9.6.15

Como irritar uma grávida

Uma gravidez vivida em França é diferente de uma gravidez vivida em Portugal, não apenas porque alguns procedimentos são diferentes mas também porque a nível administrativo as coisas parecem sempre muito complicadas (já vos contei o quanto os franceses adoram papéis?). Não ajuda também o facto de não fazer ideia de como as coisas se processam e por isso dificilmente consigo estar a par de tudo ou antecipar o próximo passo. Aqui admito que em Portugal era capaz de sentir a mesma coisa, visto ser a primeira gravidez e haver um comportamento generalizado por parte dos serviços de achar que uma pessoa já nasce ensinada e que sabe automaticamente o que tem de fazer e onde se dirigir. É então complicado saber cada passo que devemos dar se ninguém nos informar e acabamos por ficar sempre com a ideia que já devíamos ter tratado de alguma coisa, sentimento este que aumenta quando vivemos num país em que parece que há coisas que devíamos fazer ainda antes de descobrirmos que estamos grávidas (o que não deixa de ser irónico porque para muitas outras coisas parece que só estamos grávidas quando faltarem poucos dias para parir. Exemplo: nas urgências do hospital só sou vista por um obstetra a partir das 22 semanas; até lá sou vista por uma ginecologista). Aqui, só podemos declarar a gravidez à Segurança Social e a outros serviços após a ecografia das 12 semanas (cerca de 3 meses), o que implica que antes disso não sejamos consideradas grávidas para muita coisa. Pouco depois, tentei fazer a inscrição no hospital onde queria fazer o parto (atenção que esta inscrição é apenas para o parto e para 3 consultas pré-parto, mas não para passar a ser lá seguida) e já não havia vagas. Tive sorte e ainda consegui inscrever-me quando a lista foi actualizada. De seguida, era preciso marcar consulta para o 7º mês de gravidez (algures ali por Agosto) e para isso tive de ligar em Maio. Ah, mas que tolice, liguei a meio do mês e já não havia vaga para mim. Tinha de ligar logo no primeiro dia de Maio, antes que a agenda fiquei completa. Entretanto, no primeiro dia de Junho já consegui marcar a consulta do 8º mês (ufa) e aproveitei também para marcar a consulta com o anestesista, que terá também de ocorrer no 8º mês. A semana passada decidi inscrever-me nas aulas de preparação para o parto. Estou de 4 meses, achei que ainda tinha tempo. Errado. Fui logo chamada à atenção que para estas aulas deveria inscrever-me mal saiba que estou grávida. Ainda assim, acho (!!!) que consegui inscrever-me. Saberei quando lá aparecer para a primeira aula: ou me deixam entrar ou me barram a passagem. E é isto e eu começo a ficar um bocadinho farta de quando tento fazer as coisas parecer que estou sempre atrasada, mesmo quando até acho que as estou a fazer dentro do prazo. E não deixo de pensar que amanhã vou descobrir que tenho de marcar mais uma consulta (e tenho, dia 1 de Julho, tenho de marcar a consulta do 9º mês em Outubro) ou inscrever-me em mais não sei o quê, e que vou ter de ouvir "Ahhhh, mas olhe que para isso já devia ter ligado mal soube que estava grávida...." (e querem que eu saiba como????).

8 comentários:

  1. Em França os médicos ginecologistas não são também obstetras? (em Portugal são, podem é dedicar-se mais a uma área ou outra...)

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  2. NSP

    Não, que eu saiba não. Tens os ginecologistas e tens os ginecologistas-obstetras (da mesma forma que tens em Portugal, penso). Os ginecologistas podem seguir nos primeiros meses de gravidez mas nunca farão o parto. E depois há ainda as "sage-femme", que podem fazer o parte e chamam o ginecologista-obstetra só em casa de problema.

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  3. Chiça... haja paciência pra isso tudo!

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  4. Realmente quando estive grávida da minha filha à 11 anos atrás, aqui em Portugal, foi tudo muito simples. O médico foi sempre o mesmo, só no dia da cesariana conheci o anestesista, tudo sem stress.
    Quanto às aulas de preparação para o parto, só fiz nos últimos 2 meses. Nem foi preciso inscrever-me com antecedência.
    Olha, nem vale a pena ficares incomodada, pensa no teu bebé : )
    F.

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  5. F.

    Filha de 11 anos? :) É engraçado que não a conhecendo de lado nenhum achei, sabe-se lá porquê, que teria cerca de 25 anos. Ou foi mãe muito novinha ou o meu sexto sentido mantém-se avariado como sempre. =P

    Eu tenho uma amiga que está grávida em Portugal e por isso vou comparando com ela e sem qualquer dúvida que a parte administrativa é bem mais simples. Aqui, logo para começar a papelada, o médico dá-nos 3 cópias de uma declaração de gravidez. Duas temos de enviar para a Segurança Social e a outra para o Serviço que trata dos abonos, subsídios, etc (ou ao contrário, já nem sei). E depois começamos a receber cartas e pedidos de papeladas destes dois serviços. Ainda hoje tive de mandar o contrato de trabalho do Jack e a última folha do seu salário, assim como um atestado de como tenho segurança social...
    E eu estou a ter muita sorte, já que em grande parte dos casos estes papéis se perdem, dossiers inteiros desaparecem e as pessoas andam às aranhas a tentar perceber o que falta, porque não respondem, o que fazer a seguir....

    Não entro em stress, mas cansa estar a tentar estar sempre em cima do acontecimento mas ter constantemente a sensação de que estamos atrasados ou que falta sempre qualquer coisa. :)

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  6. Tété tenho 43 anos... mas de espírito sou uma miúda! heheh ; )
    Em França os apoios às famílias, especialmente às mães estão a anos luz dos portugueses.
    Espírito positivo e muita paciência para essas burocracias.
    Bjs
    F.

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  7. F.

    Espero que não tenha levado a mal o meu comentário sobre a idade. :) Mas não deixa de ser engraçado aperceber-me que apenas por algumas palavras trocadas, não deixei de fazer uma imagem mental de uma comentadora (falhando vergonhosamente mas é verdade que o meu instinto está geralmente errado :D ). Nem tinha noção que o fazia. :)

    Sim, é verdade, aqui há mais apoios às famílias (sendo esta uma das grandes razões pelas quais os franceses não morrem de amores pelos estrangeiros já que muitos chegam aqui, nunca trabalham, têm filhos como coelhos e passam a viver destes apoios) mas por outro lado aqui não há a isenção a 100% que há em Portugal a partir do momento que se descobre que se está grávida. É apenas a partir do 7º mês, se não me engano. :)
    Lá está, há diferenças. Nalgumas coisas são melhores, noutras piores. :) E se há coisinha em que são mesmo maus é o facto de serem tão burocratas.

    Espírito positivo tenho. Não tenho é paciência, ahahah. =P

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Digam-me coisas. :)