12.7.15

A tortura

Passei mal a noite e só dormi duas horas tal era o estado de nervos em que me encontrava. Às 8h da manhã lá estávamos nós, comigo munida do meu saquinho de 75 g de açúcar em pó a ouvir que ficaríamos lá 3 horas em vez de 2h. Eu já tinha ouvido isto quando lá tinha ido marcar o exame mas nem assim se fez o "click" na minha cabeça de que então algo seria diferente. Eu sei que o exame é suposto demorar 2 horas a fazer (tirar sangue em jejum, beber a bebida açucarada, tirar sangue após 1 hora da primeira picada, tirar sangue após 2 horas da primeira picada) e achei que as 3 horas de que me falavam implicava simplesmente que haveria atrasos, que poderiam querer que eu ficasse um pouco mais no laboratório após a segunda picada, eu sei lá, o que sei é que não liguei nenhuma à mudança de planos.

Às 8h30 chamaram-me então para a primeira análise, eu em jejum há mais de 12 horas, morta de fome, a querer desesperadamente comer a minha tigela de Chocapic com leite frio. A rapariga que me atendeu era extremamente simpática e com algum sentido de humor, o que ajuda sempre nestas coisas. E no meio das brincadeiras sobre a tortura que me faria passar, que entre isto e o parto sabe-se lá o que é pior, etc, percebi que me estava a dizer que me tiraria sangue mais do que 3 vezes. Olhei para os tubos e contei quatro pelo que comentei "Ah, vai tirar sangue 4 vezes, é isso?". Resposta dela "Não, sete vezes.". O quêêêêêêêêêê???? Como assim, sete vezes???? Ah pois é, decidiram que faria a famosa curva da glicémia durante três horas, com picada a cada meia-hora. E sem comer nem beber nada. Nem água? Não, nem um golo de água poderia beber. Eu já sou branca, mas acho que ali fiquei sem cor. Beber a bebida horrorosa, ser picada sete vezes e não poder beber água durante 3 horas para combater o enjoo já era demais para o meu coração. 

A bebida, ora pois, a bebida. Água com açúcar não é para mim e a minha reticência em bebê-la era tão grande que a rapariga preferiu dar-me um saquinho para ter comigo caso o meu estômago decidisse fazer-me uma partida. Encheu meio copo grande com água, dissolveu o açúcar, deu-me uma colher para misturar e deixou-me sozinha para beber aquilo, aconselhando-me a ir mexendo com a colher para o açúcar não depositar todo no fundo. Tentei beber aquilo tudo de uma só vez mas nem consegui. O açúcar era tanto que eu conseguia mastigá-lo e bastava um golo para ficar com a boca cheia de açúcar. Lá despachei o copo, juntei mais água para dissolver o que ainda tinha ficado no fundo do copo e para empurrar o açúcar colado aos dentes, ao céu da boca, etc, e fui reencaminhada para a sala de espera com ar de quem tinha sido condenada à forca.

Bom, a boa notícia é que não me senti tão mal como receava. Fiquei enjoada, a sentir-me como se estivesse num barco, com uma dificuldade enorme em me concentrar no que quer que fosse e com o coração a 120 ppm. E o Jack foi precioso nesta primeira hora porque me distraiu, me fez rir, me fez falar de livros, mesmo que a conversa fosse pautada por segundos de silêncio por eu perder o fio à meada. Parecendo que não, o facto de, de meia em meia-hora, ter de me levantar para ir tirar sangue também ajudou o tempo a passar.

As minhas veias são boas e a rapariga estava encantada mas nem isso me impediu de levar mais duas picadas extra no braço direito quando a veia decidiu que já não queria voltar a dar sangue uma quarta vez. Passou-se então para o lado esquerdo, o qual para a última análise também já não quis cooperar e foi assim necessário tirar sangue do pulso. Nem vos digo como tenho os braços: um hematoma gigante no direito, dois no esquerdo e um no pulso. 

Depois da última análise, peguei nas minhas coisinhas e só queria fugir dali, obrigando a rapariga a chamar-me para me dar o papel com o qual levantaria os resultados. Almoçámos, o Jack foi trabalhar e eu dormi uma sesta. Não sei se foram efeitos secundários do exame ou se foi de todo o stress (é o mais provável) mas passei o resto da tarde cheia de dores de cabeça e muito mal-disposta. Quando chegou a hora de ir buscar o resultado dos exames, saí toda apressada e ...ups, o Jack tinha levado o carro. Burros, tínhamos falado sobre isso mas nenhum de nós se lembrou que eu precisaria dele para voltar ao laboratório. Mandei mensagem ao Jack, a gozar connosco e dizendo que lá teríamos de esperar por segunda-feira para saber como se andava a portar o meu corpo em relação ao açúcar. Mas o Jack, que estava na estrada naquele momento, ligou-me e decidiu fazer um desvio para me apanhar. Dizia ele que nem pensar em ter estado 3 horas naquele exame e ainda ter de esperar dias pelo resultado. Lá fui buscá-lo e ainda não tinha saído do laboratório e já estava a abrir o envelope. E tcharã, tenho os valores dentro do esperado e nada altos, por sinal. Yeah, nada de diabetes! Até sinto que perdi cinco quilos ao ver os resultados. Não estava nada preparada para andar a picar o dedo e a controlar os níveis, sei que se me mandassem fazê-lo, eu faria, mas psicologicamente seria muito difícil. Por isso agora é esperar que a médica não decida avariar e veja que não preciso de andar a controlar nada.

A única coisa é que estou com uma ligeira anemia, o que já fez o Jack e a minha mãe darem-me na cabeça, mas não estou preocupada. Veremos o que a médica dirá. :)

4 comentários:

  1. Ainda bem que já passou, já está :-) nem me imagino a fazer um exame desses, mas um dia terá que ser.

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  2. Cat

    Este era o exame que sempre me fez recear ficar grávida um dia (e o parto, vá). Não me imaginava a beber algo tão doce e muito menos a ser picada tanta vez (e eu achava que era só 3 vezes como normalmente é). Mas a questão é...não dá para escapar. E estando em Portugal muito menos porque penso que o exame é obrigatório, mesmo que não pertenças a um grupo de risco. =P
    Por isso, poderás fazer fita, poderás nadar agoniada a semana anterior como eu andei, poderás ler todos os testemunhos que encontrares como eu fiz, poderás procurar todas as dicas que possam ajudar a superar isto, poderás não dormir como me aconteceu e até poderás fazer beicinho à enfermeira, mas a verdade é que te vão picar e te vão dar a beber o raio da bebida (que em Portugal ao que parece até tem sabor a limão ou a laranja. No meu caso era mesmo água com açúcar e pronto =P). Não há mesmo forma de escapar. =P

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  3. estar grávida é fazer mil e um exames; a minha irmã 'adora' agulhas, e não estava muito preeparada para tanta picadela ao longo de 9 meses (foram só 8, mas pronto). agora para o segundo já ia mentalizada.
    ainda bem que as coisas têm corrido bem; sei que não tenho aparecido, mas é bom vir e ver que vai, dentro dos possíveis com os hematomas, sendo uma gravidez sem percalços :)

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  4. Ariadne

    Também estou em falta. Tenho acompanhado os posts sobre a mudança de casa e a falta de tempo consequente e já por duas ou três vezes que fiquei de ir comentar e depois nunca fui. Olha, vai já e pronto. :)

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Digam-me coisas. :)