20.1.14

Tragédia no Meco

É verdade que a tragédia no Meco traz consigo arrastado um mistério muito grande. Não me vou pronunciar muito acerca da hipótese de que todos eles estavam na praia àquela hora, em pleno Inverno, devido a uma praxe. Acho que já por aqui expressei a minha opinião sobre as praxes: não gosto e vou continuar a não gostar enquanto houver quem as utilize para humilhar os outros e para se vingar das praxes contra si cometidas.  Teorias de que ninguém é obrigado a frequentar uma praxe também não me caiem bem porque acaba por haver uma certa pressão psicológica para que nos sujeitemos a elas. Nisto tudo o que acho mais estranho (e errado) é o único sobrevivente não dizer uma única palavra e aí compreendo bem a decisão dos pais das vítimas ao processarem o rapaz. Entendo que o façam para o pressionar a falar e não porque acham que ele é culpado. Nada se sabe sobre o que se passou e é, para mim, compreensível que aqueles pais queiram saber porque razão estavam ali os filhos, porque razão estavam tão perto do mar ou mesmo porque entraram lá dentro. Porque razão estavam os telemóveis em casa, porque razão levava o sobrevivente o seu telemóvel e uma mochila, porque razão se salvou ele. Eu não sou o tipo de filha que conta tudo aos pais, mas sempre percebi a minha mãe quando me pedia para apenas lhe dizer onde ia quando saía. Sempre achei que se acontecesse alguma coisa em Aveiro, por exemplo, quando era suposto eu estar em Coimbra, os meus pais não só teriam de lidar com a perda como ainda por cima teriam de lidar com uma série de interrogações: o que estava ali eu a fazer? Porque teria ido até ali? Por isso ainda hoje, se os planos são normais (cinema, jantar, estar com amigos), não sinto necessidade de contar, mas por exemplo não me meti a caminho do Luxemburgo sem lhes dizer. Porque para eles não faria qualquer sentido estar ali, caso algo me acontecesse. Eu entendo que o sobrevivente esteja em choque, entendo que não deve ser fácil sentir que todos morreram menos ele (mesmo que a culpa não tenha sido dele, sente-se muitas vezes a "culpa de ter sobrevivido"), entendo que não deve ser fácil falar do que aconteceu com medo de ser julgado, e pior ainda se ele teve de alguma forma culpa (não percebo muito bem como), mais lhe deve custar. Mas na verdade não interessa muito o que os outros vão falar dele, o que vão pensar dele, importa sim reduzir as interrogações na cabeça daqueles pais que já perderam os filhos. Para quê manter este sofrimento (de não saber o que aconteceu) por mais tempo?

2 comentários:

  1. Li algures que o rapaz já se tentou suicidar, que a familia teve de mudar de casa, que recebeu ameaças por parte de gente da faculdade amigos dos que morreram, porque o culpam, e que ele falou o que conseguiu na altura à policia.
    Eu se fosse comigo, acho que também não conseguia falar, nem quereria ver ninguem.

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  2. Anónimo das 02:13

    Eu entendo isso perfeitamente. Nestas coisas há sempre alguém sem juízo que acha que ameaçando e tornando-lhe a vida um inferno é que vai resolver as coisas. E também acho que o rapaz nem sequer tem de vir a público dar uma justificação que seja, nada de jornalistas, nada de multidões, nada de nada, porque nós somos apenas curiosos e nada temos que saber em relação ao que aconteceu. Mas podia escrever uma carta, contar aos pais ou à polícia, e estes encarregar-se-iam de ir falar com os pais das vítimas.

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Digam-me coisas. :)