23.1.19

Não me volto a meter numa destas!

O dia até tinha começado a correr bem e enquanto a Mini-Tété estava na escola, reparei que estava a começar a nevar. Fiquei contente porque a pequenina andava cheia de vontade de ver neve e desejei que ainda nevasse quando a fosse buscar para podermos apreciar juntas esse fenómeno. Mas eu já devia saber, quantas vezes é que eu já aqui escrevi que o São Pedro não gosta de mim, quantas, quantas? Se peço sol, manda chuva, se penduro a roupa, chove no minuto seguinte, se peço um pouco de neve, manda-me uma tempestade dela. Não o suporto.
Saí de casa, contentinha da minha vida, a ver a neve e a pensar que a Mini-Tété devia estar a delirar, e mal entro na estrada, o carro foge do meu controlo e vai de descer rua abaixo aos S, comigo completamente em pânico, a pensar que só poderia acontecer uma de três coisas: ou me enterrava numa valeta, ou me espetava contra uma árvore ou entrava a direito pelo campo de vacas que existe ao fundo da rua e ainda acabava com uma sentada no banco do passageiro. Sem saber muito bem como, não aconteceu nada disto e ao fim de umas centenas de metros sempre a deslizar lá controlei minimamente o carro e fui buscar a Mini-Tété. Claro que cheguei à escola num estado de nervos que nem vos conto, ao telefone com o Jack a tentar saber o que fazer da minha vida porque voltar pela mesma estrada seria um suicídio certo. Apanho a miúda e num momento claro de loucura decido apanhar outra estrada, contornando e esquivando-me de carros bloqueados e que deslizavam estrada fora. E o que é que aconteceu, o que foi, o que foi? Pois, o meu carro bloqueou também. Mas não bloqueou num sítio qualquer, não, isso teria sido simples, bloqueou atravessado numa curva apertada numa estrada bem inclinada sem qualquer visibilidade para os carros que desciam. Não vale a pena esconder que aqui os meus nervos já estavam tão picadinhos que duvido que algum dia se restabeleçam e que quase entrei em histeria quando de repente um camião enorme surge a descer na curva. Isto com o Jack sempre em alta voz, coitado, a tentar dar indicações às cegas à mulher que não foi propriamente abençoada com um grande jeito ao volante em situações extremas. Oh, e como nevava, raios partam o São Pedro!
Lá consegui fazer inversão de marcha e fui estacionar o carro na terra da escola da Mini-Tété, que é uma terra pequena sem grandes serviços. Procurei o café/restaurante para poder dar comida à Mini-Tété mas a cozinheira tinha ido embora com a neve e não tinham mais nada para servir, nem pão. Encontrei a padaria e tive a sorte de comprar a última baguette. Vi passar o limpa-neves duas vezes mas a estrada voltava a ficar coberta ao fim de uns minutos pelo que voltar a pegar no carro estava fora de questão. Esperar no carro que a neve acalmasse não me seduzia porque não estava previsto que a neve abrandasse e passar horas num carro com uma miúda de 3 anos, sem ter a certeza que conseguiria regressar a casa a conduzir ou que o Jack conseguisse chegar até mim não me estava a convencer. Por isso, peguei na mochila com uma muda de roupa da Mini-Tété, no resto do pão, uma manta e expliquei à Mini-Tété que teríamos de ir a pé para casa. E foi aqui que a minha pequenina, corajosa até então, quebrou. A fome, o frio, o sono e o cansaço de andarmos na neve de um lado para o outro foram demais para ela e só eu sei o que me custou fazer os poucos quilómetros no meio da neve, com os óculos sempre molhados, com ela ao colo a cantar-lhe músicas, a tentar distraí-la e a prometer que hoje veria os desenhos animados todos que quisesse e comeria todo o pão com nutella que quisesse (e foi realmente o almoço dela que isto um dia não são dias), a gerir o cansaço das duas, o medo que ela estava a sentir e o meu receio que algum carro deslizasse para cima de nós ou que escorregássemos e nos magoássemos. A certa altura, parou uma senhora ao pé de nós que me perguntou se queríamos boleia e eu nem pensei duas vezes. Eu, que sou a stressadinha com a segurança da Mini-Tété dentro do carro, atirei com a miúda para dentro do carro de uma desconhecida, sem cinto de segurança, sem cadeira, nada. Infelizmente, dado o estado da estrada, a boleia só durou uns metros mas ajudou a descansar um pouco.
Eu sei que para quem vive em terras onde neva todos os anos, deve estar mais do que habituado a estas coisas e tudo isto deve parecer quase corriqueiro (estou aqui a pensar numa amiga que vive na Guarda, por exemplo), mas eu não fui feita para isto e tenho mesmo a certeza que se estivesse sozinha não teria sido tão difícil como foi por ter a minha pequenina comigo. Isto de sermos mães tem muitas coisas boas, mas durante aquelas duas horas que passaram até chegarmos a casa (geralmente demoramos 5-10 minutos de carro), com o carro a patinar, bloqueado, procurar comida para ela e depois a viagem a pé, acho que o meu coração parou com medo de um acidente que a magoasse.
Enfim, primeiro dia de neve do ano e eu já não a posso ver à frente. E não me voltam a apanhar numa destas porque a partir de agora mal veja um flocozinho de neve que seja, envio logo um e-mail à escola a dizer que não estão reunidas as condições necessários para levar a Mini-Tété. Até podem fazer 30°C logo a seguir, com um sol maravilhoso, que a mim ninguém me arranca de casa.
A única parte boa de tudo isto (para além de chegarmos vivas a casa e com as duas perninhas inteiras) é que ainda tirei umas fotografias.


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6 comentários:

  1. Imagino que tenha sido complicado gerir tudo (carro, miúda, nervos)! Mas fica a história para contar e o exemplo para não repetir!
    https://jusajublog.blogspot.com/

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    1. Não mesmo, agora ao mínimo floco de neve tranco-me em casa. :P

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  2. Oh Tete, eu acho que foste muito corajosa! Eu conheço-me bem e tinha quebrado bem antes da mini - Teté. Acho que já chegaria à escola da mini- Teté a chorar. Sou uma chorona e muito stressada. Acho que o meu coração não aguentava um dia assim. Fiquei com o coração apertadinho so de ler o texto. Que sufoco!! E eu odeio conduzir, mesmo sem neve! 😔 Um abraço virtual apertadinho.

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    1. Oh, mas eu chorei quando cheguei à escola. ;) Os nervos e o medo também me deram para isso. Depois lá limpei as lágrimas e fui buscar a pequenina, que remédio. :)

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