12.12.18

Coração de mãe apertadinho

Há umas semanas uma amiga perguntava-me se ao fim de alguns anos, o controlo reforçado de segurança na entrada de certos espaços se tornava algo normal para nós. Respondi-lhe que não. Pelo menos para mim, ainda que já quase tenha o reflexo de abrir a carteira e a mostrar quando entro num centro comercial ou num hospital. Continuo a estranhar, continua-me a fazer confusão, continuo a não gostar de ser relembrada da razão pela qual estas medidas são necessárias.
No início do ano lectivo, tivemos uma reunião de pais na escola da Mini-Tété onde, entre outras coisas, se falou de alguns exercícios de segurança que iriam ser feitos. Pensei logo: ensinar as crianças sobre o que devem fazer em caso de incêndio e terramoto. Falhei por pouco. Um dos simulacros é de facto o que devem fazer em caso de incêndio, o outro é o que devem fazer em caso de invasão/atentado à escola.
Fiquei estarrecida. 
Foi-nos explicado que dada a idade das crianças, não lhes é verdadeiramente dito o sentido do exercício mas que lhes é na mesma ensinado o que devem fazer através de um jogo. Custou na mesma ouvir. A Mini-Tété entrava na altura na escola com 2 anos e a última coisa que uma mãe quer ouvir é que vai ser treinada para a eventualidade de um intruso invadir a escola. Tenho acompanhado mais ou menos o exercício que têm feito, muito à base da história dos 3 porquinhos, em que ensinam as crianças a esconderem-se do lobo, colocando-se debaixo das mesas e não fazendo barulho. Num dos e-mails com fotografias semanais das actividades escolares, lá estão estão elas escondidas debaixo das mesas. Um murro no estômago. Acredito que não fará confusão a todos os pais, se calhar até mesmo à maior parte, mas a mim faz. Esta semana, fomos avisados que se vai realizar o exercício final, uma vez que dado o "contexto actual de uma ameaça terrorista persistente, convém assegurar que cada um desenvolve reflexos específicos à situação de invasão no estabelecimento de pessoas exteriores com o objectivo de cometer um acto terrorista", e que devemos sensibilizar as crianças para que tentem cumprir o exercício eficazmente.
A Mini-Tété tem 3 anos e anda a aprender a reagir em caso de atentado. E eu só penso que raio de mundo é este em que a tive. Preferia que aprendesse o que fazer em caso de terramoto...

12 comentários:

  1. Tivemos mesmo azar com a época em que vivemos. Mundo assustador.

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  2. Tété, eu fico com vontade de chorar quando penso nestas questoes. é muito assustador. Custa-me muito pensar que coloquei um Ser Humano num Mundo assim. Que se o seu futuro tiver muitos obstáculos e dias maus e assustadores que fui eu a responsável por ele estar aqui neste mundo de Loucos. Doi muito. E nos também vivemos em França, mas há imensa coisa que me assusta no Mundo depois que me tornei mae.

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    1. Sim, parece que abrimos os olhos aos perigos do mundo quando eles nascem. :)

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  3. Pensar muito nisso também me assusta. Saber que os meus filhos estão neste mundo onde coisas assim acontecem. Só me dá vontade de agarrar neles e não largar mais, para os proteger de tudo...

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  4. UAU! Efetivamente é um murro no estômago...
    Confesso que já me habituei à questão de mostrar a carteira ou abrir o casaco, já não me faz confusão e compreendo.

    Beijinho e força aí :)

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    1. Eu também compreendo (aliás, fiquei furiosa quando me apercebi de uma falha no sistema de segurança da Disney, que entretanto corrigiram, exactamente por compreender a importância) mas faz-me confusão na mesma por saber qual a necessidade desta segurança toda. É o mesmo que a escola da Mini-Tété: a probabilidade de um atentado à escola dela é mínima, acredito que os terroristas nem sequer saibam que existe ali uma terra perdida no meio do campo, mas faz-me impressão saber a razão porque ela está a aprender como reagir em caso de atentado. Não deixa de ser uma ameaça provável a acontecer um dia nalguma escola e é complicado lidar com isto. :) Talvez o facto de quando vim para cá não haver nada disto e depois de Novembro de 2015 ter assistido à mudança, me faça reparar mais. :)

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  5. E eu depois de ler este texto também fiquei de coração apertadinho, ainda que nem filhos tenha!
    Compreendo perfeitamente essa sensação de murro no estômago de ver crianças tão pequeninas a aprenderem a se "defender" em situações tão graves (E tão reais) do mundo atual.
    Que mundo é este em que vivemos? Tão cruel, e cheio de radicalismos e demonstrações de força!
    https://jusajublog.blogspot.com/

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    1. Sim, a mim custou-me ver a fotografia (e nem aparecia a Mini-Tété, se aparecesse pior seria) porque não é mesmo suposto ensinarmos isto às crianças. Porque elas podem e devem aprender a brincar às escondidas. Mas esconderem-se de um terrorista? mas alguma vez alguém tem filhos a pensar nisto? Eu sei que a probabilidade de isto se tornar real na escola da Mini-Tété é baixíssima mas não consigo deixar de pensar que há escolas com muito maior probabilidade de isto vir a acontecer e que haverá crianças que vão mesmo ter de pôr isto em prática. E isso revolta-me tanto...

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  6. faz confusão. estava em paris quando foi o charlie habdo. vivia a periferia e apanhava o comboio todos os dias e vi assisti a muitos "controlos de identidade" e a pessoas a serem levadas por nao terem documentos. mas olha,ao menos estão a prepara-los para uma realidade que pode efectivamente acontecer. e tens de encarar isso como sendo algo que os vai ajudar a "sobreviver", manter o sangue frio e ter calma.
    força :)
    TheNotSoGirlyGirl // Instagram // Facebook

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  7. Vivo em Londres e por ca ensinamos o mesmo nas escolas. Triste viver num mundo assim.

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Digam-me coisas. :)