vs Mãe trabalhadora

Estando agora a trabalhar, achei que seria interessante comparar aqui a vida enquanto mãe-a-tempo-inteiro e enquanto mãe-trabalhadora, porque obviamente há diferenças, ambas têm os seus prós e contras e também porque pode ser útil ler para quem trabalha e tem o desejo de ficar em casa e vice-versa. 

- Dinheiro: esta é fácil. Uma das vantagens de ser mãe trabalhadora é o facto de ganharmos o nosso próprio dinheiro. Existe quem não veja nisto uma prioridade desde que o salário do marido chegue para as despesas mas há também quem o sinta como uma necessidade, não gostando de estar dependente de outra pessoa. Eu gosto de ter o meu próprio salário embora viver apenas com o salário do Jack a entrar em casa não me fizesse sentir mal, sentindo apenas que um único salário numa família é sempre uma situação mais instável.

- Custos: Aqui, a partir dos 3 anos a escolaridade é gratuita. E obviamente que antes disso, pagar uma creche ou a uma ama (parece-me ser o mais comum por aqui) teria um custo, que não seria baixo. Ficar com a Mini-Tété em casa libertou-nos dessa despesa e agora, mesmo sendo a escola gratuita, o horário não é compatível com um trabalho a tempo inteiro (4 dias por semana, das 8h30 às 16h30), pelo que é preciso pagar o ATL antes e/ou depois da escola e ainda às quartas-feira todo o dia. É também preciso acrescentar o preço da cantina (varia segundo o escalão salarial dos pais, sendo que o preço máximo é 7€ por refeição) e o seguro escolar. No dia-a-dia, acrescento agora a gasolina que gasto em muito maior quantidade.

- Disponibilidade: esta é das que ainda me custa. Durante 3 anos estive disponível para a Mini-Tété fosse em que situação fosse, e não sendo uma criança muito dada a doenças, tem grande tendência para aquelas viroses que lhe dão 3 dias de febre e que se vão embora da mesma maneira como chegaram. Não estando a trabalhar, tinha a liberdade de poder ficar em casa com ela nestas alturas ou noutras em que não a achasse tão em forma para ir para a escola. Da mesma forma que deixei de estar tão disponível para a acompanhar melhor na adaptação à escola e ao ATL, deixei de estar tão presente na escola e de conseguir falar tão facilmente com a educadora, de conhecer as outras mães e crianças, e tudo isto ainda me faz alguma confusão.
Em relação ao tempo que estou com ela, como a Mini-Tété estava a fazer um horário reduzido na escola (12h semanais) passávamos muito tempo juntas durante a semana, tempo esse que foi reduzido para os finais de dia e fins-de-semana. Há dias que me custam mais do que outros, porque de alguma maneira me sinto a falhar para com ela quando sinto que às vezes ela precisa mais de mim ou porque sinto saudades de algumas das nossas rotinas calmas durante o dia.

- Vida de adulto: é definitivamente diferente passar o dia em casa com uma criança com menos de 3 anos e lidar com adultos num dia de trabalho. Eu lembro-me da inveja que cheguei a sentir em certas fases por o Jack almoçar sossegado sozinho ou com outros adultos. Eu percebo, a sério que sim, a vontade de muitas mães de largarem os seus empregos e ficarem com os filhos em casa mas tenho para mim que em muitos casos não saberão ao certo como não é comparável estar tanto tempo em casa com crianças e estar com elas ao final do dia/fins-de-semana/férias. E de como é diferente estar em casa com elas a tempo inteiro ou com elas a passar algumas horas por dia nas creches/infantários/escola (esta situação é mais fácil e apelativa mas não foi a minha realidade nos primeiros anos e por isso sei bem como é diferente), ou como é diferente estar em casa a tempo inteiros nos primeiros meses do bebé ou estar em casa nos anos seguintes. Ser mãe-a-tempo inteiro (e refiro-me mesmo a tempo inteiro, sem horas onde o bebé/criança está na creche, na escola, com os avós, etc) durante anos não é fácil, tem muitas coisas boas mas não é fácil. 

- Tempo para tudo o resto: ainda me estou a adaptar. Passei os últimos anos com grande disponibilidade para tratar de alguns assuntos às horas que eu queria e isso agora deixou de acontecer. Há certos serviços que não consigo apanhar abertos durante a semana por isso só posso tratar deles ao fim-de-semana (como ir aos correios) e outros que como me demoram mais tempo também não são tão exequíveis durante a semana (como ir às compras). Também ainda estamos a tentar criar uma rotina familiar no que toca a limpezas e arrumações de forma a não gastarmos demasiado tempo nestas tarefas mas ainda há por aqui algumas falhas, até porque ainda não temos toda a casa pronta, ainda há obras e falta-nos por exemplo instalar a máquina de lavar louça que muita falta nos faz para agilizar o dia-a-dia. Sempre disse que quando ambos trabalhássemos, arranjaria maneira de ter a ajuda de uma empregada doméstica para não ter de gastar o meu tempo livre com limpezas, mas neste momento tal não é possível por isso temos mesmo de acertar na rotina. Algumas ideias? 
Lembrei-me agora de há uns tempos ter participado numa discussão num blogue sobre as arrumações sendo mãe-a-tempo-inteiro ou mãe-trabalhadora e continuo a defender a minha visão: embora haja menos tempo para limpezas/arrumações, a casa desarruma-se muito, muito menos estando a Mini-Tété na escola e nós a trabalhar. As poucas horas que passamos acordados em casa ao final do dia não se comparam com uma vivência de 24 horas por dia, com refeições a serem feitas, brincadeiras por toda a casa. Pode não ser a dinâmica familiar de toda a gente, mas cá em casa é o que sinto.

Cansaço: uma vénia a todas as mães-trabalhadoras que têm filhos que dormem mal. Eu nem digo que estou convosco ou que sei pelo que passam porque não sei e não vou estar aqui a fingir que sim. Mas gostava de saber o vosso segredo (sem ser recorrer a litros de café porque eu não bebo). A Mini-Tété foi um bebé e é uma criança que dorme bem, mas teve e tem as suas fases de más noites e eu só penso como é que vocês fazem, muitas vezes durante anos, para irem trabalhar sem adormecerem ao volante ou em cima das secretárias. Uma das grandes vantagens de ser mãe-a-tempo inteiro são as sestas. Uma vez que eu estava em casa, era eu quem ficava encarregue de me levantar a meio da noite nas fases de pior sono da Mini-Tété, mesmo que o Jack se oferecesse porque eu sabia que ele precisava de ir trabalhar daí a umas horas e eu tinha sempre a hipótese de fazer uma sesta com ela se me sentisse a desfalecer. Saber que tinha esta alternativa ajudou-me a lidar com relativa tranquilidade com algumas destas fases, mas agora basta a miúda acordar uma vez durante a noite e eu já começo a resmungar por saber que se me corta muito a noite, no dia seguinte vou ter sono e não há sesta para ninguém. E com todas as mudanças que tem havido ultimamente, a Mini-Tété já nos deu algumas noites do arco-da-velha que me fizeram concluir que quem aguenta isto durante anos deve realmente ter um segredo muito bem escondido.

Agora não me lembro de mais pontos a comparar mas se alguém quiser saber a minha opinião sobre algo específico, é só dizer. :D







5 comentários:

  1. Depende muito do tipo de pessoa que és e da mãe que consegues e queres ser.

    Eu não conseguia MESMO ser mãe a tempo inteiro. Não conseguia nem queria. Sei reconhecer que não tenho a paciência necessária e que não sou o tipo de mãe que adore brincar com o filho. Reconheço, acho uma seca! Vai daí, coitadinho do menino se tivesse de passar o dia inteiro com a mãe. O pai adora brincar, é capaz de passar uma hora inteira no parque com o pequeno, mas eu não consigo. Posso parecer fria e egoísta e, se calhar, sou-o. Mas eu adoro tratar de tudo o resto... sopas, frutas, roupa, arrumar o quarto, organizar mochilas, preparar rotinas... agora brincadeiras não são muito comigo. Acho mesmo muito positivo para o pequeno andar na creche. Ele só entrou para a creche aos 15 meses, o que em Portugal é pouco comum... por aqui, tivemos a sorte de ter avós paternos já reformados e uma tia materna em casa... Caso contrário, que remédio teria a não ser ir para a creche aos 6 meses!!

    Mas concordo, ser mãe trabalhadora com noites más de sono é terrível. O meu pequeno esteve doente quase três semanas seguidas, com intervalo de dois dias... ai Jesus, é um terror. Agora já está bom, mas está com 'excesso de mimo' e a dar noites do além... e ontem, pela primeira vez em 9 anos, desde que comecei a trabalha, adormeci. Acordei a 15 minutos do horário de entrada. Fiquei em choque por ter adormecido, mas é a consequência de cansaço extremo, com noites em que dormimos 2 ou 3 horas.

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    1. Claro que depende muito do tipo de pessoa e mãe que se é. O não conseguir mesmo ser mãe a tempo inteiro faz-me lembrar quem me dizia que nunca conseguiria ter uma relação à distância...Quando gostas mesmo dessa pessoa, quando planeiam um futuro juntos, quando ambos querem lutar por aquela relação, e essa pessoa tem de se ausentar uns meses/anos, não consigo acreditar que alguém desistisse de tudo assim de repente. E nisto de ser mãe é o mesmo: se agora te visses desempregada, sem conseguir trabalho, sem conseguir pagar a creche do Rafael e sem teres familiares que ficassem com ele, fazias o quê? :) Compreendo a 100% se disseres que não serias a mãe que gostarias se ficasses em casa com ele a tempo inteiro, que assim és melhor mãe, que assim te sentes mais feliz e que isso faz de ti também uma mãe mais feliz e melhor. Isso percebo porque eu também sempre disse (e continuo a dizer) que não tenho feitio para ser mãe a tempo inteiro. E tanto não tenho feitio que penso muitas vezes como farei se um dia tiver um segundo filho porque acho demasiado cedo entregá-lo aos cuidados de um estranho com poucos meses de vida mas não me vejo de todo a ficar novamente 3 anos em casa.

      E acredito também que haja mães que seriam profundamente felizes e sentir-se-iam infinitamente melhores mães se ficassem em casa com os seus bebés e crianças (porque elas existem) mas admito que sou muito céptica numa primeira reacção quando oiço uma mulher dizer que gostava de ficar em casa com os filhos porque geralmente também as oiço dar graças a Deus porque as férias estarem a acabar e os filhos voltarem à escola. :P

      Eu também gosto da organização e preparação de rotinas. Quanto às brincadeiras, depende quais são as brincadeiras e qual a idade. :D Tenho noção que já brinquei a coisas com a Mini-Tété para as quais agora já não tenho qualquer paciência.
      Mas o estar a tratar de coisas dela e para ela, embora goste, não me faz sentir completamente bem enquanto mãe e noto isso quando ela tem férias e eu estou a trabalhar (sim, porque eu estou a trabalhar há 3 meses e a pequena já teve duas vezes férias de 15 dias...), porque a logística desses dias implica chegar mais tarde a casa, tratar do que há tratar e praticamente não haver tempo de brincadeira, e aí sinto falta de estar verdadeiramente com ela, de lhe dar atenção, de me concentrar nela. Incluo-a naquilo que estou a fazer mas nem sempre sinto que chega porque, para mim, os filhos precisam de brincar com os pais, ter a atenção deles, tê-los só para eles um bocado. Mas é como dizes, cada uma de nós tem a sua ideia da mãe que quer ser e que consegue ser e não há qualquer problema nisso. :)

      Ahahahahah, se eu dormisse apenas duas noites de apenas 2 ou 3h, não só adormecia de manhã como o mais certo era adormecer ao volante e ter um acidente, por isso é que digo que não sei mesmo como é que aguentam semanas, meses, anos a dormir mal. Provavelmente é mais uma daquelas situações que falei em cima (do género " se me visse nessa situação, que remédio teria eu...") mas sabendo como uma noite mal-dormida me deixa, duvido muito da minha capacidade de me aguentar. Acho que por muito boa vontade que tivesse, o meu corpo cederia.

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  2. Tete!! Que bom que surgiu a oportunidade de trabalho. Estou muito contente por ti!

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    1. Obrigada Raven. E tenho lido os teus posts sobre o México. Espero que continue tudo a correr bem. :)

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  3. Eu sou mãe de 3 e adorava ser mãe a tempo inteiro. A falta de tempo que tenho atualmente, estando a trabalhar, leva-me muitas vezes à frustração por não ter a paciência que deveria ter com eles, por não conseguir ter a casa arrumada como gostaria, por andar sempre aborrecida...enfim. Eles crescem rápido e sinto que esta falta de tempo, está a levar-me a perder momentos inesquecíveis e só de pensar nisso, fico deprimida. Mas a vida é assim, o dinheiro não cai do céu, as contas para pagar estão lá mensalmente e têm que ser pagas...

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